terça-feira, abril 22, 2008

“Putaquiupariu, e o futebol?”

Foi mais ou menos assim. Terça-feira, dia do futebolzinho da turma, eu estava dando um tempo na Zero Hora para ir direto para a quadra, quando a Rafa liga. Ela sempre liga.
- Gordo, tu tá sentado?
- Ahn... Que tu quer?
- Tou grávida.
Neste momento, é bom que vocês entendam que a Rafa sempre ficava grávida. A cada ciclo que atrasava, engravidava. De fazer teste e tudo. Um dia sem a menstruação, e já queria ir pra farmácia comprar palitinho. Portanto, nenhuma novidade até aqui. Mas resolvi averiguar.
- Como? Explica.
- Eu tou muito nervosa. Eu tou aqui no escritório. Eu comprei um teste de farmácia. Deu dois risquinhos azuis. Um tá mais fraco que o outro, mas na bula diz que se dá dois risquinhos é que ta grávida.
A primeira reação foi físico-química. Senti um vazio no estômago; uma espécie de frio que se espraiou até a ponta dos dedos dos pés e das mãos. Instantes depois, pude elaborar um pensamento:
- Putaquiupariu, e o futebol? Tou fodido, tenho de ir ver a Rafa. Não vou conseguir jogar. Vai faltar um. Os guris vão me matar.
A questão neste momento era prática. Eu tinha de ver a Rafa. Era como se ela estivesse muito doente, e precisando de apoio. Ordenei que se dirigisse para casa e me esperasse. Antes de desligar, ela disse:
- Não podemos contar pra ninguém. Só depois do teste de sangue.
- Claro, claro! Tou correndo pra casa. Te amo. Beijo.
Desliguei o telefone, olhei para o meu lado e enxerguei a Isabel. Então vomitei:
- Isabel tenho que te contar uma coisa não conta pra ninguém a Rafa tá grávida acabou de descobrir foi um exame de farmácia diz que é 99% de certeza.
A Isa ficou faceira. Eu comecei a refletir sobre como me sentia. Com certeza, muito mais feliz do que triste; muito mais assustado do que alegre; sem dúvidas, muito eufórico e orgulhoso de ser um bom reprodutor.
Assim, rumei para casa. De carro, mas a jato. Minha preocupação voltou a ser o estado da Rafa e o futebol. Eu realmente queria jogar. Nossa peladinha de terça à noite é um dos raros momentos de prazer garantido. Mas, agora eu era pai. Pai. Tinha compromissos de pai. E, se a Rafa precisasse, eu ficaria com ela.
Cheguei no apartamento louco para vê-la. Ela abriu a porta e eu a abracei. Com força, mais pela necessidade de mostrar que estava ali do que por emoção incontida. Fiz um interrogatório sobre as circunstâncias do exame e então tomei coragem para dizer que eu queria ir ao futebol, mas não admitia, em hipótese alguma, que ela ficasse sozinha. Era como se instantaneamente ela tivesse se tornado um cristalzinho muito frágil. Tanto que, quando a deixei na casa da mãe dela, antes de seguir para o jogo, subi com o carro na calçada para não haver risco de minha mamãe ser atropelada. Parece pouco, mas eu nunca tinha feito isso antes.
Na ida para o futebol, tive de ligar para a Isabel. Eu tinha de falar. O jogo foi bom, apenas que às vezes eu parava no meio da quadra e pensava: meu, que viagem, eu vou ser pai, que coisa mais nonsense. Ao fim da partida, eu estava absolutamente eufórico. Tomei uma cerveja e voltei para levar a Rafa até a casa dos meus pais, onde fomos recebidos com muitos beijos e champanhas Cave Geisse para o brinde. Entrementes, o Alô Panvel entregou mais um exame que apontou dois riscos.
Acordei-me no outro dia incrédulo. Uma mijada num palito era totalmente insuficiente para me convencer da paternidade. Enquanto a Rafa fazia mil planos para o bebê, eu passei o dia ansioso, esperando o resultado do exame. Por volta das 17h, entrei eu mesmo no site do laboratório Weinmann. O resultado, vocês conhecem tanto quanto eu.
Quando o vi, lá na Zero Hora, chamei imediatamente a Isabel e pedi que convocasse a turma para um brinde no bar da redação. Todos ficaram muito alegres com a notícia e até Totosinho foi chamado.
De tudo, o que mais me surpreendeu é que eu fiquei muito menos nervoso do que esperava. Ando mais é faceiro mesmo. Acho que, na verdade, eu estou muito mais preparado para ser pai do que pensava. Ou não.

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