Na semana em que postei no blógui reflexões sobre publicidade, quis o destino que fizesse uma imersão forçada no mundo dos publicitários. Fui escalado para a cobertura jornalística do Salão e do Jantar da Propaganda – para usar um lugar comum, o Oscar do setor. Não gostei do que vi.
Quarta-feira foi a vez do Salão, que premia peças publicitárias. A função foi no GNC Moinhos, um coquetel antes e as duas salas de cinema lotadas para conhecer os ganhadores. Fiquei absolutamente constrangido ao chegar no local. Aquela mesma vergonha que a gente tem quando vê um ator ruim em um filme eu senti vendo tanta gente assumindo o estereótipo do publicitário – tênis All Star, calça rasgada, camisa pra fora, cabelo metodicamente bagunçado. Especialmente entre os mais jovens, a necessidade de pertencer à tribo leva a um visual absolutamente ridículo quando visto no conjunto. Nesse quesito, nós, jornalistas, os mentirosos, pagamos menos mico.
Ontem, no Juvenil, o impacto não foi tão grande. Não sei se por que já havia me acostumado no dia anterior ou se por que boa parte do público estava de terno e gravata ou com um visual mais comportado. Exceção ao tal Miltinho Talavera, boné, camisa verde jogada no corpo, shorts socado no rabo – mas isso é folclore, não dá vergonha como a moçadinha transada.
De todo modo, tudo isso são detalhes, sentimentos pessoais, talvez até preconceito ou inveja de quem nunca conseguiu pertencer a um grupo ou assumir uma identidade coletiva – no meu colégio, fui o único que não usou camiseta de banda nem cabelo comprido. O que não é preconceito, nem inveja, nem brincadeira é o clima que senti na premiação dos melhores profissionais, no Jantar.
Coisa triste, deplorável, a rixa que existe entre colegas de agências diferentes. A concorrência, que devia existir só entre donos de agência e mesmo assim ficar apenas no plano profissional, toma conta da ralé. As turmas da Escala e da DCS travaram um duelo que ultrapassa a barreira do saudável. Quando um prêmio saía para a agência rival – e esta é a palavra certa aqui -, batia uma tristeza do outro lado. Na cara de alguns, a raiva era evidente. O povo de um lado não batia palma para os vencedores do outro. Até algumas vaias foram ensaiadas.
É compreensível que, em um mercado disputado, a relação entre os donos de agência sofra com episódios como o desta semana, quando a Colombo deixou a DCS e levou de volta sua conta de R$ 50 milhões para a Escala. É inconcebível que qualquer tipo de disputa empresarial extravase para os profissionais das agências, especialmente para o baixo clero. De maneira geral, os publicitários não só vestem a camisa da própria empresa como passam a detestar a da concorrente. Acaso não se dão conta que o concorrente de hoje pode ser o patrão de amanhã? Que o publicitário que está na outra agência é nada menos do que um colega (você aí parado, também é explorado)?
Entender isso é tão difícil quanto me imaginar com bronca do repórter do Correio, da Record, do Sul, da Band. Talvez meus amigos publicitários – e são um bocado – se choquem com o que vou contar, mas nós, jornalistas, costumamos nos ajudar em pautas e nos damos o direito de gostarmos muito dos colegas da concorrência.
Para encerrar, uma historinha. A premiação tinha terminado, eu estava passando os nomes dos vencedores à redação e me bateu uma dúvida quanto a um deles. Fui em direção ao povo da DCS, agência à qual pertencia a premiada que me deixara em dúvida. Abordei um rapaz.
- Com licença. Cara tu por acaso é da DCS?
- Qual é a tua meu? Sai fora, sou da Paim – disse, prestes a bater em mim.
- Ahn, desculpa, valeu.
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