quarta-feira, novembro 16, 2005

Ontem, fizemos dois anos de namoro, eu e a Rafa. Íamos comemorar no Puppi Baggio, atraídos pela possibilidade de tomar champagne por um preço só uns 20% acima do cobrado da loja de vinhos do porão. Mas o restaurante estava fechado, bem como muitos outros da redondeza, e cogitamos o Usina das Massas, ao lado. Entramos, lemos a carta de vinhos, descobrimos que a champa mais barata seria a Chandon por R$ 54 e fomos embora. Não sem antes argumentar com o maître que com a concorrência da adega do Puppi ao lado, eles iam ter de reformular os preços. Ao menos dos espumantes, porque os outros vinhos estavam OK, alinhados com as sugestões da distribuidora Vinhos do Mundo. O rapaz foi bem simpático e sugeriu que levássemos a própria bebida, pagando a rolha de R$ 15, uma das mais baratas da cidade. (Vou poupa-los dos cálculos, desta vez).
Apesar da simpatia do funcionário, resolvemos tentar outras paragens. Oyster Box, fechado, Lê Bistrô, não, e cá estamos de novo em frente ao Usina. Melhor dar uma chance a esta casa que abriu com um ambiente asqueroso, luzes de churrascaria, me lembro, e agora já se apresenta com um certo requinte decorativo, além de bom atendimento.
O garçom fez uma educada explanação sobre o funcionamento do cardápio, os pratos são para um ou para dois e, sim, dá para jogar massas e molhos. Mas vamos ao que interessa: pedimos um branco Casa Valduga, R$ 30, e a Rafa quis a massa mais cara da casa. Mediterrâneo: fetuccine com molho de camarão, lula, tomate, azeite e R$ 60.
O menu vem em uma panela de ferro, bonita, mas que talvez continue cozinhando a massa na mesa. Umas garfadas e dá para ver que qualidade da pasta é o grande trunfo desta Usina. Fabricada pelo próprio restaurante, a massa não perde a consistência nem se o cozinheiro se passa um pouco no cozimento; é firme, sem deixar de ser leve. Uma beleza.
Os camarões vêm com cozimento adequado, apenas um pouco mais do que quase cru. Uma vez ouvi que existia o camarão e a camaroa e que um deles seria menos catinguento (alguém sabe algo sobre isso?). O da Usina tinha um gosto um pouco mais forte do que o ideal, mas totalmente aceitável. A lula, esta sim, estava chiclezenta acima da média. Não sei como fazê-la ficar menos elástica, mas sei que já comi umas melhorzinhas. Mas o maior problema do prato é o molho. O tomate é bom e siciliano, sim. Mas é muito. O molho vermelho enche até a metade da panela. Resultado: 50% da massa termina por passar, porque cozinha imersa no líquido quente, e a ficar um pouco mole demais. Pior: a quantidade de tomate, azeite e frutos do mar é totalmente desproporcional. O molho de tomate atrapalha os contrastes de sabores, impõe-se mais do que os outros ingredientes e faz a malha mediterrânea quase parecer massa ao sugo. Ainda assim, dá para sentir o gostinho da pimenta ao fundo.
Eu preferiria que a massa mediterrânea viesse num pratinho, com mais azeite, mais camarão, mais lula, mais pimenta e menos tomate. Mas essa coisa de fazer um monte de molho é mania em tudo quanto é restaurante italiano.
Apesar das críticas, a Usina passou no teste, com uma nota de 8,25. Ainda mais depois que o garçom chegou à nossa mesa, recolheu os pratos e disse que a sobremesa era por conta da casa. A propósito, o petit gateau não perde para os melhores da cidade, enquanto o sorvete com calda de frutas vermelhas pareceu-me pouco delicado, quase um milk shake de morango.

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