sábado, abril 30, 2005

Segue agora o primeiro exercício jornalístico em fascículos do Brasil.
A reconquista do Oeste - Parte 1

Faz duas horas e meia que me deitei e já está este telefone a tocar. Trru. Trru. Trru (não se fazem mais campainhas como antigamente). É o sistema de despertar do hotel. "Have a good morning in the earth of Agribusiness", diz a gravação feminina, com uma desproporcional elevação de tom em "agribusiness". Afinal, são 3h45 e alguém tem de lembrar aos de sono mais profundo: isto aqui é Rondonópolis. A cueca, a calça, a camiseta, o sapato, a meia, o gravador, o celular, o bloco e a caneta estão empilhados na cebeceira - bem nesta ordem e bem como os deixei ontem à noite, agora há pouco. Visto o que é de vestir, pego o que é de pegar, coloco no bolso o que é de colocar no bolso e me toco para o hall de entrada.
O velho tinha sido bem convincente. Por três vezes repeti e por três vezes ele confirmou: 4h da manhã, na frente do hotel. Mesmo assim, me é impossível acreditar que tudo vai dar certo. Não me contenho e ligo. Mais cinco minutos e estou aí, Sebastião, diz, enquanto engole uma empada de queijo com café com leite. Preferiria mil vezes uma polenta com lingüiça - atavismos de um filho de mãe de origem italiana -, mas tão requintado desjejum só come uma vez por semana, segundo me contaria logo depois. De minha parte, apresso-me em pedir alguma coisa para forrar o estômago, que viajar por estas estradas esburacadas de bucho vazio pode ser perigoso. O restaurante está fechado, com as lâmpadas apagadas, mas meio escondido no breu, consigo distinguir um garçom. Ali mesmo, aproveitando os fachos de luz que entram do lobby, ele faz a sua refeição do turno, um morro de bife, arroz, salada de batata, massa com mariscos, feijão: restos do buffet da noite. Parece ficar muito feliz que alguém interrompa sua rotina e atende de bom grado ao meu pedido. Deixa a refeição de lado e entra na cozinha, de onde sai trazendo um prato com três fatias de bolo de chocolate e três fatias de bolo de coco, quase um embriagado, e mais um copo de suco de laranja. Perfeito. É tudo o que preciso.

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