quarta-feira, outubro 17, 2007

Enquanto gozo merecidas fehrias em Buenos Aires, vai uma cronica bacana da minha irma, Maria Dornelles. ¿Ou seria Maria Ribeiro?
 

O homem das baratas 
 

       Um estudo feito em algum país desenvolvido revela que a maior parte da população mundial, se submetida a uma avaliação psiquiátrica, se enquadraria em algum diagnóstico. Portanto, quem consulta um psiquiatra tem que estar preparado para receber o seu. Com a mesma impiedade com que a balança informa o excesso de peso, o Doutor decreta:

       - Você tem Transtorno Afetivo Bipolar.

       - Seu filho tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

       - A partir de hoje, você precisa tomar diariamente um medicamento que custa cento e cinqüenta reais a caixa com 30 drágeas, e que pode diminuir seu apetite sexual.

       Ou seja: você passou a ser louco, dependente e broxa.

       Psiquiatra não dá segunda chance. Uma vez diagnosticado, resta ao sujeito aceitar – ou não – sua nova condição. Não me atrevo a ir ao psiquiatra por isso. Sei muito bem do meu potencial para ser enquadrada nas doenças mentais mais graves dos manuais, com grau de variação proporcional ao meu humor no dia da consulta. Prefiro fazer análise, onde além de falar deitada sobre um divã bem confortável, não me dizem que sou Neurótica, Obsessiva e Histérica.

       Mereceu segunda chance um paciente de um grande manicômio de Porto Alegre no final dos anos 60. Acidentado, o sujeito foi encaminhado do Pronto-Soccorro para o manicômio, pois infernizava a vida dos enfermeiros gritando que baratas caminhavam entre sua pele e o gesso. Constatada uma das alucinações psicóticas mais comuns – insetos caminhando pelo corpo -, o psiquiatra não teve dúvida: Esquizofrenia.

       Mas o sintoma não cessava com a medicação, e o sujeito insistia nas baratas. Até o dia em que, numa consulta:

       - Peraí, Doutor, tem uma aqui agora mesmo, ó! – puxou o inseto esperneante pelas antenas, obrigando a equipe a tirar-lhe o gesso do tórax e constatar que, de fato, várias patinhas e anteninhas circulavam sobre a sua pele. Graças a uma barata, o cara teve sua segunda chance.

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