Extra Extra, uma véia levou uma porrada na testa !
Agora, sim, fotos GRANDES no www.fotologuidotiao.fotki.com
sexta-feira, abril 30, 2004
quinta-feira, abril 29, 2004
Há lugares em que a sinalização permite que se estacione, mas ninguém o faz, por causa do movimento da rua - em frente ao meu prédio, por exemplo. Há lugares - a esquina da Praça Saint Pastous, por exemplo -em que as placas proíbem terminantemente o parqueamento, mas ninguém respeita, por ser o local tranqüilo. O bom senso impera no nosso trânsito. E o non-sense impera neste blog.
quarta-feira, abril 28, 2004
Garanto que ninguém aí de vocês que estão lendo este post jogou mais bola do que eu quando era guri. Sempre fui ruim - muito ruim -, mas sempre joguei muito. No IPA, no Parcão, no Aplicação. De manhã, de tarde, de noite. Na calçada, no meio da rua, na garagem do prédio, no hall de entrada do apartamento. Na educação física, no recreio, no intervalo do curso de inglês, antes da aula, depois da aula. No areião, na grama, no cimento. Futebol de campo, futebol sete, dois contra dois, gol a gol. Tres dentro tres fora, dezoito, paredão, bobinho. Era só ter uma bola ou uma folha de papel amassada para a brincadeira começar - sem frescura, sem cerimônia ou preparação.
Ontem fui bater uma bola com o pessoal da Fabico, cheguei atrasado, não aqueci, não alonguei e, à primeira jogada, senti uma fisgada na perna. Já não é a primeira vez nos últimos tempos que isso acontece. Pelo contrário ! Hoje, sem uma corridinha e uma esticada antes, não dá.
Existe um elo perdido entre esses dois momentos. Pensando nisso, pela primeira vez na minha vida, me senti "velho" - e não "maduro".
Ontem fui bater uma bola com o pessoal da Fabico, cheguei atrasado, não aqueci, não alonguei e, à primeira jogada, senti uma fisgada na perna. Já não é a primeira vez nos últimos tempos que isso acontece. Pelo contrário ! Hoje, sem uma corridinha e uma esticada antes, não dá.
Existe um elo perdido entre esses dois momentos. Pensando nisso, pela primeira vez na minha vida, me senti "velho" - e não "maduro".
segunda-feira, abril 26, 2004
domingo, abril 25, 2004
sexta-feira, abril 23, 2004
Tou com vontade de escrever que nem o Cardoso e a Lolita Pille e não me encham o saco !
Odeio trabalhar na TV. É que tenho espinhas e, para tapá-las, ou melhor, para tapeá-las, tenho de passar PÓ e CORRETIVO. A marca da maquiagem da TVE é NATHALIA BEAUTY. O produto é bagaceiro e COÇA. Quando fica quente, tudo fica duro, depois derrete e COÇA MAIS. E, numa PARATY 86, onde passo mais da metade do tempo de serviço, SEMPRE é quente.
Repórter de TV também tem de estar sempre de cabelo cortado e barba feita. ODEIO fazer a barba. Tenho PREGUIÇA. Sou VAGABUNDO, RELAXADO e detesto pagar 20 pilas por uma lata de espuma.
Pior que isso, só usar gravata. Ela aperta, SUFOCA, engasga. Dentro de uma PARATY 86, no verão, é mesmo capaz de matar, por isso, só a visto na hora de gravar. É nesta hora que tenho de colocar a camisa pra dentro também. Já não quis ser jogador de futebol para fugir daquelas MEIAS GRUDANDO NAS PERNAS SUADAS e daquele ELÁSTICO DO CALÇÃO APERTANDO e sobrepondo-se às camisetas. E agora, saber que tenho de me submeter a desconfortos piores...
O pior de tudo é ter a certeza empírica de que dessas FORMALIDADES não podemos fugir. Por quê ? Experimenta gravar um BOLETIM sem seguí-las e saberás.
P.S.: Pra completar, minha mãe acaba de chegar aqui no quarto e dizer que "isto aqui já não dá mais". "Isto aqui" é nada mais nada menos do que o meu MELHOR sapato, condenado por estar um pouquinho ENCARDIDO. Capaz que vou aposentá-lo.
