"Não leio blogs; só o do Tião, porque é relevante", Filipe Maia, jornalista. "Às vezes o Tião escreve direitinho", Daniel Gallas, presidente. "Não gostar do Tião é uma falha de carácter", Rodrigo Müzell, jornalista. Sebastião Ribeiro é jornalista e mora em Porto Alegre. Leva uma vida pacata com a mulher e dois filhos em um apê no alto Rio Branco. A propósito, teu cu de bobes.
segunda-feira, maio 30, 2005
quarta-feira, maio 25, 2005
segunda-feira, maio 23, 2005
Coisa de português
Sábado, fui na feirinha ecológica da José Bonifácio (aliás, que badalado anda aquilo!). Chegando lá, lembrei-me de uma amiga muito fina e muito chique, apreciadora da função, e telefonei perguntando se ela não tinha nenhuma encomenda. Ela pediu-me ciboullettes e um molho de manjericão. Deixei a sacola com a filha dela. Hoje, minha amiga ligou agradecendo.
- Sebastião, muito obrigado! Mas pra que tanta gentileza? O que era aquele molho, menino?
- Molho pesto. Gostou?
- Adorei, mas não prcisava...
- Mas foi tu quem pediu.
- Eu?
- Claro, tu não pediu ciboulletes e molho de manjericão? Pesto é de manjericão, não sabia?
- Guri, eu te pedi um molho de manjericão. Um molho!!!
Enfim, coisas de português ...
Sábado, fui na feirinha ecológica da José Bonifácio (aliás, que badalado anda aquilo!). Chegando lá, lembrei-me de uma amiga muito fina e muito chique, apreciadora da função, e telefonei perguntando se ela não tinha nenhuma encomenda. Ela pediu-me ciboullettes e um molho de manjericão. Deixei a sacola com a filha dela. Hoje, minha amiga ligou agradecendo.
- Sebastião, muito obrigado! Mas pra que tanta gentileza? O que era aquele molho, menino?
- Molho pesto. Gostou?
- Adorei, mas não prcisava...
- Mas foi tu quem pediu.
- Eu?
- Claro, tu não pediu ciboulletes e molho de manjericão? Pesto é de manjericão, não sabia?
- Guri, eu te pedi um molho de manjericão. Um molho!!!
Enfim, coisas de português ...
sexta-feira, maio 20, 2005
terça-feira, maio 17, 2005
A Rafa cometeu o disparate de mandar eu ir ao supermercado sozinho. Entre um monte de bobagens (farelo de casca de trigo, por exemplo), comprei coelho. É, coelho! Em vez de patinho ou tatu, coelho.
Claro, não saí impune dessa aventura. Quando disse que hoje a janta ficava por minha conta, ouvi tanto, tanto... Que tu não vais cozinhar, não senhor, que eu não como coelho, que eu tenho trauma, fico imaginando o bichinho, olha só, aqui é a patinha do pobre, devia ser branquinho com olhos vermelhos, que se tu fizeres coelho eu vou embora de casa e coisa e tal.
Mas, vocês sabem, não é assim pra mulher mandar em mim. No máximo, divido o forno com tua galinha. Tão bravamente resisti que ela cedeu. Mas ai de ti se ficar uma bosta, guri!
E não é que saiu uma baita janta! Lapin au vin, by chef Sebá!
Claro, não saí impune dessa aventura. Quando disse que hoje a janta ficava por minha conta, ouvi tanto, tanto... Que tu não vais cozinhar, não senhor, que eu não como coelho, que eu tenho trauma, fico imaginando o bichinho, olha só, aqui é a patinha do pobre, devia ser branquinho com olhos vermelhos, que se tu fizeres coelho eu vou embora de casa e coisa e tal.
Mas, vocês sabem, não é assim pra mulher mandar em mim. No máximo, divido o forno com tua galinha. Tão bravamente resisti que ela cedeu. Mas ai de ti se ficar uma bosta, guri!
E não é que saiu uma baita janta! Lapin au vin, by chef Sebá!
segunda-feira, maio 16, 2005
Agora mesmo, aqui em casa, deu problema no bóiler e o JK ficou num cheirão de gás. O que me fez lembrar a velha Conceição, vó do Alfredinho. Lá pelos seus 80, ela já não sentia nada, mas era metida a independente. Um dia, foi esquentar uma água, mas nem percebeu que a chama não ligara. Ficou aquele gás a escapar até que, uma hora depois, ela se desse conta. Sem titiubear, e sem a menor noção do fedor de gás que estava a casa, pegou a caixinha de fósforo para acender a boca. Riscou o palito e... PÔÔÔU! Explosão. Pode imaginar a velha toda preta, os cabelos queimados. Mas também já pode ir desimaginando. Mentaliza agora a Conceição intacta em frente ao fogão, o palitinho de fósforo aceso, e o vidro da sala contígua à cozinha explodindo brutalmente. Foi isso o que aconteceu. A corrente de ar levou o gás para a sala e o estouro foi se dar bem longe da velha. Que ficou tranqüilinha, sem entender nada, com o palitinho de fósforo na mão. Anos depois, morreu, claro. Mas não de explosão. De velhinha mesmo.
sábado, maio 14, 2005
quinta-feira, maio 12, 2005
Já sei o que eu quero de aniversário...
Veja, Maio de 2005
A versão digital e portátil do Aurélio escaneia as palavras e dá seusignificado em segundos
Jerônimo Teixeira
O Aurélio Digital em ação: um aparelho prático, mas com preço salgado
No mercado editorial, o setor mais influenciado pela tecnologia é o dos livros de referência. Cada vez mais, enciclopédias e dicionários são apresentados em formatos digitais. O mais tradicional dicionário brasileiro, o Aurélio, está levando essa tendência para um campo novo no país: o dos dicionários e tradutores instantâneos – e portáteis. Recém-lançado pelo grupo Positivo, que adquiriu seus direitos em 2003, o Aurélio Digital é uma espécie de caneta com scanner embutido e permite que o usuário, ao passar o aparelho sobre uma palavra impressa, obtenha sua definição em segundos.
Blóguidotião, Outubro de 2004
"Sempre senti falta de um aparelhinho que certo que já inventaram, mas eu nunca vi no mercado: um dicionário eletrônico. Um aparelhinho pequeno, do tamanho da palma da mão, com um tecladinho, e que nos desse o significado das palavras.
Uma vez disse isso pro meu primo Dinho e ele, meio brincando, meio sério, rebateu a idéia. Que horror ! O bom é tocar, sentir o cheiro do papel, escutar o bum surdo de um Aurelião sendo fechado; o bom é folhear, se perder entre as palavras, sair à cata de um verbete e descobrir outro, procurar peia e achar peguilha, dar para cada consulta um rumo diferente e inesperado.
Eu não acho. Bom seria topar na palavra desconhecida, digitá-la no teclado e imediatamente receber a resposta. Ideal seria descobrir o significado e não ter de voltar uma frase sequer na leitura, inserindo-o logo no contexto do escrito.
Tá, eu sei: é preguiça minha, mesmo..."
Veja, Maio de 2005
A versão digital e portátil do Aurélio escaneia as palavras e dá seusignificado em segundos
Jerônimo Teixeira
O Aurélio Digital em ação: um aparelho prático, mas com preço salgado
No mercado editorial, o setor mais influenciado pela tecnologia é o dos livros de referência. Cada vez mais, enciclopédias e dicionários são apresentados em formatos digitais. O mais tradicional dicionário brasileiro, o Aurélio, está levando essa tendência para um campo novo no país: o dos dicionários e tradutores instantâneos – e portáteis. Recém-lançado pelo grupo Positivo, que adquiriu seus direitos em 2003, o Aurélio Digital é uma espécie de caneta com scanner embutido e permite que o usuário, ao passar o aparelho sobre uma palavra impressa, obtenha sua definição em segundos.
Blóguidotião, Outubro de 2004
"Sempre senti falta de um aparelhinho que certo que já inventaram, mas eu nunca vi no mercado: um dicionário eletrônico. Um aparelhinho pequeno, do tamanho da palma da mão, com um tecladinho, e que nos desse o significado das palavras.
Uma vez disse isso pro meu primo Dinho e ele, meio brincando, meio sério, rebateu a idéia. Que horror ! O bom é tocar, sentir o cheiro do papel, escutar o bum surdo de um Aurelião sendo fechado; o bom é folhear, se perder entre as palavras, sair à cata de um verbete e descobrir outro, procurar peia e achar peguilha, dar para cada consulta um rumo diferente e inesperado.
Eu não acho. Bom seria topar na palavra desconhecida, digitá-la no teclado e imediatamente receber a resposta. Ideal seria descobrir o significado e não ter de voltar uma frase sequer na leitura, inserindo-o logo no contexto do escrito.
