quinta-feira, janeiro 20, 2005

No meu armário na casa de meus pais repousam dezenas de camisas que resolvi não levar pro meu apê. Todas elas xadrez ou listradas. Se eu as usasse hoje, certamente seria alvo de chacota - caipira e empacotador do Dosul seria o mínimo que sobraria para mim. Mania esta que temos de cuspir nos pratos que comemos! Não faz muito - menos de dez anos - estávamos no Le Cap Ferrat e depois no Saigon e depois ainda no Dado, todos uniformizados.
Corta. Teve um reveillon em Punta que passamos na casa de uma gente muito fina. E isto que vou contar seria normal se não fosse verdade. Mas, juro, não há exageros nesta história para torná-la mais atraente: das 40 pessoas da festa, apenas minha família não vestia Ralf Laurent. Juro. Me senti muuuuito envergonhado com o jacarezinho no peito. Era como se todos aqueles cavalinhos o estivessem encarando ameaçadoramente. Imagina meu tio, que tem mania de tirar as costuras das marcas, que mico! Descorta.
E as gurias adoravam o xadrez e o listrado, parece que julgavam-nos pelo vestir: quanto mais jeca, mais chique éramos. Misturar uma calça creme com uma camisa xadrezinha vermelha e branca e azul era o auge do bom gosto e indicava um nível elevado de mauricice. E eu me esforçava para comprar camisas xadrez cada vez mais bonitas. Até hoje me orgulho de uma - Diesel, eu acho - comprada em Buenos Aires, cuja mistura de laranja, azul e branco é única. Está certo que parece um pouco roupa de palhaço, mas que roupa de palhaço! Juro: ainda hoje a acho bonita, embora perca em conforto para uma meio de flanela da Elle et Lui azul, verde e branca que costumava usar.
Corta. Lembram Elle et Lui? Ainda existe no Rio eu acho, mas sei que já não é a mesma. A loja aqui de Porto Algre ficava no Iguatemi, cheia de espelhos. As vendedoras davam cafezinho pra minha mãe e balas para mim. Rapaz, se eu soubesse naquele tempo o valor que tinham aquelas camisas pólo, teria comprado um estoque para a vida toda. Aquele logotipo pequenino azul, branco e vermelho - a bandeira da França - é tudo. A marca mais elegante e discreta que já vi. É como Tommy Hilfiger sem ser Tomy Hilfiger. Usar Elle et Lui era (é) dizer: "olha, eu não me preocupo com marca, gosto de discrição e qualidade, sou chique, mas não sou exibido". Eu sempre soube disso! O Andrei Kampff também. Descorta.
Sabem que estou tomando coragem de reativar minhas camisas xadrez e listradas? É um absurdo mesmo deixar de lado tanta roupa boa só porque elas não estão mais na moda. Isso mesmo: vou levá-las para a Jaime Telles. Aguardem: o empacotador do Dosul vem aí!

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