Pronto. Já tenho minha opinião quanto ao caso Grafite.
1 - O ocorrido foi uma palhaçada. Conforme o próprio jogador são-paulino, o argentino só o chamou de "negro de merda" e "negrito". Parte-se então do pressuposto jacksoniano de que o termo "negro" é ofensivo. Fico imaginando as palavras que o agressor teria usado fossem outros os agredidos. "Alemão batata de bosta", pro Bergkampf; "careca fiadaputa", pro Ronaldo; "narigudo veado", pro Rogério Ceni; "dentuço chupador", pro Ronaldinho; "índio de uma figa", pro Arce; "gordo boludo", pro Maradona. Portanto "negro" foi um atributo físico tomado emprestado para ser o sujeito do xingamento. Até porque nem sempre os boleiros sabem o nome dos seus adversários. Se o Desábato soubesse como se chama o Grafite, poderria ter substituído "negro de merda" por "Grafite boboca". Ou não.
2 - A rusga que terminou no episódio lamentável em campo é fruto da tolerância dos árbitros com a indisciplina. É normal que os jogadores não se tratem a beijinhos e tapinhas nas costas. Um "solta, corno veado" no empurra-empurra do escanteio, um "fiadaputa" logo depois de uma falta violenta, tudo isso é aceitável. Mas a metralhadora de ofensas com o único objetivo de desestabilizar o adversário, como fizeram os argentinos com o Grafite, devia ser sempre punida com vermelho. Mas não, os juízes preferem achar tudo normal e, mais do que isso, lançar mão eles mesmos de gritos e xingamentos para tentar impôr a disciplina no Gramado.
3 - O Grafite chorou feito uma bicha não porque o xingaram por ser negro, mas porque recebeu paulada o jogo inteiro e terminou expulso depois de tentar (e não conseguir) ouvir quieto as - intoleráveis - provocações dos argentinos. Aliás, será que se ele ler este blógui vai me processar por discriminação contra as bichas? Certo que sim! Mas estaria incorrendo no mesmo erro, porque bicha é apenas um atributo, não um xingamento. Aliás, bicha que é bicha mesmo, bicha assumida, bicha desencanada, a-do-ra ser chamada de bicha. De tricha, de preferência.
4 - Apesar de todo este circo, de todas estas pessoas querendo aproveitar o episódio para aparecer, o ocorrido não deixou de ter seu lado positivo. Embora não tenha havido discriminação racial, acho que ficou claro que não se pode tolerar racismo de jeito nenhum no futebol – seja na arquibancada ou no gramado. Racismo, só contra os racistas!
sexta-feira, abril 15, 2005
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