Saleta de vídeo do antigo colégio de Aplicação, campus central da Ufrgs. É verão, recém saímos da educação física (temos asa) e o locutor da fita explica em off monocórdio o processo reprodutivo dos celenterados – um convite à baderna ou ao sono.
Fosse a Camila Morgado falando dos primeiros dias de Vinícius de Moraes no documentário hoje em cartaz, nossa reação seria a mesma. Definitivamente, não dá para entender por que a colocaram, e o Caco Ciocler, para costurar o filme. Dá a sensação de que é apenas para que constem no cartaz e nas sinopses dois nomes in, já que o do poeta já parece estar out – ao menos comercialmente. Sem contar os tais offs burocráticos do início do documentário: de se esconder atrás da poltrona!
Que tal explorar um pouco mais as imagens de arquivo, no lugar de Morgados, Ciocleres, Pagodinhos e... como é mesmo o nome daqueles rappers que aparecem cantando? Será que Vinícius não se remexe em sua tumba? Talvez não. Mas eu, da minha cadeira do Guion, sim.
Na crítica da Zero Hora, o Márcio Pinheiro reclamou que faltaram depoimentos de alguns filhos, deixados de lado. O Márcio sabe quem são os filhos do Vinícius e o que acrescentariam. Eu, não. Mas sei que eles só melhorariam o filme. Porque o que falta são justamente depoimentos íntimos, histórias sobre o Vinícius pai, amante, esposo, ser humano. Algo além do estereótipo de músico com o copo de uísque e violão, que é bastante, mas não tudo.
Cada vez que alguém conta uma história, um momento íntimo da vida do Vinícius (e o Chico Buarque relata vários), parece que chegamos um pouquinho mais perto dele. Cada vez que o Caco e a Morgado dizem um poema - alguns bem, outros mal recitados -, interpretam uma cena ou um lêem um off, nos distanciamos do poeta. Sem contar que alguns depoimentos – como o do Gilberto Gil – parecem estar ali só para inglês ver (literalmente, porque, afinal, o filme precisa ganhar o mundo).
E assim, é o documentário sobre Vinícius. Médio. Aliás, já que começamos lembrando do Aplicação, vamos terminar do mesmo jeito. Nos “conselhos de classe participativos”, tinha um conceito (avaliações com notas numerais eram proibidas) que eu daria sem medo pro filme: “o aluno (aqui, poderia ser o documentário) apresenta um desempenho razoável, alternando entre bons e maus momentos”. Aliás, os professores adoravam me dizer isso.
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