sexta-feira, novembro 28, 2008

Quando um ser humano do sexo feminino vem ao mundo, seu cérebro já traz um vocabulário secreto que só se desenvolve com a maternidade. É engravidar e a mulher começa a falar uma língua diferente, composta de palavras tão estranhas quanto linha nigra (a listra que aparece na barriga com a gestação) e que você não sabe como, nem onde aprendeu. E nem vai saber – ela não aprendeu: nasceu sabendo.

E não apenas isso: aflora na gestante uma nova noção de tempo. De uma hora para outra, sua mulher, que pensava que 2,5 semanas eram duas semanas e cinco dias, passa a calcular com perfeição qualquer intervalo com a unidade semana. Quase que um convite para almoço amanhã vira "amor, vamos almoçar daqui a um sétimo de semana?" e "daqui a dois anos" vira "daqui a 112 semanas". Claro, a gestante sempre tem na ponta da língua quantas semanas acumula de gestação. As gurias sempre me perguntavam:

- Com quanto tá a Rafa de gravidez?

- Três meses, mais ou menos.

- Mas quantas semanas.

- Sei lá, faz a conta, mulher. Só sei que fabricamos dia 7 de março.

Voltando ao vocabulário feminino, ele se mostra ainda mais rico quando nasce o bebê. Sua mulher e as médicas e as avós começam a falar outra língua. E você, pobre pai, tem de ter um dicionário de português e outro de inglês e outro de medicina para entender. Para facilitar o ingresso dos homens nesse novo mundo, deixo aqui um glossário, que pode ser enriquecido com comments. Afinal, como diz meu amigo e papai Filipe Maia, este blógui tem de ser relevante.

 

Coto: anagrama de toco; o toco do umbigo, enquanto já cortado e ainda não caído.

Mecônio: os primeiros cocôs do recém-nascido. Gosma escura e grudenta, parece doce de ameixa. Sai nos primeiros dois dias, dando lugar ao cocô erva-mate e ao cocô molho de maracujá, respectivamente, nos dias subseqüentes.

Tampão: tampa grande, decerto. Primeira parte do corpo feminino que rompe antes do nascimento do bebê. Os sintomas são vazamento de borra marrom e sangue aguado. Após esse rompimento, ainda pode levar dias para o parto. A gente ouve falar de bolsa, útero, contrações, etc... Mas, antes de tudo, há o tampão, quem diria!

Colostro: o leite que não é leite que sai nos primeiros dias. Precioso em conferir defesas imunológicas ao bebê. Aguado após o nascimento. Igual a cheddar antes dele.

Nan: marca registrada. Alimento infantil da Nestlé que virou sinônimo para qualquer complemento alimentar. Não hesite em dar Nan em copinho de cachaça se seu pobre filho é glutão e não se satisfaz com o colostro. Fará bem aos seus ouvidos (e a seu sono)

Concha: armadura de plástico para a teta, ops, para o seio da mamãe. Protege a mamica, ops, o mamilo contra fissuras, e o parceiro da mãe contra jatos de leite. Pode vir com reservatório para leite materno.

Mijão: sim, o seu filho também é um mijão, ainda mais quando está trocando as fraldas e brinca de chafariz. Mas a palavra também indica a calça ou ceroula do bebê.

Tip-top: desse eu já tinha ouvido falar. Espécie de macacão, a roupa ideal para o bebê. Peça única fechada por botões. Tenha muitos destes.

Bóri: certo que é body, mas, para ser in, a gente tem que falar bóri, com erre. Espécie de camiseta de algodão macio que pode ir debaixo do tip-top.

Cuero: coberta de algodão ou lã para cobrir o bebê (e para que mais serviriam as cobertas)? Um dia deve ter sido de couro.

Alucinar a teta: é o que seu filho faz quando fica mordendo o ar, a roupa e seu dedo imaginando que se trata do seio. Mais detalhes, pergunte para a Melanie Klein. Ou para a minha irmã mesmo.

Bebê-conforto: pequeno berço desconfortável para levar o bebê no carro ou na rua. Evolução do moisés, agora impermeável, para ser largado no rio sem molhar o Moisés.

Sling: faixa que se usa atravessada no tórax para carregar o bebê junto ao corpo. Muito na moda, embora pareça coisa de ípi (hippie).

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