quinta-feira, dezembro 30, 2004

Muito bem. Não podemos terminar o ano com pendências. Vamos lá:
Chegamos no Parafernália e eu já tinha desistido da Rafa. Que fosse o que Deus quisesse. Me despi do personagem e junto com ele se foi o superego. Comecei a projetar a noite. Semanas antes, um jogo de amigas surpreendera-me numa atitude nada convencional no Garagem Hermética. Não é que as três moças, sempre tão comportadas, puseram-se a se beijar enlouquecidamente entre si. Não obstante, colocaram um amigo nosso na farra. Estavam todos bêbedos, tudo bem. O problema é que eu não estava e fui compulsoriamente introduzido no bacanal que não era bem bacanal, porque nem eu nem o amigo quisemos saber de viadage. Deliciamo-nos com o gosto da boca das amigas enquanto elas mesmo se experimentavam. Confesso que fiquei estarrecido: pois então andavam todos na libertinagem e só eu não sabia? Que babaca! Seriam todas as noites daquele jeito? Descobri depois que não - parece que não. Mas resolvi me vingar. Chueguei no Parafernália disposto a pegar o celular e acionar minhas concupiscentes amigas - e assim fiz. Enquanto ainda era cedo para encontrá-las e então mostrar as garras da vingança, pus-me a azucrinar todos no bar (aliás, como de costume). Cheguei mesmo a esquecer da Rafa. Até que o Tiago pediu-me que a levasse até o ponto do táxi. Claro, Tiago, não te preocupa que eu a levo até o ponto de táxi, até meu carro, até tua casa, a coloco na cama e tudo o mais. De modo que agora era minha obrigação dar o bote. Ela aceitou a minha carona e a viagem foi um desespero. Nós conversávamos, conversávamos, conversávamos e eu não achava o momento de agir. Comecei a suar frio. Afinal, eu era um homem ou um rato? Com esta indagação na cabeça, estacionei em frente ao prédio da moça. Foi então que num rompante, na hora do tchau, decidi: eu era um homem! Tasquei um chupão babado de língua que parece ter sido muito bem recebido pela moça. Mas eu era muito mais do que um homem - eu era fodido mesmo e usava camisa vermelharosalaranjada e só um cara assim faz o que eu fiz naquela noite. Passados dez segundos de beijo, abandonei a paixão e tive o auto-controle para afastar-me, afastá-la e, como quem não está nem aí, dizer:
- Quarta-feira te convido para ir na champanharia. Agora, sobe. Tchau, guria.
Tá, eu não sou um Don Juan e foi só ela entrar no prédio, para eu arrancar o carro, dar um urro de faceirice, meter a mão na buzina e ligar para um amigo para contar a façanha. Foi neste estado de graça que voltei ao Parafernália. Lá, enxuguei um pouco, liguei para minhas amigas lascivas e ainda fui encontrá-las em uma famosa boate da capital. Foi só elas me olharem que descobriram: em êxtase com o beijo na Rafa, eu só queria era beijar. E se semanas atrás elas haviam me submetido a um gostoso mas estranho ritual, hoje era a minha vez. E passamos a noite a beijar. Beija, beija, tá calor, tá calor! Baba, baba, sem amor, sem amor! Lambe, lambe, sem pudor, sem pudor! Enfim: que noite!!!
E esta história eu só comecei porque era dia 15 de novembro e fazia exatamente um ano que eu beijara a Rafa pela primeira vez. Hoje, um mês e meio depois do aniversário de namoro, foi-se o gancho. Mas ficou o amor. Te amo, minha gorda!

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