A "moinhosdeventização" do MontSerrat
Foi com um único galho de jacarandá que MontSerrat me conquistou. Eu já tinha conversado com centenas de corretores, visitado dezenas de apartamentos e estava cheio da busca por um novo lar. Até que entrei no que hoje é minha casa, caminhei até a janela do dormitório principal e dei de cara com aquele braço da árvore querendo me tocar.
O verde foi o primeiro artifício que o bairro usou para me seduzir. Ao longo desses oito meses que estou aqui, fui descobrindo outros atributos. Um deles me encanta mais: é este ar de comunidade do Interior que o comércio ao redor da minha casa dá à zona. Antes de tudo, preciso esclarecer: moro no baixo MontSerrat, quase Auxiliadora. Da maior parte do meu bairro pouco sei - aliás quem tem coragem de escalar este monte? Viver subindo e descendo lomba é coisa de cabrito, que me perdoem meus vizinhos lá do alto.
Mas, como ia dizendo, é um varejo simples, este que tem aqui pela Silva Jardim, Eudoro Berlink e adjacências. Uma padaria destas que vendem cerveja, um bar destes que vendem cachaça, Correios (e quem ainda escreve cartas?), ferragens, mercadinhos (no MontSerrat, até o Zaffari, na Anita Garibaldi, parece um minimercado), estas coisas... Além de, é claro, milhares de pet shops e de cabeleireiros - cabeleireiros de todos os tipos, dos finos às tantas estéticas improvisadas em garagens. O mais bacana é que tudo isso está a algumas quadras de alguns dos bairros mais chiques da cidade: Moinhos de Vento, Bela Vista, Petrópolis.
Agrada-me muito esta singeleza do MontSerrat. Mas tenho medo de que ela se vá. Noto um movimento de "moinhosdeventização" dos entornos de casa. Primeiro, foi a Body One, uma das academias mais badaladas da cidade, já instalada quando eu cheguei. Depois, uma linda loja de doces argentinos (Media Luna), uma parrilla (Barbanegra) e uma pet shop (Bicho Papão) que só falta ala VIP - todos inaugurados no ano passado e a menos de uma quadra um do outro.
Não que eu não goste de ter coisas boas e finas perto de casa. Gosto. Mas receio que as coisas simples e este ar de pequena comunidade do bairro se esvaiam. Receio.
SEBASTIÃO RIBEIRO Repórter de Economia de ZH, morador do MontSerrat (texto publicado no ZH Bela Vista).
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