quarta-feira, outubro 29, 2008

Estes dias de inverno no verão, estes dias de verão no inverno, eu já disse isso, mas agora acrescento estes dias de primavera na primavera, mas não aqueles dias de outono no outono, enfim, estes dias são dias que têm algo de sobrenatural, mas agora eu acrescento que, apenas por serem, estes dias podem te levar aos píncaros da euforia ou às profundezas da depressão.

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Muito escrevi sobre as frutas e a primavera da Jaime Telles, sobre a atmosfera idílica do estacionamento da Zilnei, aquela que me chama de Giovani, aliás, saudade dela e do estacionamento, tenho de dar uma estacionada lá qualquer dia desses. Mas agora quero dizer das frutas e da primavera da Fabrício Pilar. É lentamente que exploro esta minha nova já velha rua. Se por um lado me demoro a aproveitá-la, por outro posso saboreá-la aos poucos, como o picolé que se lambe e não se morde, cada dia uma descoberta. A verdade é que este Mont Serrat não deve nada àquele Petrópolis. Em meia quadra e meia de caminhada hoje descobri a pitangueira da vizinha da frente, a goiabeira do meio da rua e as muitas... as muitas... Bom, ninguém sabe bem que fruta é aquela, mas todo mundo come, tem um gosto azedo, mas a gente finge que é doce. A senhora da maloca da esquina disse que é cereja, mas eu garanto, de cerejas ela não sabe nada. Outra velha, cheia de convicção, me garantiu ser amora, e então fiquei pensando como pode ela, em seus setenta e tantos anos de vida, não ter aprendido o que eu aprendi, senão antes, aos seis, quando entrei no Aplicação e conheci a amoreira que circundava "a casinha" de brinquedo. Desconfiei que pudesse ser jambolão, mas não, ninguém dirige melhor do que eu na estrada do jambolão, lá na Gamboa, eu sei muito bem o que é um jambolão para não olhar e dizer de cara: eis um jambolão. Então, tem esta fruta que é meio amora, meio cereja, meio pitanga, meio jaboticaba, meio jambolão e tem forma de caju e que ninguém sabe direito o que é. E, para encerrar, tem também o pêssego do casebre da esquina, um pêssego pequeno e verde e sem veludo cuja folha cheira a marzipan, mas que, definitivamente, é um pêssego, eu mesmo o quebrei e vi o caroço.

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Como é bom um almoço solitário ao ar livre, o vento fresco levantando os guardanapos presos debaixo do prato, o guarda-sol fazendo as vezes de árvore.

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Ai, ai... Perdão por toda essa viadagem. Deixarei os jacarandás para depois.

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