Odeio trabalhar na TV. É que tenho espinhas e, para tapá-las, ou melhor, para tapeá-las, tenho de passar PÓ e CORRETIVO. A marca da maquiagem da TVE é NATHALIA BEAUTY. O produto é bagaceiro e COÇA. Quando fica quente, tudo fica duro, depois derrete e COÇA MAIS. E, numa PARATY 86, onde passo mais da metade do tempo de serviço, SEMPRE é quente.
Repórter de TV também tem de estar sempre de cabelo cortado e barba feita. ODEIO fazer a barba. Tenho PREGUIÇA. Sou VAGABUNDO, RELAXADO e detesto pagar 20 pilas por uma lata de espuma.
Pior que isso, só usar gravata. Ela aperta, SUFOCA, engasga. Dentro de uma PARATY 86, no verão, é mesmo capaz de matar, por isso, só a visto na hora de gravar. É nesta hora que tenho de colocar a camisa pra dentro também. Já não quis ser jogador de futebol para fugir daquelas MEIAS GRUDANDO NAS PERNAS SUADAS e daquele ELÁSTICO DO CALÇÃO APERTANDO e sobrepondo-se às camisetas. E agora, saber que tenho de me submeter a desconfortos piores...
O pior de tudo é ter a certeza empírica de que dessas FORMALIDADES não podemos fugir. Por quê ? Experimenta gravar um BOLETIM sem seguí-las e saberás.
P.S.: Pra completar, minha mãe acaba de chegar aqui no quarto e dizer que "isto aqui já não dá mais". "Isto aqui" é nada mais nada menos do que o meu MELHOR sapato, condenado por estar um pouquinho ENCARDIDO. Capaz que vou aposentá-lo.
quinta-feira, abril 22, 2004
Isto é kafkiano, mas sempre acontece. Você faz uma reclamação para algum helpdesk ou responde a um telemarketing. Um cara da instituição te dá uma resposta. Outro liga para saber se o que te atendeu te tratou bem. Outro liga para perguntar se o cara que te ligou antes agiu corretamente. Outro liga para confirmar se o cara que te ligou antes, para saber sobre o atendimento do que ligou antes, te tratou bem. E você está preso em uma rede infinita de checagens e re-checagens.
from "eu já..."
...tive vontade de matar um gato.
minha namorada tem duas gatas. uma gorda e feia; outra magra e bonita. ontem, tava na casa dela e a mais ajeitadinha foi pro para-peito da janela. morri de vontade de dar um cutuque e atirá-la do 12o andar. perguntei pra rafa se ela nunca tivera semelhante idéia. ela, que ama as gatas, respondeu que sim - nós dois caímos na gargalhada. o que mais me irrita é a passividade dos bichos. volta e meio faço carinho nelas. mas elas nunca vêm me lamber. tampouco lambem os outros. fazem o que querem, a hora que querem, não dão satisfação.
um gato de uma ex-namorada sumiu do quinto andar. não fui eu quem atirou. juro !
...tive vontade de matar um gato.
minha namorada tem duas gatas. uma gorda e feia; outra magra e bonita. ontem, tava na casa dela e a mais ajeitadinha foi pro para-peito da janela. morri de vontade de dar um cutuque e atirá-la do 12o andar. perguntei pra rafa se ela nunca tivera semelhante idéia. ela, que ama as gatas, respondeu que sim - nós dois caímos na gargalhada. o que mais me irrita é a passividade dos bichos. volta e meio faço carinho nelas. mas elas nunca vêm me lamber. tampouco lambem os outros. fazem o que querem, a hora que querem, não dão satisfação.
um gato de uma ex-namorada sumiu do quinto andar. não fui eu quem atirou. juro !
Experiência Orkut encerrada. Traduzindo, para quem não acompanha o blógui, já tenho veredicto pronto sobre o troço. É uma dversão como qualquer outra. Como televisão, por exemplo. Pode ter aplicações práticas. Gente que lida muito com informática, por exemplo, pode trocar experiências, dicas e segredos. Da mesma forma, pode-se fazer o mesmo em outras áreas. Mas eu assumo o caráter eminentemente de entretenimento do Orkut. Não creio que encontrarei crescimento intelectual ali mais do que em livros, revistas e publicações tradicionais. E, já que o troço é viciante, fixo um limite de uma hora por dia para brincar.
Falta o resultado da experiência da gasolina.
