Descobri que todas as penitenciárias femininas do mundo são iguais. Ou parecidas. Tive certeza disso ao ler Radical Chique e o Novo Jornalismo, do Tom Wolfe. Página 30: “Uma vez comecei uma história sobre as garotas presas na Casa de Detenção de Mulheres do Greenwich Village (...). As meninas costumavam gritar para os rapazes na rua (...). Gritavam todos os nomes masculinos que podiam imaginar (...) até acharem o nome certo e o coitado parar, olhar para cima (...). Então começavam a sugerir uma porção de peculiares impossibilidades anatômicas”.
Provavelmente vocês não saibam, porque provavelmente vocês nunca fizeram matéria no Madre Pelletier, mas na Porto Alegre de 2005 acontece a mesmíssima coisa que nos Estados Unidos da década de 60. É só você passar na frente do presídio e elas verem que você tem duas bolas e um tico no meio das pernas que a gritaria explode. Uma reação completamente irracional e incompreensível para quem está de fora. Paneladas nas grades são a percussão para as mais grosseiras cantadas que você jamais imaginaria sair da boca de uma... mulher. É algo realmente assustador, de tremer a espinha – uma experiência que faz você pensar que vale a pena ser jornalista só para passar por ela.
Fiz matérias duas vezes no Madre Pelletier. Além da recepção, outras situações deixaram-me de boca aberta. Por exemplo: a informação de que seria impossível a equipe da TV subir ao refeitório na hora da bóia, porque a presença de homens no recinto poderia gerar reações inesperadas e culminar – por que não? – em uma rebelião.
Vocês devem estar adivinhando que a origem deste post foi o documentário O Cárcere e a Rua, que acabei de ver. E gostei. Mas na verdade não gostei. O filme não é ruim. Mas simplesmente porque seria quase impossível fazer algo ruim partindo-se da idéia original. O problema é que a diretora focando na vida de três detentas, a vida da cadeia é apenas tangenciada. As personagens transformam-se quase em atrizes de uma trama de ficção. Isso dá mais emoção ao filme – nós torcemos, sofremos e vibramos com as detentas -, mas enfraquece o caráter documental. Como espectador, fiquei indignado com o fato de a documentarista ter estado dentro de um dos lugares que eu mais teria curiosidade de estar, mas me oferecer quase nada do que viu – não mais do que as lágrimas e os sorrisos de Cláudia, Betânia, Daniela. A melhor cena de todo o filme é a escolhida para dar ritmo à narrativa, servindo sempre como elemento de transição na edição: a do amante que namora aos gritos com a namorada – ela na cela e ele, a centenas de metros de distância, pendurado na grade da rua. Pois as meninas berrando na janela, as meninas comendo, as meninas jogando vôlei, as meninas tomando sol seriam ótimas tomadas para tecer ainda melhor a narrativa e mostrar a vida do presídio.
O filme simplesmente parece falar de um lugar em que definitivamente as detentas não ficam histéricas ao olhar um homem pela janela.
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