domingo, agosto 28, 2005

Quando a edição passa a faca no teu texto, quando transformam uma matéria de produção em notícia, só te resta espernear e usar o blógui.

As meninas de ouro
As ginetas de ouro

Elas têm muito em comum, admiravam-se mutuamente, mas nunca tinham se falado. Até quinta-feira, quando o Blógui do Tião promoveu um encontro, no Parque Assis Brasil, em Esteio.
- Oi. Te conheço por fotos – apresentou-se, com despretensiosa intimidade, a gaúcha Eliana Sussenbach, 27 anos, primeira mulher a ir a uma final de Freio de Ouro, há exatos 10 anos.
- E eu já te vi muitas vezes. Lembro bem que te olhava competir e pensava: "quero ser como esta menina". Tu tinhas cabelos bem longos na época – lembrou a uruguaia Soledad Ferreira, 34 anos, única mulher entre os 36 ginetes do Freio de Ouro deste ano.
Fisicamente, as duas ginetas têm pouco a ver uma com a outra. A castelhana é loura, tem a fala firme e decidida e a pele marcada de quem passa horas montando debaixo do sol. A brasileira é morena, tem a voz craquelada e a tez bem cuidada de quem trocou as gineteadas pela faculdade de medicina e hoje faz residência em dermatologia.
As diferenças, no entanto param por aí. Ainda crianças e adolescentes, ambas trocaram verões na praia por férias na fazenda, em volta de cavalos. Uma paixão tão forte que superou até mesmo a descrença da família.
- Quando eu era pequena, dizia que um dia seria domadora e ninguém me levava a sério – conta a hoje a agrônoma e domadora Soledad.

O sonho infantil começou a se tornar realidade quando, por volta de 1994, aos 23 anos e quase formada, a uruguaia foi convidada para treinar cavalos na fazenda de uma amiga da mãe. A história ficou ainda mais séria em 2002, quando abriu um centro de treinamento próprio, no município de Entre Rios, e classificou o primeiro animal para a final do Freio de Ouro, experimentando uma glória já vivida por Eliana.
- Eu entrava na pista e já começavam a bater palma e a gritar. No final, ainda ficavam de pé para aplaudir – lembra, arrepiada, a brasileira.
Em 1995, Eliana classificou o cavalo Relâmpago Tupambaé para a final. O feito causou surpresa e os organizadores da competição tiveram de se reunir para discutir se se permitia ou não uma mulher entre os homens. No fim, Eliana se apresentou de igual para igual em Esteio e fez bonito na prova de paleteada – a mais "dura" e perigosa de todas, na qual dois ginetes em alta velocidade têm de conduzir um terneiro em linha reta.
- Antes da prova, fiquei sabendo que minha dupla estava insegura, que tinha perguntado: "como é que eu vou paletear com uma menina?". Daí, meu treinador, o Vilson Souza, disse para eu já sair prensando o terneiro, para me impor. No fim, tiramos uma nota super boa – lembra Eliana.
Hoje, a meta da médica, que agora só monta por lazer, é classificar o filho de Relâmpago, que cria na fazenda da família, em Bagé, para uma final do Freio de Ouro. Já Soledad é mais ambiciosa.
- Meu primeiro sonho era me classificar para o Freio. Meu segundo sonho é ganhar o Freio – arremata a uruguaia, que apresenta-se com o colete número 12, montando a égua Del Paye Pa´Que Llores.

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