quarta-feira, outubro 24, 2007

ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO LEU A PRIMEIRA PARTE DESTA HISTÓRIA, DIRIJA-SE AO POST ABAIXO E, APÓS, RETORNE A ESTE. (ou faça de qualquer jeito mesmo, liberou geral, todo mundo pelado, é a lei do povo...)

Por que, Teodora? - PARTE 2

O jato saiu vigoroso nas primeiras tentativas, até meus dedos cansarem, nem meio tarro cheio e eu querendo chorar. E então a dor e o sangue na mão que me fez correr até a cama da mãe, para ouvir dela que minha filha é assim foi assim comigo vai ser assim contigo güenta firme que mamãe logo logo vai melhorar e tu também te acostuma.
Mas era tudo mentira, nos outros dias, nem a mãe melhorou e nem eu acostumei. Minha mão já não sangrava, era dura e com tanto calo que não dava para segurar a colher no almoço, tão grossa que não sentia o pêlo do cachorro e tão cinza que eu tinha vergonha de olhar, que dirá mostrar pros outros. E os dias foram assim de sofrimento até o pai nos acordar com um grito aquela noite, a mãe tinha morrido, meus filhos foi Deus quem quis eu já sabia mas por que nesta noite justo agora Ivo vai na vila Teodora vem cá minha filh... E eu tonta, tonta, tonta, nem vi nada, tudo pela metade, aquela gente lá em casa, a mãe na sala, o enterro no meio do campo, no nada, a mãe deixada lá, no nada.
Os dias que se seguiram foram os piores. Nos almoços, aquele silêncio, só o barulho das moscas, o Ivo irritado que tinha que fazer a comida, até que um dia, o pai de novo, minha filha tu já ta grande teu irmão te ajuda está na hora de assumir a cozinha. Então, o leite e mais a cozinha, só a aula de tarde um alívio. Mas de noite de novo, o jantar, junta a lenha, faz o fogo, aquece o almoço, e o silêncio na mesa, só que grilo, e não mosca.
Um dia aquilo tinha que acabar, e acabou. Rosaura, minha colega no colégio, disse que o Doutor Pontes, uns 5 mil hectares de terra, queria levá-la para a cidade, mas que não, ela não ia, então, tinha pensado, quem sabe eu... Foi na hora que pensei claro, e no outro dia que disse sim, e na mesma semana que arrumei uma trouxa e contei ao pai, ele querendo dizer não, mas dizendo nada e eu no ônibus pra Porto Alegre.

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