domingo, julho 06, 2025

Insetos

Faz 423 dias. Em todos, todinhos, em alguma hora, eu pensei: "não, não, não, não pode ser, minha família, a coisa mais importante, como?, como?, não acredito, como pode ser?". É um pensamento intrusivo, aparece sem avisar hora, lugar ou circunstância. Até sem gatilho algum. Mas quase sempre preciso fazer força pra que passe. Esquece! Pensa em outra coisa! Sacode a cabeça! Passa, deixa passar. E passa... Até reparecer daqui a pouco ou no outro dia. Às vezes é o ferrão de um marimbondo, às vezes a picada de um mosquito, muitas vezes o zumbido de uma mosca, até em forma de inofensiva mariposa que passa, e a gente nem dá bola, ele vem. Mas sempre volta. E sabe o quê? Dizem que é assim. Que leva anos. Dizem até que jamais passa. Já pensou? Nunca, nunquinha. E quanto mais tempo se vai, maior a certeza de que é irremediável, o primeiro ataque do enxame deixou uma cicatriz pra sempre. E fazer o que com esse sentimento? Se o pensamento vem, e só o que se faz é substituir por outro, empurrando-o pra dentro do saco de novo, ele vai estar sempre aqui, prontinho pra reaparecer. Amanhã. Depois. Depois. E depois...

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E sabe o que mais? Isso não tem nada a ver com os afetos e amores que construímos depois. Nada, nadinha. Um amor, quem sabe até uma paixão, por gigante que seja, não abre o saco e tira lá de dentro o pensamento - a tua família não existe mais, aquela familia não existe mais, nunca mais vai existir, e isso vai vir, nem que seja sempre como uma mariposa. Que nunca vai virar borboleta, me disseram...