segunda-feira, março 28, 2005

É muito triste entrar nestes condomínios da Serra. Patético, porque você os vê não prontos, mas ainda virgens, de forma que o único pensamento que vem à cabeça é: "as mototsseras vão roncar. Neste fim-de-semana, visitei o Reserva da Serra (www.reservadaserra.com.br). Na entrada, uma sede esportiva, um club house, e que diabos é um club house?, um pórtico, tudo imitando as casas da Toscana. A pintura como se desbotada por décadas de contato com a terra italiana, com o vento italiano, com a chuva italiana, o reboco liso adornado aqui e ali por uma luminária que podia ser um lampião no século XIX, tudo isso na Canela do século XXI. Em princípio, toda imitação soa brega, kitsch, coisa de novo rico ou de velho pobre, mas dá até uma vontadezinha de gostar do faz-de-conta. Até que uma mirada no horizonte se impõe e faz cair a ficha. Araucárias, caneleiras, troncos manchados de branco, aranhas peludas, aranhas peladas, veados, diz uma placa de trânsito em uma das muitas ruas que entrecortam a mata nativa. E de vinte em vinte metros uma placa: lote Q11 - 25, Q1 - 12, Q5 - 07, sendo Q sempre uma quadra. Em cada terreno, a certeza de que o mato está com seus dias contados e de que todos vão preferir a vastidão e a ostentação de um imenso gramado a um bosque na porta de casa - como aliás já acontece nas únicas duas casas construídas. 38% da área total do condomínio será preservada. 100% da aranhas e dos veados terão de coabitar 38% do terreno - e ainda conviver com o jogging nas trilhas ecológicas. Isso dói, mas dói mais ainda saber que nem uma viva alma trepará numa caneleira para que as motosserras sejam desligadas. Não sou contra nem a favor dos condomínios, mas me doeu em algum lugar visitar essa Toscana canelense.

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