segunda-feira, junho 07, 2004

Minha família tem bronca do Tabajara Ruas. É que em Varões Assinalados, o escritor pintou uma figura deletéria, ao descrever José de Araújo Ribeiro, o Visconde do Rio Grande, que assumiu a presidência da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul durante a Guerra dos Farrapos. No romance histórico, nosso antepassado é retratado como um homem rude e tosco. Na verdade, o que mais incomoda é uma passagem do texto na qual ele recebe o regente Padre Diogo Feijó abotoando as calças depois de dar uma cagada. "´Desculpe fazê-lo esperar, Padre. Estava aliviando as tripas.´ Araújo Ribeiro está sem camisa, abotoando as calças, o cinto desafivelado. (...) Araújo Ribeiro exibe uma barriga cabeluda. Induz qualquer coisa obscena que desliza pela memória do regente", relata o livro. Disseram-me que a passagem foi retratada com mais grosseria ainda na primeira versão do texto, publicada como folhetim na Zero Hora. Acontece que a biografia de José de Araújo Ribeiro não é a de um sujeito grosseiro, que teria tal atitude ao receber o regente. O Visconde era um diplomata e um intelectual. Discípulo de Charles Darwin, escreveu "O Fim da Creação, ou a Natureza Interpretada pelo Senso Comum", com prefácio do próprio mestre da teoria da evolução das espécies. Além de ter sido presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, presidiu também as Minas Gerais e ocupou vários cargos políticos e diplomáticos. Foi o segundo embaixador brasileiro em Washington. De sua vida pessoal, sabe-se que foi um solteirão. Daí, aceitaria-se até mesmo que Tabajara Ruas o tivesse pintado como veado, talvez. Mas como um tosco mal-educado, isso não !

A artista plástica Maria Tomaselli já escreveu sobre isso em um artigo em ZH, louvando Araujo Ribeiro. Na sua coluna, ela reproduz um trecho do prefácio do livro escrito pelo Visconde sobre a evolução da Terra: "...emprehendi escrever o presente opusculo, em que me vou esforçar por mostrar que a terra é dotada de uma vida própria, e se nutre como os indivíduos organisados, e que deve como estes indivíduos crescer de volume, colhendo nas regiões do espaço, por intermedio de sua atmosphera, a matéria necessária á sua nutrição e crescimento" (em português oitocentista).

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