quarta-feira, abril 27, 2005

Eu queria ter falado um pouco mais sobre Mato Grosso. Estou mesmo escrevendo um relato monstruoso sobre um fazendeiro de lá. Mas a verdade é que a preguiça pega e dali a pouco a memória já se apaga e foi-se a oportunidade. Por isso, fiquemos com as pílulas. Lendo o MonocromáticoMulticolorido me inspirei para contar só uma coisinha.

O ônibus entre Cuiabá e Rondonópolis leva quatro horas para percorrer 200 quilômetros. É pinga-pinga. E pinga mesmo. Em tudo quanto é biboca. Não queria estigmatizar o lugar e dizer que tudo lá é diferente. Mas que acontecem coisas estranhas, acontecem. Está certo que coisas estranhas em lugares estranhos soam mais estranhas, mas, enfim, nem por isso deixam de ser estranhas.
O fato é que depois de parar em tudo quanto é rodoviária de beira de estrada, daquelas que nem um coitado cuidando do banheiro têm, o ônibus estacionou no meio da estrada. Tá, no acostamento - mas no meio da estrada. Isso não seria estranho se ao menos o motorista tivesse feito a coisa estranha que os motoristas gostam de fazer nessas situações: dar umas marteladinhas na roda. Parece que fazem isso quando estão estressados, para descarregar a raiva, sabe?
Mas em Mato Grosso, o ônibus parou, fiquei esperando as batidinhas no pneu e nada... Um minuto, dois, três, cinco, quinze, e nada... E todo mundo fingindo que aquilo era normal. Quando deu uns dezesseis miinutos de parada, o motora abriu a porta da cabine e anunciou:
- Desculpa, gente, estamos com um problema. Eu perdi minha carteira e nem documentos tenho para tocar a viagem.
A guria atrás de mim, de boné Nike e calça Triton, um tipinho que podia estar fazendo Porto Alegre-Garopaba ou qualquer outro itinerário bacana neste brasilzão, largou um "ninguém merece", eu ri cá comigo mesmo, os demais passageiros iniciaram um pequeno borburinho. E continuamos a esperar, enquanto nosso piloto agora revirava o bagageiro. Achei mesmo que ele estava de pilantragem, querendo saquear as malas dos pobres coitados (que as minhas tavam bem seguras no meu colinho). Cogitei a hipótese de ele ter perdido a razão e, como em um desenho animado ou filme B, começado a procurar enlouquecidamente mais pelo ato de procurar do que pela possibilidade de achar (vide episódio vó do Tiago, para quem isto faz algum sentido). Mas não é que dali a cinco minutos o tiozinho volta bem faceiro e anuncia, aliviado:
- Achei minha carteira.
E seguimos viagem. Sem nunca descobrir como diabos o infeliz foi perder a carteira no bagageiro.

Nenhum comentário: