quinta-feira, novembro 03, 2005

Até meus 18 anos, o grande barato era furar festas. Passar pelas macegas laterais do Saigon, entrar e arrasar com o baile de 15 da filha do oculista, depositar vez que outra 5 pilas na mão do porteiro do Cord e ter acesso livre à casa.
Para ser sincero, eu pouco conseguia furar, ao passo que o Urso, o Roberto e o Negão até hoje são hectoplasmas invisíveis para a espécie leão-de-chácara. Talvez por isso mesmo, um dia decidi que todo o esforço para entrar "ilegalmente"em um evento é absurdo e constrangedor. Desde então, nunca tentei sequer negociar entrada com porteiro e pago o que me cobram. Se o lugar não merece o dinheiro, vou para outro. Se não sou convidado, faço questão de não ir.
Hoje, tenho mesmo orgulho de ser assim. E por isso saí arrasado do trabalho segunda-feira. O presidente da Monsanto mundial estava em Porto Alegre. Tentamos insistentemente por meio da assessoria marcar uma entrevista, mas a ordem era clara: ele não queria falar com a imprensa. Assim mesmo (ou por isso mesmo), meus editores me enviaram à festa oferecida pelo seu Hugh Grant (sim, é homônimo), CEO da multinacional.
Chegar ao Brittish Club sem ser convidado, gritar para um cara que você nem sabe se é mesmo o cara "Mister Hugh, could you talk to us a little?", tascar um flashaço na lata do primeiro careca que desce da van e implorar para falar com uma pessoa que disse expressamente que te dispensa (e despreza?). Pior que tudo isso, só o monte de gente olhando para ti como um furão que faz de tudo para se fazer presente onde não foi chamado.
Não tenho nem ânimo nem saco para discutir se tudo isso é necessário, faz parte do trabalho, etc... A verdade é que o episódio terminou com a minha semana e pela primeira vez me fez pensar: será que vale a pena essa vida? Ganhar tão pouco para se sentir menos ainda - está ficando demais para mim.

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