domingo, abril 11, 2004

Graças a Deus, terminou aquele calor maldito. Ontem fez frio, choveu, e hoje, apesar do clima abafado, sem vento algum, havia nuvens no céu. Talvez quem mora longe - Tica, Dinho, Marta, Lúcia, Camila... - não saiba, mas a seca estava tornando angustiante viver por aqui. Ela se fazia perceber até na cidade. O céu de um azul interminável, dias e dias sem sinal algum de nuvens, um troço realmente inquietante. De legal, só o Guaíba que está verde - até parece limpo. A Tica disse que ninguém tinha avisado Bruxelas que o inverno havia terminado; por aqui, não tinham contado para Porto Alegre que já é outono. Os dias de verão estavam se tornando insuportáveis. Aliás, verão é insuportável. Em Madame Bovary, tem uma passagem que diz que a extensão de dias bonitos torna o campo mais enfadonho no verão do que no inverno. Isso me faz lembrar aquelas semanas de janeiro que minha família costuma passar na fazenda. Um céu azul de cansar a vista, as árvores imóveis, o mundo parado, os cuscos refestelados na laje do galpão, nem os passarinhos têm coragem de cantar. Nessas horas, os homens viram prisioneiros da sombra. Só o que podem fazer é esperar. Sair pro campo, só cedo da manhã ou de tardezinha. Cada carro que passa na estrada deixa um rastro de quilômetros de terra vermelha - característica da região exaltada até no hino de São Borja -, um pó que não se dissipa e nem se assenta. É desesperador. Uma sensação que nós, porto-alegrenses, pudemos sentir um pouquinho durante março e abril.

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