Tá, eu sei: é preguiça minha, mesmo..."
quarta-feira, maio 11, 2005
segunda-feira, maio 09, 2005
Estava lendo agora a matéria da Veja sobre a tradicional pesquisa encomendada pela MTV com jovens entre 15 e 30 anos. Descobri coisas interessantes. Olhá só:
37% dos homens fazem as unhas
25% pintam o cabelo
22% fazem limpeza de pele
Meus amigos estão escondendo a própria veadagem. Digamos, eu tenho uns 500 amigos, segundo o Orkut. Desses, 250 devem ser homens, dos quais uns 62 devem pintar o cabelo - como prova a MTV. O problema é que não consigo lembrar de mais do que quatro ou cinco com melenas tingidas, sendo que a maioria diz apenas passar parafina, não "pintar" o cabelo. Então, meus amigos pintam o cabelo e mentem que não pintam. Conclusão: pelo menos um a cada quatro amigos meus é mentiroso.
Vamos a mais uma coisa estranha:
83% já tiveram relações sexuais
76% já ficaram com umna pessoa que conheceram na mesma noite
Peraê: em que mundo eu vivo? No meu mundo, 100% das pessoas já ficaram com uma pessoa que conheceram na mesma noite. Dar um beijo em uma desconhecida é a primeira coisa que qualquer menino faz quando os hormônios batem. Ésó ir a uma festinha, olhar para todas, esperar alguma retribuir o olhar, e beijar. Agora, transar... Transar é difícil. Tenho amigas que foram dar pela primeira vez aos 25. Mas a MTV diz que as pessoas fazem mais sexo do que beijam desconhecidos. Que coisa!
37% dos homens fazem as unhas
25% pintam o cabelo
22% fazem limpeza de pele
Meus amigos estão escondendo a própria veadagem. Digamos, eu tenho uns 500 amigos, segundo o Orkut. Desses, 250 devem ser homens, dos quais uns 62 devem pintar o cabelo - como prova a MTV. O problema é que não consigo lembrar de mais do que quatro ou cinco com melenas tingidas, sendo que a maioria diz apenas passar parafina, não "pintar" o cabelo. Então, meus amigos pintam o cabelo e mentem que não pintam. Conclusão: pelo menos um a cada quatro amigos meus é mentiroso.
Vamos a mais uma coisa estranha:
83% já tiveram relações sexuais
76% já ficaram com umna pessoa que conheceram na mesma noite
Peraê: em que mundo eu vivo? No meu mundo, 100% das pessoas já ficaram com uma pessoa que conheceram na mesma noite. Dar um beijo em uma desconhecida é a primeira coisa que qualquer menino faz quando os hormônios batem. Ésó ir a uma festinha, olhar para todas, esperar alguma retribuir o olhar, e beijar. Agora, transar... Transar é difícil. Tenho amigas que foram dar pela primeira vez aos 25. Mas a MTV diz que as pessoas fazem mais sexo do que beijam desconhecidos. Que coisa!
Esta nota saiu na revista Galileu de fevereiro. Preste atenção e se quiser sugira um título nos comments.
"Uma pesquisa publicada na revista especializada Journal Human Reproduction mostrou que jovens que costumam apoiar o laptop no colo por longos períodos podem ter problemas de fertilidade. Participaram do estudo 29 homens de 21 a 35 anos, cujas temperaturas escrotais foram medidas antes e depois do uso do laptop. Os pesquisadores descobriram que o aparelho eleva a temperatura do escroto direito em 2,6°C e do esquerdo em 2,8°C."
"Uma pesquisa publicada na revista especializada Journal Human Reproduction mostrou que jovens que costumam apoiar o laptop no colo por longos períodos podem ter problemas de fertilidade. Participaram do estudo 29 homens de 21 a 35 anos, cujas temperaturas escrotais foram medidas antes e depois do uso do laptop. Os pesquisadores descobriram que o aparelho eleva a temperatura do escroto direito em 2,6°C e do esquerdo em 2,8°C."
quinta-feira, maio 05, 2005
quarta-feira, maio 04, 2005
A Reconquista do Oeste - Parte 3
Conta que faz parte de um grupo de fazendeiros. Uma experiência avançada, pouco comum no Rio Grande do Sul. Um exemplo e tanto para figurar no Campo e Lavoura. Seu Aymoré – ou Xavier, como se identifica ao atender ao telefone – integra um grupo de 11 fazendeiros que compram e vendem produtos em conjunto para reduzir custos e negociar preços. Juntos, contrataram uma consultoria internacional e agora vão começar a exportar soja e algodão sem a interferência de corretoras. Pra arrematar, a turma mantém um ritual que tem um pouco de religioso. A cada mês, tiram um dia inteiro para se reunir na casa de um dos companheiros. Tomam café, almoço e chá da tarde juntos. Percorrem a propriedade e analisam as contas do anfitrião. Ao final da jornada, os companheiros formulam um plano de sugestões para que o dono da fazenda melhore a gestão do negócio. No ano seguinte, verificam se as metas foram cumpridas. Um sistema bastante complexo para um fazendeiro para quem hectare é “hequetar” e maior, "malhor".
