Tenho um assunto muito obscuro para falar sobre. Tão obscuro que o Word não o reconhece em nenhuma de suas grafias. Mitórios. Mictórios.
Passa que há homens que se intimidam com os mictórios. Cruzam ao largo deles, indo direto para a casinha, para o vaso sanitário. Há outros ainda que não conseguem mijar tendo ao lado um companheiro. Eu até entendo isso. A situação é realmente constrangedora. Dois homens, duas mangueiras, lado a lado.
Um amigo meu é conhecido por evitar os mictórios. Evita até as árvores, os muros, os matinhos. Nem na mais absoluta bebedeira, três garrafas de Patrícia a descarregar, noite cerrada, é capaz de fazer xixi sabendo-se observado. Muitas vezes já lhe perguntamos por que. Ele responde sempre que é uma questão de concentração - mijar seria um ato que requer tranqüilidade máxima.
Há ainda aqueles que até aceitam o mictório, mas jamais uma companhia no aparelho adjacente – que dirá um papo de banheiro. Podem até esvaziar eficientemente de frente para uma parede, contando os azulejos do chão até o teto. Mas, em chegando um segundo para compartilhar o momento, a vazão diminui drasticamente, podendo até cessar por completo. Nesses casos, costumam tangenciar. Pressionam a hidra para fazer barulhinho de água e estimular o pipi, assoviam para que o outro não perceba que o mijo só sai em gotas, ou simplesmente abandonam a tarefa pela metade e sacolejam como se a tivessem concluído.
Sempre achei que essa situação tivesse uma forte explicação psicanalítica. Medo de olhar pro pinto do outro (e gostar?), medo de que o vizinho pare e proponha uma disputa para “ver quem tem o tico maior”, medo de descobrir que o outro mija melhor, com mais vazão e eficiência. Medos inconscientes mil. E pior: relacionados à sexualidade. Coisas que Freud gostaria de explicar.
Pois esses dias, um outro amigo deu uma pista de que minha teoria está correta. Mandou o seguinte mail para uma lista de discussões. “Às vezes eu tou mijando num mictório desses coletivos. Sabe quando outro cara mija do teu lado e só consegue aquele mijinho mocorongo que não dá barulho, não dá uma corrente mijal constante, é psh... pshh... pshh...? Eu sempre fico com a impressão que esse cara é um merda. Estarei louco?”
A inquietação absolutamente pertinente do colega me fez pensar que, além dos que fogem do mictório, dos que só o encaram sozinho e dos que simplesmente mijam, há os que realmente observam, ou ao menos reparam, os outros mijar. O interessante de notarmos é que o mail do meu amigo dá realmente uma base real para os que temores dos que têm medo da relação mictorial. Responde a estes: sim, há gente observando você mijar, cotejando mijos.
O estranho é que não consigo colocar este meu amigo nessa posição. Ele é um cara super low profile, daqueles que você juraria que não presta atenção no seu xixi. No entanto, aí está o rapaz a insinuar que existem os “mocorongos”, os “merdas” do mictório. Engraçado, não pensava que ele fosse do tipo que tem orgulho do xixi. Muito menos do próprio pinto. Sei lá, nunca imaginei que ele portasse um trabuco cano longo, uma enorme morcilha preta, uma mangueira quilométrica que daria orgulho de exibir no mictório. Não que eu achasse que ele tivesse pinto pequeno. Normal, apenas. Pelo menos nunca se falou nada sobre seu aparelho no vestiário do futebol...
E antes que já me acusem de adotar a postura de meu amigo, de ser um observador mictorial, um medidor de vazões, esclareço: há tempos venho fazendo isso por rigor científico. Como se vê, e o mail de meu amigo confirma, o comportamento nos mictórios intriga a muitos e amanhã mesmo pedirei explicações ao meu psiquiatra sobre o caso.
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