domingo, dezembro 11, 2005

Andréa - PARTE 1

Quinta-feira me deu vontade de cortar o cabelo. Às vezes me dá essas vontades, normal. Tipo, o cabelo fica comprido, começa a pesar e de repente a gente se dá conta de que tem de fazer algo a respeito.
Eu bem que podia passar a máquina em casa ou ir a um barbeiro qualquer, mas não sou lá muito disso. Primeiro, porque odeio varrer tufos. Depois, porque detesto barbado tocando na minha cabeça. Viado, então, menos ainda. Sei lá, não gosto. Não entendo como entre uma mulher, seios roçando na tua nuca, e um homem, mãos cabeludas na tua orelha, tem gente que opta pelo segundo. E ainda se julga macho porque vai no barbeiro da Andrade Neves ou da 24 de Outubro.
Mas, enfim, corto com mulheres e perguntei pro meu primo se ele conhecia alguma. Sim, tem a Baiana, ali no Sexton, 30 pilas, serviço bem feitinho. Não é lá uma gostosa, mas usa botas e é bem simpática. Mas eu, no Sexton? Eu, no circuito Padre Chagas? Eu, metrossexual? Óbvio!
Gosto mesmo de conforto e adorei que uma bixinha se dispôs a estacionar meu carro. Serviços da casa. Mas achei mesmo meio exagerado o balde de frutas à disposição da clientela. Elas cuidando do meu cabelo e eu mordendo uma goiaba – nada a ver, né? Pena que a Baiana não tava disponível. E outra mulher, não tem? Tem a Simone, ocupada, fulaninha, sumiu, sicraninha, deu uma saidinha. Ah, e tem a Andréa, também, só antes me dá teu nome, sobrenome, CPF, endereço.
A Andréa não lava cabelos. A Andréa tem a Andréia pra lavar cabelos por ela. E lá me vou eu a cabresto da assessora da cabeleireira. Tu gosta de água morna ou quente? Fria. Já veio aqui antes? Não. Que coisa, antigamente a gente não tinha de marcar para ir a cabeleireiro, né? Tu não é de Porto Alegre, né? Sou, Moinhos de Vento, querida, por quê? Não porque eu sou de Canoas e me lembro que tinha cinco anos e minha mãe já marcava hora pra mim. Eu já cortei cabelo em Canoas, sabia? Não. E também nem me deixou contar que foi no Canoas Shopping, mas não importa, bom mesmo era aquela mãozinha fazendo carinho – xampu, xampu, creme rinse. Que mãos, Andréia, mas essa ficou só na vontade de dizer mesmo.
Agora, Andréa. Andréa usa preto. Andréa usa boné. Andréa tem tatoo. Andréa não tem “I”. Andréa chegou lá e hoje corta cabelo no Moinhos. E Andréa está muito curiosa com minha presença, camisa pólo desgrenhada e com logotipo arrancado, calça social meio desbotada. Como queres o cabelo? Legal, leve, soltinho. Quem te indicou para vir aqui? Ah, te disseram pra ir na Baiana? Estranho, achei que ela só fizesse “aquelas trancinhas”. Se eu sou contratada do Sexton? Não, capaz, a gente é tipo inquilino. Sou totalmente independente, dou 30% do que ganho para eles – e olha que só com isso o cara já paga o aluguel da casa. Se eu não ganho clientes estando aqui? Hahaha, tá brincando, né, querido? Tenho é que me cuidar para não perder os meus! Onde foi que eu aprendi esses truques com a tesoura? A vida, a vida... Gostou do cabelo? Show, né? Ah, preferes um penteado, menos ousado... Entendo, vai trabalhar. Assim tá legal? Beleza, vê se volta. Um beijinho na bochecha, paga ali no caixa.
Até que 30 pilas não era tanto por Andréa e Andréia. Cheguei no caixa, puxei o cheque, quanto deu? CINCOENTA REAIS!!!

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