No fundo, nem tão fundo, uma flauta e como se fosse natural. Por uns bons cinco minutos, consegui ler, um livro qualquer, não importa. Até que uma seqüencia de notas parou o tempo. O hino riograndense, em um ensaio infantil, mas podia ser qualquer outra melodia conhecida. Foi só a familiaridade do som que me despertou e já não dava para continuar. O sopro da flauta congelava e, de repente, ali, toda a minha vida, todas as vidas encerradas naquele quarto, naquele instante. Uma casa catarina, uma cama de tábuas, o lençol, o edredon e eu jogados pelo colchão e o universo todo. Tudo.
Na rua, a flauta e a gritaria das crianças brincando ao fundo, bem fundo. E também o vento, a cortina voando, mas mais do que movimento, barulho das folhas e são tantas. E mais longe, bem dentro, as ondas, o mar da Gamboa. Eu sorri e apenas sorri e só sorri. Até que veio aquela tentação de agarrar o momento, guardar para sempre, dividir com os outros. Um bloco de papel, uma caneta, onde?
Aqui, só lap top. Tirei da pasta, liguei na tomada e quando - tudo tinha terminado. A flauta já não tocava e na sala alguém colocara Claudinho e Bochecha.
Já era. Pelo menos foi.
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