sábado, agosto 23, 2025

Finado Cocé - Original
por Sebastião Ribeiro


Viveu lá no garupá
Pelas bandas do jarau

De primeiro, gente e gado
De segundo, ovelha e nada
Só tapera e alambrado

Amassado de sol
De a cavalo ou de a pé
Existiu o tal Cocé


(cantado - refrao)
Solito no más
Solito no más

Solito no más
Solito no más


(falado, dito, como na noz dele, lenta...)
E nunca vi nada
Que não fosse deste mundo
Salamanca alma penada
Nunca vi nada
Que não fosse deste mundo



De guri andava à toa
Nhu-Porã, um mundo todo
Era de cana e de carreira
Cancha reta, guaiaca cheia

Vencia tudo
Perdia tudo
Pesava nada

Não foi china, foi a lida
Que fez cambiar de banda
Que fez cambiar de vida
Pras bandas do Garupá

Uma primavera rebrotou
Findado, curtido, amassado
Na velha Nhu Porã
O véio Cocé!

Teve festa e teve cana
Teve canto e teve cancha

Outra vez era guri
Meia cancha meio reta
Égua puro-meio-sangue
Sangue galopando na veia

Partiu o véio
Amuntado na yegua branca
Rodou o véio
Amontoado pata e anca

Cheio de cana
Cheio de gana

Finado Cocé!


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"Finado Cocé" (versão metrificada)

I
Viveu lá no Garupá
Pelas bandas do Jarau
De primeiro, gente e gado
De segundo, ovelha e nada

II
Só tapera e alambrado
Amassado de sol
De a cavalo ou de a pé
Existiu o tal Cocé

Refrão (cantado)
Solito no más
Solito no más
Solito no más
Solito no más

Interlúdio (falado, lento, como na voz dele)
E nunca vi nada
Que não fosse deste mundo
Salamanca, alma penada
Nunca vi nada 
que não fosse deste mundo

III
De guri andava à toa
Nhu-Porã, um mundo inteiro
Era de cana e carreira
Cancha reta, bolso cheio

IV
Vencia tudo, perdia tudo
No bolicho, na Luzia
Não foi china, foi a lida
Que fez cambiar de vida

V
Uma primavera rebrotou
Curtido, batido, 'rengado'
Na velha Nhu-Porã brotou
Véio Cocé relembrado

VI
Teve festa e teve cana
Teve canto e teve cancha
Outra vez era guri
Com o tempo que se espança

VII
Meia cancha, meio reto
Égua puro-meio-sangue
Sangue a galope na veia
Na poeira, na tranca, no lance

VIII
Partiu o véio Cocé
Amuntado na yegua branca
Rodado na terra dura
Amontoado, pata e anca

IX (final)
Cheio de cana, cheio de gana
No delírio do que já não é
Se achando guri na cancha
— Finado Cocé!


sábado, julho 19, 2025

Sábado à tarde

acordei 11h. fiz café. um ovo caiu no chão. limpei. fiz crepioca. fiz pao de queijo. comi. tirei a maminha do freezer. tomei banho. me vesti. me deitei. coloquei um filme do mubi. blow out. brian de palma. assisti. acabou agora. estou deitado. o joelho dói. minha alma, também. de saudade de você.

domingo, julho 06, 2025

Insetos

Faz 423 dias. Em todos, todinhos, em alguma hora, eu pensei: "não, não, não, não pode ser, minha família, a coisa mais importante, como?, como?, não acredito, como pode ser?". É um pensamento intrusivo, aparece sem avisar hora, lugar ou circunstância. Até sem gatilho algum. Mas quase sempre preciso fazer força pra que passe. Esquece! Pensa em outra coisa! Sacode a cabeça! Passa, deixa passar. E passa... Até reparecer daqui a pouco ou no outro dia. Às vezes é o ferrão de um marimbondo, às vezes a picada de um mosquito, muitas vezes o zumbido de uma mosca, até em forma de inofensiva mariposa que passa, e a gente nem dá bola, ele vem. Mas sempre volta. E sabe o quê? Dizem que é assim. Que leva anos. Dizem até que jamais passa. Já pensou? Nunca, nunquinha. E quanto mais tempo se vai, maior a certeza de que é irremediável, o primeiro ataque do enxame deixou uma cicatriz pra sempre. E fazer o que com esse sentimento? Se o pensamento vem, e só o que se faz é substituir por outro, empurrando-o pra dentro do saco de novo, ele vai estar sempre aqui, prontinho pra reaparecer. Amanhã. Depois. Depois. E depois...

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E sabe o que mais? Isso não tem nada a ver com os afetos e amores que construímos depois. Nada, nadinha. Um amor, quem sabe até uma paixão, por gigante que seja, não abre o saco e tira lá de dentro o pensamento - a tua família não existe mais, aquela familia não existe mais, nunca mais vai existir, e isso vai vir, nem que seja sempre como uma mariposa. Que nunca vai virar borboleta, me disseram...

domingo, junho 15, 2025

Só em Parintins

Daí eu cheguei no meu quartinho, digo, cativeiro alugado em Parintins. Falei pra dona do lugar: "bah, preciso passar no aeroporto. Como e o melhor jeito de ir?" Ela: "Vai na minha moto". Eu: "Não tenho carteira de moto". Ela: "Não precisa". Eu: "Teu capacete não entra em mim". Ela: "Não precisa". Eu: "Você não está entendendo, eu nunca andei de moto, eu não sei pilotar, eu só ando de bicicleta." Ela: "É igual, só tem marcha. Pegue minha moto". Eu: "Tá bom, já que você insiste." E fui, na moto dela, sem capacete, sem carteira, tomando solavanco a cada troca atrapalhada de marcha. Só em Parintins, combinação de maluca muvuca e povo hospitaleiro.

quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Frases e aforismos

Susana: "Isto é problema meu / Isto é problema dela"

Pati P.: "A socada é determinante!"

Karin3 A.: "Eu me apaixono em espanhol."

sexta-feira, janeiro 31, 2025

Carta à cerimonialista

Margarida! 

Eu me separei. Faz 12 meses. A Rafa quis. Eu não tava esperando. Fiquei devastado, mas passo bem, super bem, aliás. Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro. Na hora que ela falou, me debulhei em choro e desespero. Disse: "tu fez o dia mais feliz da minha vida, o do nosso casamento; e agora, tá fazendo o dia mais triste". Peguei minhas coisinhas e fui embora na hora. Tá tudo bem entre nós. Nos damos bem, nossos pais passam férias juntos,  às vezes saímos com as crianças, mas nunca mais ficamos, nem pensamos em voltar. Só ainda fico triste de não passar a velhice ao lado da mãe dos meus filhos. Com a mina que saio, brinco: "putz, não posso casar na igreja, já gastei minha cota, quebrei o juramento". Uma das primeiras pessoas que vi ao me separar foi a Valéria, que me vendeu a aliança. Eu estava muito gordo e a desgraça não saía do dedo. Fui na ótica dela e disse: "tu me vendeu esta p*rra, agora tu resolve". O marido dela pegou o alicate e quebrou. Foi uma comédia, todos rimos, nós e as funcionárias da loja, que acompanharam o show. E assim foi... 

Achei importante te contar...