Conta que faz parte de um grupo de fazendeiros. Uma experiência avançada, pouco comum no Rio Grande do Sul. Um exemplo e tanto para figurar no Campo e Lavoura. Seu Aymoré – ou Xavier, como se identifica ao atender ao telefone – integra um grupo de 11 fazendeiros que compram e vendem produtos em conjunto para reduzir custos e negociar preços. Juntos, contrataram uma consultoria internacional e agora vão começar a exportar soja e algodão sem a interferência de corretoras. Pra arrematar, a turma mantém um ritual que tem um pouco de religioso. A cada mês, tiram um dia inteiro para se reunir na casa de um dos companheiros. Tomam café, almoço e chá da tarde juntos. Percorrem a propriedade e analisam as contas do anfitrião. Ao final da jornada, os companheiros formulam um plano de sugestões para que o dono da fazenda melhore a gestão do negócio. No ano seguinte, verificam se as metas foram cumpridas. Um sistema bastante complexo para um fazendeiro para quem hectare é “hequetar” e maior, "malhor".
terça-feira, maio 03, 2005
A Reconquista do Oeste - Parte 2
Quando devoro a última mordida da última fatia, o farol da Mitsubishi Pajero já ilumina o hotel. Em um pulo, estou de pé e então dentro do auto, tentando decifrar o painel: aquilo é uma bússola? Seu Aymoré Xavier está bem desperto – desde que se entende por gente sai da cama antes do sol sair da terra. Ainda está escuro, mas o velho usa um chapéu de tecido creme bem caído na cabeça. É a única coisa nova e elegante no seu figurino. No mais uma camisa de mangas curtas e bolso no peito, uma calça social preta bem batida e uma botina de cano curto – como tantas outras que tem em sua casa na cidade ou na fazenda.Desde que o encontrei à tarde da feira agrícola tive a certeza de que ele não tinha a menor idéia do que efetivamente eu queria. O olhar displicente e a mania de responder a perguntas que não foram feitas contrastavam com a imediata disposição de levar-me até sua propriedade. O fato é que, entendendo ele ou não o que eu queria, estava disposto a me ajudar – e isso é o que importava. É por isso que me surpreende tanto agora, ao começarmos nossa viagem. Deixa para o início de nossa conversa o lead da matéria.
Quando devoro a última mordida da última fatia, o farol da Mitsubishi Pajero já ilumina o hotel. Em um pulo, estou de pé e então dentro do auto, tentando decifrar o painel: aquilo é uma bússola? Seu Aymoré Xavier está bem desperto – desde que se entende por gente sai da cama antes do sol sair da terra. Ainda está escuro, mas o velho usa um chapéu de tecido creme bem caído na cabeça. É a única coisa nova e elegante no seu figurino. No mais uma camisa de mangas curtas e bolso no peito, uma calça social preta bem batida e uma botina de cano curto – como tantas outras que tem em sua casa na cidade ou na fazenda.Desde que o encontrei à tarde da feira agrícola tive a certeza de que ele não tinha a menor idéia do que efetivamente eu queria. O olhar displicente e a mania de responder a perguntas que não foram feitas contrastavam com a imediata disposição de levar-me até sua propriedade. O fato é que, entendendo ele ou não o que eu queria, estava disposto a me ajudar – e isso é o que importava. É por isso que me surpreende tanto agora, ao começarmos nossa viagem. Deixa para o início de nossa conversa o lead da matéria.
domingo, maio 01, 2005
Descobri que todas as penitenciárias femininas do mundo são iguais. Ou parecidas. Tive certeza disso ao ler Radical Chique e o Novo Jornalismo, do Tom Wolfe. Página 30: “Uma vez comecei uma história sobre as garotas presas na Casa de Detenção de Mulheres do Greenwich Village (...). As meninas costumavam gritar para os rapazes na rua (...). Gritavam todos os nomes masculinos que podiam imaginar (...) até acharem o nome certo e o coitado parar, olhar para cima (...). Então começavam a sugerir uma porção de peculiares impossibilidades anatômicas”.
