quinta-feira, setembro 28, 2017



Então, vou contar a origem da expressão 'ficha rosa'. Agora tá na moda, por causa da novela da Globo, mas de há muito me intriga. Ouvi pela primeira vez anos atrás, referindo-se às recepcionistas de eventos que também aceitavam sair com os executivos. Em troca de uma boa remuneração, claro. Ficava pensando em como se abordava uma profissional em uma feira:

- Oi. Você é ficha rosa?
Ou fantasiava o momento em que eu seria abordado.
- Olá, esta injetora de plástico é perfeita para sua empresa. E eu sou ficha rosa.
Cheguei a ouvir (ou imaginar) que as garotas de programa usavam fichas rosas - destas de apostas em jogo de pôquer, redondinhas, plásticas - e as entregavam junto com o cartão de visitas, para dar 'o sinal'.
Também já ouvi falar da expressão 'book rosa', referindo-se a catálogos de modelos que faziam um pouco mais do que modelar. Em verdade, já vi um catálogo desses, em um hotel. Muitos hotéis, de luxo, inclusive, tinham seus books. Mas o que me foi apresentado não era rosa (a propósito, não utilizei os serviços ofertados).
No começo desse ano, perguntei a uma garota de programa famosa no Twitter o que era ficha rosa. 'Garotas de programa que só saem com os caras top, muito ricos', ela deu o reply. Mas eu estava lendo um livro revelador e respondi: 'Então vou te contar pra ti'. E expliquei.
Na década de 1960, nos Estados Unidos, a Playboy, a revista do Hugh Hefner, iniciou um ousado empreendimento: uma cadeia de clubes masculinos denominados Playboy Club. Abriram várias filiais. Diz a Wikipedia que o negócio funcionou até 1991 (depois ainda abriram uns isoladamente pelo mundo). Mas o forte mesmo foi nas décadas de 60 e 70.
Os Playboy Clubs eram clubes masculinos, onde homens se reuniam para beber (muito), provavelmente fumar (muito), admirar e ser atendidos por coelhinhas da Playboy. Vestindo a típica e diminuta roupa, elas eram as garçonetes. A disputa por uma vaga de coelhinha era enorme. Para se trabalhar nos clubes, as meninas tinham de passar por uma seleção rigorosa, na qual os atributos físicos contavam muito. E havia até exame ginecológico! Para ver se estava tudo em ordem, digamos assim, nos Países Baixos.
Lá dentro, elas seguiam um (nem tão) rígido código de condutas. Perdiam pontos se usassem salto baixo, se maquiassem mal, tratassem mal os clientes. Mas ganhavam muito se estimulassem o consumo de bebida. Daí a origem da clássica oferta das garotas de programas em boites especializadas Brasil afora? 
- Me paga um Martini…? 
Que com o tempo virou 'me paga um Keeeeep?' (renho amigos da praia que jé desembolsaram até R$ 50 por um Keep Cooler, só pra esticar o papo com a garota) e, por fim, o 'me paga um Marula com Rédi Bull?'. 
Mas nos Playboy Clubs era pra ser diferente. O manual das coelhinhas proibia-lhes sair com os clientes. Havia inclusive uma firma de detetives, a Willmark, com orientação de 'usar seus homens mais atraentes para fazer propostas às colehinhas e mesmo oferecer até 200 dolares'. Na prática, porém, algumas meninas eram demitidas porque se negavam a sair com gerentes e clientes com a Chave Um: os VIPs.
Bom, mas vamos ao que interessa. Para se tornar coelhinha nos Playboy Clubs, o primeiro passo para a menina era preencher com seus dados uma extensa FICHA ROSA. A origem da expressão é um simples fichário cor-de-rosa, e não uma ficha de poker, como minha imaginação construíra!
Onde eu aprendi isso? No Grande Livro do Jornalismo, editado por Jon Lewis, que traz reportagens históricas clássicas. Entre elas, uma de 1963, da Show Magazine, assinada por Gloria Steinen, que se submeteu, para a matéria, a todo o processo de seleção de coelhinhas. A propósito, sua reportagem repercutiu muito e fez Heffner acabar com o exame físico feito nas candidatas. 


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