sábado, fevereiro 05, 2005

Estava pensando. A felicidade plena – ok, não sejamos tão ambiciosos, porque nada nesta vida é absoluto (à exceção do Romário), mas a felicidade, simplesmente, deve estar na harmonia entre todas as coisas. Digo, coisas da vida. Ou seja, para ser feliz, a gente tem de trabalhar, se divertir, fazer esportes, de tudo um pouco, a cada dia.
Por isso que os índios são felizes. Quer dizer, não sei se eles são felizes, não sou antropólogo, muito menos indigenista, mas eles me pareciam sempre bem faceiros naqueles documentários Kuarup, da Manchete. Tenho impressão de que nas aldeias se acorda, se come, se caça, se toma banho no rio, se conversa, se fode, se dorme, tudo no maior equilíbrio.
Sabem que no colégio eu li, para a aula de filosofia, cujo professor era o Celso Marques, um cara que vocês deveriam conhecer, inclusive uma vez ele fez a turma meditar em sala de aula, depois de contar que já presenciara uma levitação e o resultado foi que todo mundo meditou, ninguém levantou vôo e eu tive de sair da sala me mijando de rir, atitude à qual não me traz orgulho, tampouco vergonha - mas eu ia dizer que eu li para a aula do Celso Marques o texto de um samoano sobre os “papalaguis”. Digitem aí no Google: “samoano” e “papalagui”, que vale a pena.
Amigos, desculpem-me, não era desse texto que eu queria falar, o papo era outro, mas alguma coisa me levou ao samoano. Na verdade, eu queria dizer que tive de ler, para aula de filosofia, o livro “O que é budismo”, daquela coleção de livrinhos que explicam o que é qualquer coisa (menos o que é felicidade). E que eu me lembre, Sidarta, o Buda (está certo isso de dizer que Sidarta é o Buda?), depois de passar por todos os sacrifícios, viver mais do que frugalmente, comendo o mínimo, recluso no bosque, meditando para atingir o Nirvana, decidiu que a revelação estava no meio de tudo, entre os extremos, nem no oito, nem no oitenta, nada de auto-destruição, algo entre o Yin e o Yang. Eu gostei muito dessa conclusão, tanto que naquele momento decidi que seria do PMDB, o que, ademais, me poupou conflito em casa, por ser então o partido de meu pai, e me criou sérios problemas no Aplicação, por motivos óbvios. Mas, enfim, se até o Buda era centrão, por que eu também não podia ser?
E tudo isso prova que a minha idéia de uma vida harmônica e equilibrada encontra forte sustentação na história do pensamento humano. Creio mesmo que ela aflore na literatura de auto-ajuda, mas isso eu nunca vou descobrir. A diferença entre a minha proposta e tudo o que já se disse sobre o caminho das pedras, digo, da felicidade - desculpem, de novo, foi um ato-falho, uma vez tive de ler o texto “O caminho das pedras” de Heideger para a aula do samoano, perdão, do Celso Marques, e óbvio que não entendi lhufas do que tinha lido, mas a diferença do que já se disse sobre o caminho da felicidade e a minha teoria é que eu vou além. Acabei de montar uma agenda ideal para todos os homens que ambicionam a felicidade. Assim, para sermos como os índios deveríamos reservar:
- 9 horas para dormir (e nem me venha com esta de seis horas para adulto, que isto é o sistema capitalista financiando pesquisas para nos cravar cada vez mais!)
- 3 horas para trabalhar
- 1 hora e 45 minutos para comer
- 1 hora e 15 minutos para fazer exercício
- 2 horas para estudar
- 1 hora para ir ao banheiro (incluindo banhos)
- 2 horas para beber e conversar
- 1 hora para cumprir as funções sexuais
- 1 hora para cumprir obrigações, como pagar contas
- 2 horas para ir ao cinema, fazer compras ou se divertir mais um pouco, trepar mais um pouco, dormir mais um pouco, estudar mais um pouco, menos trabalhar mais um pouco
Foi assim que criei a fórmula da felicidade e, de lambuja, ainda expliquei por que todos nós somos infelizes. Agora, trabalhadores do mundo, passemos à luta. Felicidade já!

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