quinta-feira, dezembro 08, 2005

Estou triste. Arrasado. Arrependido. Eu devia ter deixado a preguiça de lado, pego uma grana no drive-in Banrisul e voltado para pagar o estacionamento, em vez de simplesmente assinar aquele cheque. Se ainda desse para voltar no tempo...
No começo, eu me sentia um pouco desconfortável. Várias vezes pensei em falar, mas, quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava. Cheguei a recorrer a expedientes bobos, do tipo sair de casa com o crachá da RBS no peito. Mas não houve jeito e aos poucos fui me acostumando. Hoje, posso dizer que até gosto.
Quando entreguei o cheque, meu coração começou a bater. Não que não estivesse batendo antes, mas começou a bater mais forte, vocês entendem. Minha esperança de que ela simplesmente colocaria o papel em uma gaveta e mandaria a filha depositar esvaiu-se ali mesmo, na hora. A dona do estacionamento foi implacável: revisou o cheque como se fora caixa de minimercado no Rubem Berta. Dispendeu uns bons cinco segundos de sua atenção ali.
Sem dúvidas de que ela descobrira, saí de mansinho. A cabeça baixa, contando as pedrinhas do chão. E desejando do fundo do coração não ser chamado, não ter de dar meia-volta. Era uma da tarde e eu não estava preparado para o que viria: papo-mole, vergonha, explicações.
Graças a Deus, ela não me chamou. É certo que se deu conta, mas preferiu silenciar. Deve até agora estar se perguntando como diabos pôde passar um ano e meio - um ano e meio! - me chamando de Giovani se meu nome enfim era Sebastião. E eu, aqui no meu canto, mesmo sabendo que o cheque trouxe à tona minha identidade, torço para que amanhã tudo continue como sempre e ela me pergunte:
- Já pegou tua chave, Giovani?

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