Relutei por um bom tempo em fazer a pergunta - é como se eu soubesse a resposta. Hoje, não resisti. E sim, o Bigode morreu. Fiquei triste. Tudo bem, era só o dono do estacionamento Genérico, alternativo ao oficial da PUC. Tudo bem, eu pouco falava com ele. "E o teu Inter, hein ? E esta chuvinha que não pára ? Calorão desgraçado ! Bah, hoje tenho prova, correria. Ah, que tu não achavas que eu conseguiria colocar nesta vaga ! Fica com a chave, cuida lá, Bigode ! SUS é brabo, mesmo. Não te preocupa, o Clínicas é show de bola". Tudo bem, tudo bem, mas eu sinto falta.
Um papo que eu evitava com o Bigode era política. Ele era PT fanático, de colocar bandeirinha no portão de casa e tudo. Num Fórum Social Mundial, pichou, no asfalto da rua, um enorme "Alca No !". Na volta às aulas, veio me contar, todo orgulhoso. Respondi que ficara muito afudê. É capaz de estar até hoje lá, a pichação.
Até gostaria de saber como foi, quando foi, mas não tive coragem de perguntar os detalhes da morte do Bigode. Sei que deve ter sido horrível. Em poucos dias, ele apareceu com um tumor do tamanho de uma laranja no pescoço.
Ao menos, o Bigode deixou lá sua herança para a família: o rentável estacionamento. No início, ninguém se arriscava a colocar o carro ali. Quem é que deixaria a chave pro proprietário daquela maloquinha ? Depois, o Genérico, capitaneado pelo nosso falecido amigo, foi progredindo, o povo foi ganhando confiança. Hoje, a sede do negócio não é mais um barraco, mas três confortáveis casas e mais um galpão. A mulher do Bigode cuida de tudo.
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