Era sempre uma tranquilidade quando tínhamos o Mauro Vieira como dupla de foto na reportagem. Não tinha ruim pra ele. Um cara que equilibrava força e leveza; alegria e seriedade; profissionalismo e amizade. Um colega agradável, que transmitia confiança pra toda a equipe. Acima de tudo, um olhar curioso, atento e sensível.
Lá por agosto de 2008, estávamos há uns três dias na estrada, reporteando sobre a revolução do eucalipto nos campos do Rio Grande. Exaustos, assinamos o checkin às 19h no confortável Hotel São João Palace em Santiago do Boqueirão. Não baixamos mala, nem nada, reingressamos no auto e andamos mais 70kms em sentido contrário ao destino final, por asfalto ruim e estrada de chão. Trocamos os lençóis engomados da sofisticada hotelaria missioneira pelas rústicas camas da Fazenda do Perpétuo Socorro, na Cândida Vargas.
Porque, pro Mauro, e pra equipe que ao fim e ao passo ele comandava, jantar uma paleta de ovelha texel assada na brasa, mirar as estrelas sem a interferência das luzes da cidade, ver o amanhecer no campo e sentir o minuano no lombo valiam muito mais do que duas horas extras de estrada.
A horinha que passamos na fazenda ainda em meio ao nascer bastou pra ele fazer estas fotos que ninguém pediu, ninguém mandou, ninguém pautou. Só porque era fotógrafo e trabalhava com o que amava (na mesma trip, ele fez o mesmo em um esquecido cemitério de Campanha em São Gabriel).
Regressando à Capital, ainda paramos no São João só para assinar o checkout do hotel como se de fato tivéssemos usado - afinal, ninguém queria ficar dando explicação pro ADM. O que importava e sempre importaria pro Mauro eram as histórias e as imagens.
RIP, @mvieirafoto
Mauro Vieira era fotógrafo, trabalhou no Jornal Zero Hora por anos, faleceu em 12 de setembro de 2024.
PS: poucos dias depois da reportagem, a iniciada revolução do eucalipto nos campos do RS foi sufocada pelos desdobramentos da crise internacional que quebrou as papeleiras, desprotegidas do baque da desvalorização do real. A linda matéria que fizemos virou pó na história, afinal, não previmos (como ningém, aliás), o colapso das empresas e projetos de celulose gaúchos.