Um retrato da cultura gaúcha (será?), parte I.
Fui à Sala Eduardo Hirtz, na Casa de Cultura, hoje à tarde, ver O Labirinto de Fauno (não saiam de casa para ver esse filme). Cheguei em cima da hora, acompanhado de meu amigo Marco Maciel, também de férias. Um senhor de bigode abriu a cortina que dá acesso à sala. Quando dei as costas, ele fechou. Vi-me em um breu absoluto. Não havia cordão de luz na escada, luzes indiretas no chão e talvez nem a placa "saída de mergência", sinalizações obrigatórias em cinemas "comerciais". Se uma senhora cai ali, processa o Estado e quem paga somos nós!
Meu Deus, cadê o lanterninha? Esqueceram de sinalizar a sala e extinguiram o lanterninha - nisso eles imitaram a "concorrência". Tentei ligar o celular para iluminar o chão, mas a luzinha era muito fraca. Os trêileres eram de filmes escuros (óbvio).
- Sai da frente! - rosnou uma velha atrás de mim.
Tinha gente sentada atrás de mim! Nesse momento, minha única referência era a tela. Empacado, decidi que só havia uma coisa a fazer: seguir em frente. Se o bigodudo havia me deixado ali era porque a saída não era complicada. Dei um passo. Minha pança bateu na cabeça de um senhor.
- Cuidado!
- Desculpa, desculpa.
Numa breve cena em que a tela clareou, descobri que a sala estava lotada e que o caminho para as únicas cadeiras vagas, no gargarejo, era pela direita. Tateando na parede me aproximei da tela, não sem tropeçar em algo que eu creio ter sido o extintor de incêndio. Sentamos, eu e Marco, na segunda fileira. Passado o desespero, comentamos, em baixo e mal som, o inusitado. Passava ainda o último trêiler, de forma que uma conversa sussurrada seria algo normal (ao menos no "circuito comercial").
- Shhhhhh. Cala a boca. Ó o respeito - a platéia protestou.
- Vão tudo tomar no cú bando de intelectualóides de bosta. Vão trabalhar, seus vagabundos! - eu devia ter gritado, mas me segurei.
As próximas duas horas foram de estresse térmico, devido ao forno em que se transfomou a sala (ar condicionado, não trabalhamos), e de pequenas irritações causadas pelo filme. Quando a sessão acabou, olhei para trás. Só magrinho vegetariano de óculos e cabelo despenteado. Óbvio, todos permaneceram sentados, para ver nos créditos quem tinha segurado o pau de luz na cena do bosque.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
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