sexta-feira, janeiro 21, 2005

Se eu fosse o homem que planejo todas as noites antes de dormir, ah, que homem eu seria! Quantos feitos geniais teria protagonizado!
Provavelmente, se eu fosse o homem que planejo todas as noites antes de dormir, vestiria hoje a toga de juiz de direito e estaria faceiro por estar sendo transferido da comarca de Não-Me-Toque para São Leopoldo. Ou então: quanto dinheiro teria ganho eu fazendo com o Tiago vídeos institucionais para as maiores cabanhas do país. De todo o modo, seria um intelectual, leria dois livros por semana e escreveria belos artigos, crônicas e textos publicados nos melhores jornais do país.
Se eu fosse o homem que planejo todas as noites antes dee dormir, a Ana Gabriela teria sabido do meu amor naquele Natal de 95, o Tamper teria levado uma bordoada quando se achou dono da rua e pegou meu skate emprestado sem pedir, a Camila e a Márcia se impressionariam com a minha desenvoltura nas reuniões dançantes que nunca tive coragem de ir.
É justamente antes de dormir que construímos nossas utopias. Não é durante o sono que sonhamos; é um pouco antes do torpor. Porque quando sonhamos, no fundo, sabemos que estamos sonhando. Ao contrário, rolando na cama de cá para lá, de lá para cá, nossos sonhos se tornam possíveis - e somos capazes de tudo: de reconstruir nossas vidas, de correr três vezes por semana na praça da Encol, de escrever aquela matéria sobre o culto ao santo Cruzeiro na zona sul de Porto Alegre, de chamar o Rigotto para um tete-a-tete e explicar, por A mais B, porque uma TV estatal não funciona.
Mas de manhã, quando acordamos, puf: tudo isso se esvai, entra pelo ralo, percorre a tubulação do DMAE, cai no dilúvio, deságua no Guaíba e evapora. Nossos planos, há poucas horas tão exequíveis esbarram em tantas coisas - isso quando não nos soam como ridículos, absurdos ou, no mínimo, irrealizáveis.
Mas, ah, se a humanidade fosse o que os homens planejam todas as noites antes de dormir...

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