
"O helicóptero que não voa, o dinossauro que não caminha, o carro que não completa o looping, a moto que não obedece ao controle. Para todos esses problemas, Marcelo Lopes. Deslocado do setor de estoque de uma rede de lojas de brinquedos da Capital para uma filial em um shopping, Lopes virou a última esperança para pais ansiosos após mais de 24 horas de lamentações de filhos frustrados com presentes que, ao ligar, não funcionaram.
O técnico em eletrônica passou o dia tentando tirar o beiço de crianças como Bernardo, sete anos, que, na noite do dia 24, viu que seu novo dinossauro de controle remoto não caminhava direito._ Por que ele não está caminhando, papai? Chama o Papai Noel de volta, mamãe. Chama... _ apelou, antes de cair no choro.
Papai Noel não voltou, e a mamãe, a estudante Luciana Santana, acompanhada do pai, o programador Jerônimo Queiroz, tiveram de apelar para Lopes. Na tarde de ontem, observavam com expectativa o técnico avaliar o brinquedo. Mas nada de o dinossauro dar passos para a frente. Em vez disso, insistia em uma dança desencontrada, dando voltas em torno de si mesmo. Tão desajeitado, que um adolescente peralta, diante dos olhos dos curiosos, ensaiou um rebolado e arrancou risos da platéia:
_ Até eu mexo melhor que ele.
Ao fim, o dinossauro trapalhão foi trocado por outro igual, mas mais coordenado. A mesma sorte não teve o casal de médicos Jorge e Andréa Alves. O "presente" deles para Lopes era uma pista de corrida sobre a qual um carrinho impulsionado por um motor deveria dar loopings até ser engolido ou amassado por um gorila assassino. O problema é que na engenhoca, dada ao filho Eduardo, cinco anos, o carrinho caía do alto ao dar as voltas, tendo um final bem menos glamouroso do que a goela do macaco. Depois de trocar as pilhas, o carrinho e o motor propulsor e de reconstruir a pista, sempre orientado por Jorge _ já craque na montagem dos trajetos _ Lopes jogou a toalha.
_ Acho que eles têm de recolher isso, porque os pais ficam cheios de expectativa ao dar para os filhos e depois não funciona _ queixou-se Andréa, antes de sair com um vale para troca por outra mercadoria.
O próximo "paciente" de Lopes foi um cão salsicha, de óculos escuros e lenço na cabeça, cuja habilidade é cantar rap enquanto dança e mexe as patinhas. O problema é que, a cada movimento, o cachorro fazia um barulho como se todos seus "ossos" estivessem quebrando. Transformado em "veterinário", o técnico em eletrônica disse ter condições de curar o brinquedo, mas precisaria de uns bons 10 dias. Sem um similar no estoque, a mãe, a advogada Kátia Moyses, teve de aceitar deixá-lo no conserto, ainda que tenha de enfrentar o choro compulsivo do filho Gabriel, de quatro anos.
_ Não adianta, não tem escolha. Ele quer o cachorro mesmo _ diz."