Quinta-feira de manhã. Me acordo ligeiro, enfio uma roupa, boto o Correinho debaixo do braço e me toco para a terapia. Na sala de espera, consigo dar só uma bizoiada na editoria de Rural. O suficiente para descobrir que eu trocara o nome de uma fonte na matéria para a Zero. O nome do cara era Fábio – como estava no Correio – e eu pusera Alexandre. Não, não foi um erro despropositado, como fiz esses dias, quando sumária e arbitrariamente chamei Cristiano de Antônio. Fábio e Alexandre são irmãos (primos?), são leiloeiros rurais, têm o mesmo sobrenome (Crespo) e são crespos. Mas, enfim, era um erro e teria de ser corrigido.
Pronto. Qualquer variação da palavra “correção” já me deixa desesperado. ZH anda numas neuras de evitar correções, métodos e mais fórmulas para eliminar erros, checagens e rechecagens, tabelas comparando o número de correções do mês passado com o deste mês... Teve um cara que chegou a enlouquecer com isso. Juro. Um dia trocou um nome em uma matéria e recebeu um puxão de orelha da editora-chefe. Dessas carraspanas públicas – uma mensagem com cópia para toda a redação. A partir daí, o colega pirou. A cada nota que ia escrever pedia para duzentas pessoas checar e ligava quatro vezes para a mesma fonte para confirmar o nome.
- Alô, seu José, o seu nome é José mesmo, não? O senhor tem certeza, né? Não quer dar uma olhadinha aí na sua identidade, só para garantir?
Chegou uma hora que o cara não guentou. Pediu demissão, se mandou para a França. Apareceu na redação meses depois. Completamente transformado. Ele era magro, quieto, barbudo, usava camiseta de hippie. Voltou fornido, barba feita, superfalante, cabelinho aparado e jeitão metrossexual. Juro por Deus, nem reconheci.
Mas, então, como eu ia dizendo, ZH anda numas de perseguir os erros. E descobrir no Correinho que eu tinha errado bastou para estragar meu dia. Entrei na terapia arrasado. Tão arrasado, que optei pelo divã. Joguei o braço por sobre o rosto e comecei a desabafar, ser jornalista é foda, a pressão é muito grande, ZH é uma merda, cumé que eu vou encarar mais esta correção, tou fodido, etc... Meia hora assim e saí da sala disposto a ligar para a fonte, para pedir desculpas. E foi o que fiz. Telefonei para uma outra fonte que tinha o telefone do Fábio.
- Alô, doutor, é o Sebastião, da Zero Hora. É que eu queria o telefone do Fábio, que eu errei o nome dele, coloquei Alexandre, e queria pedir desculpas...
- É, eu vi, Sebastião, saiu errado mesmo. Mas se não me engano foi o Correio que errou, porque vocês falaram ontem com o Alexandre mesmo. O nome certo é Alexandre, que nem saiu na Zero Hora.
Quer dizer que EU estava certo e ELES errados. Mal pude acreditar – que mania de confiar mais no Correio do que em mim mesmo! Quase saí pulando em plena 24 de outubro, de tanta felicidade.
Depois, liguei logo pro meu psiquiatra para contar a boa nova e pedir meu dinheiro de volta.
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