quarta-feira, agosto 03, 2005

Estas noites de inverno no verão, estas noites de verão no inverno, já falei sobre isso, estas noites, elas têm um quê de sobrenatural. Estas noites fora de estação, se um dia o mundo acabar, acabará numa delas, se um dia os Ets baixarem, baixarão numa delas. Estas noites quentes de agosto, estas noites precipitam os fatos, são fermento para os acontecimentos.
Ontem mesmo, quanta coisa estranha aconteceu por causa de uma destas noites malucas! Por volta das 21 horas a vizinha bateu em nossa porta, na porta de nosso apartamento, meu e da Rafa. Soubera que eu pedira renegociação do aluguel e agora estava ali, baixinha e de pantufas, querendo seguir o exemplo, querendo cópia do boleto da minha imobiliária, para provar para a dela que eu pagava menos. Sei lá que coisa me deu que a convenci de batermos em todos os outros apartamentos para ver quanto cada um pagava. Não lembro muito como as coisas se deram, sei que de repente estava o prédio inteiro de pijamas, meias pantufas e camisetões, no hall do segundo andar, discutindo o valor dos aluguéis, trocando boletos bancários, bradando contra os locadores, "porcos capitalistas"! Os discursos duraram uma meia hora. Quando terminaram, os moradores do terceiro e do quarto subiram assoviando a Internacional. Não sei bem como tudo começou, eu nem lembrava da melodia, mas de repente estava lá a assoviar o hino.
Outras coisas ainda se sucederam por conta dessa noite doida, as meninas assaltadas sob a mira de armas, o grito ecoando na rua vazia - "não quero nem ouvir tua voz" -, a sinfonia dos cães, o silêncio dos cães e fico por aqui. Dá até medo de lembrar.

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