Provavelmente vocês não saibam, porque provavelmente vocês nunca fizeram matéria no Madre Pelletier, mas na Porto Alegre de 2005 acontece a mesmíssima coisa que nos Estados Unidos da década de 60. É só você passar na frente do presídio e elas verem que você tem duas bolas e um tico no meio das pernas que a gritaria explode. Uma reação completamente irracional e incompreensível para quem está de fora. Paneladas nas grades são a percussão para as mais grosseiras cantadas que você jamais imaginaria sair da boca de uma... mulher. É algo realmente assustador, de tremer a espinha – uma experiência que faz você pensar que vale a pena ser jornalista só para passar por ela.
Fiz matérias duas vezes no Madre Pelletier. Além da recepção, outras situações deixaram-me de boca aberta. Por exemplo: a informação de que seria impossível a equipe da TV subir ao refeitório na hora da bóia, porque a presença de homens no recinto poderia gerar reações inesperadas e culminar – por que não? – em uma rebelião.
Vocês devem estar adivinhando que a origem deste post foi o documentário O Cárcere e a Rua, que acabei de ver. E gostei. Mas na verdade não gostei. O filme não é ruim. Mas simplesmente porque seria quase impossível fazer algo ruim partindo-se da idéia original. O problema é que a diretora focando na vida de três detentas, a vida da cadeia é apenas tangenciada. As personagens transformam-se quase em atrizes de uma trama de ficção. Isso dá mais emoção ao filme – nós torcemos, sofremos e vibramos com as detentas -, mas enfraquece o caráter documental. Como espectador, fiquei indignado com o fato de a documentarista ter estado dentro de um dos lugares que eu mais teria curiosidade de estar, mas me oferecer quase nada do que viu – não mais do que as lágrimas e os sorrisos de Cláudia, Betânia, Daniela. A melhor cena de todo o filme é a escolhida para dar ritmo à narrativa, servindo sempre como elemento de transição na edição: a do amante que namora aos gritos com a namorada – ela na cela e ele, a centenas de metros de distância, pendurado na grade da rua. Pois as meninas berrando na janela, as meninas comendo, as meninas jogando vôlei, as meninas tomando sol seriam ótimas tomadas para tecer ainda melhor a narrativa e mostrar a vida do presídio.
O filme simplesmente parece falar de um lugar em que definitivamente as detentas não ficam histéricas ao olhar um homem pela janela.
Provavelmente vocês não saibam, porque provavelmente vocês nunca fizeram matéria no Madre Pelletier, mas na Porto Alegre de 2005 acontece a mesmíssima coisa que nos Estados Unidos da década de 60. É só você passar na frente do presídio e elas verem que você tem duas bolas e um tico no meio das pernas que a gritaria explode. Uma reação completamente irracional e incompreensível para quem está de fora. Paneladas nas grades são a percussão para as mais grosseiras cantadas que você jamais imaginaria sair da boca de uma... mulher. É algo realmente assustador, de tremer a espinha – uma experiência que faz você pensar que vale a pena ser jornalista só para passar por ela.
Fiz matérias duas vezes no Madre Pelletier. Além da recepção, outras situações deixaram-me de boca aberta. Por exemplo: a informação de que seria impossível a equipe da TV subir ao refeitório na hora da bóia, porque a presença de homens no recinto poderia gerar reações inesperadas e culminar – por que não? – em uma rebelião.
Vocês devem estar adivinhando que a origem deste post foi o documentário O Cárcere e a Rua, que acabei de ver. E gostei. Mas na verdade não gostei. O filme não é ruim. Mas simplesmente porque seria quase impossível fazer algo ruim partindo-se da idéia original. O problema é que a diretora focando na vida de três detentas, a vida da cadeia é apenas tangenciada. As personagens transformam-se quase em atrizes de uma trama de ficção. Isso dá mais emoção ao filme – nós torcemos, sofremos e vibramos com as detentas -, mas enfraquece o caráter documental. Como espectador, fiquei indignado com o fato de a documentarista ter estado dentro de um dos lugares que eu mais teria curiosidade de estar, mas me oferecer quase nada do que viu – não mais do que as lágrimas e os sorrisos de Cláudia, Betânia, Daniela. A melhor cena de todo o filme é a escolhida para dar ritmo à narrativa, servindo sempre como elemento de transição na edição: a do amante que namora aos gritos com a namorada – ela na cela e ele, a centenas de metros de distância, pendurado na grade da rua. Pois as meninas berrando na janela, as meninas comendo, as meninas jogando vôlei, as meninas tomando sol seriam ótimas tomadas para tecer ainda melhor a narrativa e mostrar a vida do presídio.
O filme simplesmente parece falar de um lugar em que definitivamente as detentas não ficam histéricas ao olhar um homem pela janela.