Há várias formas de se acordar de uma sesta no sábado à tarde. Mal humorado: você sai da cama puto da vida, porque perdeu um baita dia que os amigos aproveitaram pra jogar aquela bola. Com azia, louco por um Sonrisal: depois de comer uma puta feijoada e cair duro na cama. Com sede: depois de se entupir de cerveja e se atirar no ar condicionado. Louco por um doce: normalmente (e estranhamente), isso acontece quando você comeu muito doce no almoço. Mas naquele sábado me acordei eufórico. E me achando. O dia tava ducacete, o pessoal tinha ido pra casa de um amigo na Ilha da Pintada e eu nem aí. Perdera a tarde, mas ainda tinha o resto. O vento fresco aplacando o sol primaverio era um bom sinal. E eu estava disposto a começar cedo, alongar o máximo a noite que breve chegaria.
Antes mesmo de sair da cama, fiz a ronda e elegi o melhor happy hour. Fui pro banho cantando. Liguei o rádio a milhão. Lavei bem as partes. Passei xampú DUAS vezes ! Saí do banho. Fiz a barba calmamente - a Continental ainda no dial, era um biquíni de bolhinha amarelhinha, stay, don´t you go, stay with me one more time. Usei after shave. Dei mais uma olhadinha pro espelho, um olhar fatal, na verdade, quase uma auto-cantada: rapaiz, como eu estava bonito. Eu era fodido mesmo. Estava saindo com duas, beijando outras tantas (umas boas outras péssimas, mas e daí ?). Apesar daquela barriguinha proeminente, elas gostavam do véio. Não adiantava, o véio era charmoso, carismático. Apesar daquele narizinho forjado numa briga do Raga Store, elas queriam o véio. E ninguém ia segurá-lo naquela noite. Eu tava impossível e era só cuidar pra não dobrar o fio da bibida e correr pro abraço. Seria uma noite diferente, decidi. Eu podia até ter colocado o Aqua di Gió, cuja fragrância sempre provocou um frisson - sejamos justos, absolutamente fratenal e inocente - nas minhas eternas amiguinhas do Direito da Puc. Mas naquela noite, especificamente naquela noite, justamente naquela niote, optei pelo Polo Sport. O cheiro da minha adolescência, do Cord, do le Cap Ferrat, do Raga Store, mas não da Embaixada de Marte. Enfim, eu estava a mil. E com garra. Uma puta gana. Disposto a brigar pelo melhor. E também foi por isso que a velha camisa pólo rosalaranjada foi eleita o uniforme da noite. Podia dar tudo errado, mas eu ia com tudo. Pra golear. Continua amanhã. |
"Não leio blogs; só o do Tião, porque é relevante", Filipe Maia, jornalista. "Às vezes o Tião escreve direitinho", Daniel Gallas, presidente. "Não gostar do Tião é uma falha de carácter", Rodrigo Müzell, jornalista. Sebastião Ribeiro é jornalista e mora em Porto Alegre. Leva uma vida pacata com a mulher e dois filhos em um apê no alto Rio Branco. A propósito, teu cu de bobes.
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