Estou sentado no sofá de veludo vermelho, aquele na antessala do salão de bailes do Juvenil. À frente, a chapelaria, o banheiro. Tantas e tantas vezes. Algumas, ao menos. Minha cabeça gira, a testa sua frio, tenho vontade de... Mas logo já estou rodando. Por entre saias e vestidos. Longos e curtos. Calças socadas em rabos, também. Talvez eu esteja com um jeans branco Damyler e camisa xadrez de flanela azul Elle et Lui. Em todo o caso, rodo. Mil voltas no salão. Um lobo. Um caçador. Nada de cerveja. Uísque. Sempre. E danço. Às vezes. É debut, e sou par. Sou? Quando? De quem? Maria, me ajuda! Não sei valsar. Ainda bem que já é Natal. Ana Gabriela, somos todos teus dogs. Embarca o Alfredinho no táxi, que depois a gente junta da sarjeta. Porque esquentou. É Garden Party. Tem show! Tim Maia, Lulu Santos e mais alguém. Martha Medeiros disse que a adolescência dela eram sete dias de sofrimento por semana, apenas esperando a Garden Party. Me voy con ella, que es uma estrella. Martinha, agora outra, e seu vestidinho de boneca azul. Tão meiga, tão desajetada, tão criança. Me traz mais um uísque. Sou adulto. Ainda estou no sofá de veludo. Na festa, Klaus e Vanessa tocam bossa nova. Daqui a pouco, o sindicato dos construtores elege os construtores do ano. Preciso anotar o nome dos ganhadores. Com acentos e letras duplas e tudo. É 5 mil. Tem de sair no jornal. À minha direita, o salão de bailes que já não é de bailes está abarrotado de mesas, e as mesas, abarrotadas de engravatados. Como são tristes os adultos.
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