Tenho uma relação paradoxal com o mar. Por um lado, ele me atrai,
fascina, chama. Por outro, me atemoriza, apavora, espanta. Uma das
minhas maiores frustrações é não surfar. Poucas sensações são tão
boas quanto boiar no "out". O sobe e desce das ondas - gordas,
macias, carinhosas - extasia. É como um retorno ao útero, diria um psicanalista - e com razão (que é o Oceano senão o útero da Mãe Natureza ?).
Pena que, ao contrário dos surfistas, não posso fruir este prazer por muito tempo (isso quando posso). Na verdade, boiar fora da arrebentação, só quando o mar está calmo. E mesmo assim, ele me bota medo. É afável até chegar a série. E posso avistá-la de longe. A vaga se formando, o nado frenético em sua direção, a respiração asmática, o pavor estampado no rosto e refletido no descompasso das braçadas. No pensamento, a onda se transforma num Tsunami que vai me levar, e depois varrer cadeiras, chinelos e crianças na beira da praia. Não lembro de alguma vez ela ter estourado na minha cabeça ou me destruído. Mesmo assim, nunca permaneci no mar depois de enfrentar uma série. Também nunca deixei de avançar até o “out” quando isso é possível.
Quando estou no mar, medo e fascínio travam uma batalha dentro de mim. Normalmente, o duelo termina empatado. E o êxtase produzido pelo sobe e desce das ondas, o entregar-se à natureza, é sempre um gozo momentâneo, sobre o qual, inevitavelmente, paira a ameaça da série, do vagalhão, do Tsunami que se formará no coração do Oceano para vir tirar minha vida.
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