"Não leio blogs; só o do Tião, porque é relevante", Filipe Maia, jornalista. "Às vezes o Tião escreve direitinho", Daniel Gallas, presidente. "Não gostar do Tião é uma falha de carácter", Rodrigo Müzell, jornalista. Sebastião Ribeiro é jornalista e mora em Porto Alegre. Leva uma vida pacata com a mulher e dois filhos em um apê no alto Rio Branco. A propósito, teu cu de bobes.
quinta-feira, março 26, 2009
quarta-feira, março 25, 2009
sábado, março 21, 2009
segunda-feira, março 16, 2009
E mais: tu podes comentar as tuitadas nos comments aqui do blog. Por exemplo, mãe: o que tu achas da ascenção dos dos panos de chão (Scottish Terriers) a cães da moda? E tu, Carioca, o que achas disso?
quinta-feira, março 12, 2009
quarta-feira, março 11, 2009
domingo, março 08, 2009
quinta-feira, março 05, 2009
Ainda que encravado na badalação da Dinarte Ribeiro, o Daimu está sempre entre a cruz e a escada, mas quero falar mesmo é sobre cabeça de peixe. Entre a cruz e a escada porque, do alto de um promontório, brigará sempre para acolher clientes. As pessoas gostam de dar uma espiadinha nos restaurantes que surgem. Mas, se há entre elas e a porta algumas dezenas de degraus, se retraem. Menos por preguiça do que por constrangimento. Ficam com vergonha de desistir da empreitada depois de subirem tanto.
Mas eu realmente recomendo encarar as escadas do Daimu. Feche os olhos, confie e suba. Lá em cima, uma hostess, com sorte ela se chamará Satoko e será muito simpática, lhe dirá:
- Ajumnhgsknnaijêê!
Presumo que seja boa noite ou bem-vindo e respondo:
- Ajumnhgsknnaijêêêêê!
O que obviamente é uma resposta equivocada, caso a saudação seja bem-vindo. Mas adoro japoneses e acho eles tri engraçados e não me importo com a possível gafe. O ambiente do restaurante é bem bacana, super design, sabe? Linhas retas, tons de berinjela e branco, parede trabalhada com tijolinhos irregulares de madeira. Mudérrno e de bom gosto. Mas isso é frescura e estou aqui para falar de... bom, vocês já sabem.
Acontece que dia desses meu cunhado Tiago Ritter teve no Daimu e me jurou, com os dois (e não haveriam de ser três) pés juntos e beijinhos nos fura-bolos em cruz, que tinha uma família de japas traçando uma cabeça de peixe lá.
- Nãããããão! Sério, meu???
E ele jurou de novo daquele jeitinho, de forma que o cabeça oca aqui preencheu a cachola com a idéia fixa de provar o prato. Tem toda uma coisa de ter de ligar antes quando for pedir a iguaria (www.daimu.com.br), acho que para dar um tempo de o chef decapitar o peixinho. Eu não sabia disso, mas tive a sorte de comparecer justo no dia e que aqueles japas tinham novamente passado por lá e traçado quatro cabeças, deixando apenas uma, para quemquemquem? Na mosca: para mim mesmo, Tiãozito, el devorador de cabezas. Juro com pés juntos e beijinhos nos fura-bolos em cruz.
O garçom explicou que a peça, se assim podemos chamar, vinha cozida no shoyu, com alguma coisa de gengibre, açúcar, ervas e temperos secretos do chef. Mandei vir, a um só tempo empolgado e temeroso. Foi com alegria que vi chegar aquela cabecinha de cheia de dentes serrados do Peixe Pargo. Dourada, com um molho escuro reduzido, cheio de frescor do gengibre, adocicado, mas não tanto para borrar por completo o tempero do sal. Umas ciboulettes verdinhas por cima davam o toque final.
- Ei, amigo, dá pra me explicar como se come isso? – perguntei ao garçom, dispensando a formalidade.
- O senhor pode procurar o que houver de carne aí dentro. Se quiser, pode usar a mão também. Eu lhe trago depois um pano úmido quente para limpá-la.
Ah, era tudo o que eu queria ouvir. Dei início à Operação Cabeça de Pargo. Foi muito mais fácil do que se pode imaginar. Incrível o que se pode extrair de carne da peça; uma carne bastante macia, um pouco mais forte do que a do filé, mas não a ponto de causar estranhamento ou deixar algum tipo de catinga – sabe catinga, né? Tipo de ovelha lanuda, peixe estragado...etc? Não, a carne já é adaptada ao paladar mais banal. O único senão pode ser o visual: aquele peixinho ali, com os olhos baços e mareados, um olhar triste e ainda os dentes serrados, ameaça inofensiva. Garotas e rapazes sensíveis podem não gostar.
Mas o melhor de tudo, tenho de admitir, não é nem o sabor convidativo. É a batalha, o desafio de virar e revirar a cabeça, com a ponta dos dedos e os hashis. Traçar bochecha, escamas, língua e miolos (se é que peixes têm línguas e miolos). Comer tudo, incansavelmente, até restarem apenas os ossinhos e cartilagens no prato. E então, a satisfação de ver aquela cabeça estraçalhada, suprema vitória marcada por mãos e beiços lambuzados, resquícios de um adversário totalmente derrotado. Ou quase totalmente. Ali ainda ficaram os olhinhos baços e tristes, testemunhas oculares da devastação, escondendo, lá no fundo, a ameaça de vingança, a regeneração do monstro.
Não, não cometerei esse pecado de novo. Da próxima vez, vou até o fim. Como, ah se como aquelas duas bolinhas viscosas e borrachudas. Ainda que me revirem o estômago. Me aguardem.