Falta o resultado da experiência da gasolina.
terça-feira, abril 20, 2004
Várias vezes eu sinto pena, compaixão, dos caras que aparecem presos na TV. Hoje, no RBS Notícias, mostraram uma menina que pegou êxtase na rodoviária de Porto Alegre. O que me tocou foi o diálogo dela - tri insegura e com medo - no telefone com o traficante.
ela - mas é muita coisa ?
ele - pouquinho. bastante. pouquinho bastante.
ela - mas não tem porblema, né ? por ônibus é seguro, né ? será que não vai acontecer nada ?
Depois tá a coitada lá na TV.
ela - mas é muita coisa ?
ele - pouquinho. bastante. pouquinho bastante.
ela - mas não tem porblema, né ? por ônibus é seguro, né ? será que não vai acontecer nada ?
Depois tá a coitada lá na TV.
segunda-feira, abril 19, 2004
Página 28 de ZH de hoje. Caso Marcello Antony. Gostei de ver o juiz Mauro Borba, que soltou o ator, dando entrevista e explicando, em linguagem acessível, a sua decisão. Afinal, é obrigação - senão legal, moral - dos magistrados prestar contas à população. São pagos por todos e exercem uma função pública. A atitude do juiz deveria ser praxe. Não é.
sexta-feira, abril 16, 2004
Lembro-me de quando tinha 15 anos e a cerveja fazia arder a goela ao descer. Eram tempos em que, para mim, como dizia Paulo Francis, beber socialmente era coisa de pequeno burguês. Beber, ainda com Francis, só para ficar bêbado. Quando foi que isso mudou e eu fui ter vontade de tomar uma Heineken depois da academia ? Existe um elo perdido entre esses dois momentos.
quinta-feira, abril 15, 2004
Em lugar algum no mundo o tempo passa mais lentamente do que em uma esteira de academia.
Não inventaram, na história da humanidade, máquina de tortura mais cruel do que a esteira de correr. Em qualquer instrumento de suplício, o seviciado sofre com dignidade, resistindo contra a injustiça ou mesmo encontrando redenção em um castigo merecido. A tortura física é acompanhada de um sentimento de honra. Na esteira, não: o cidadão sofre fisicamente e sofre mentalmente, sentindo-se um idiota por não estar fazendo qualquer outra coisa com o seu tão valioso tempo.
Não inventaram, na história da humanidade, máquina de tortura mais cruel do que a esteira de correr. Em qualquer instrumento de suplício, o seviciado sofre com dignidade, resistindo contra a injustiça ou mesmo encontrando redenção em um castigo merecido. A tortura física é acompanhada de um sentimento de honra. Na esteira, não: o cidadão sofre fisicamente e sofre mentalmente, sentindo-se um idiota por não estar fazendo qualquer outra coisa com o seu tão valioso tempo.
Dei agora início a um experimento, que, ao contrário da medição do rendimento da gasolina, não sei se terá conclusão. Cadastrei-me em várias comunidades "sérias" do orkut e, ao final do mês, tentarei dar um veredicto.
P.S.: Dentro de uma semana, prestarei contas sobre a gasolina super-hiper-ultra da Ipiranga.
P.S.: Dentro de uma semana, prestarei contas sobre a gasolina super-hiper-ultra da Ipiranga.
quarta-feira, abril 14, 2004
Uma amiga sobre Orkut:
- Fulano está aí ? Sicrano também ? E Beltrano ! Nooossa... Não acredito. Este povo não se dá ao respeito.
Perfeita, direta, na mosca ! Esta minha amiga é esperta. Mas o engraçado é que estamos todos lá. Encontrar alguém conhecido numa comunidade é que nem encontrar alguém no motel ou num puteiro.
- Ahan. Tu por aqui, é... Não tem vergonha na cara ?, diz o amigo pro outro na zona.
- Fulano está aí ? Sicrano também ? E Beltrano ! Nooossa... Não acredito. Este povo não se dá ao respeito.
Perfeita, direta, na mosca ! Esta minha amiga é esperta. Mas o engraçado é que estamos todos lá. Encontrar alguém conhecido numa comunidade é que nem encontrar alguém no motel ou num puteiro.
- Ahan. Tu por aqui, é... Não tem vergonha na cara ?, diz o amigo pro outro na zona.
Passei a tarde trabalhando e, claro, de olho na Internet - e-mails, icq e, agora, orkut. Voltei pra casa disposto a fazer um mestrado sobre qualquer coisa ligada a comunidades virtuais. Não conseguia definir se eu era a favor ou contra o orkut. De cara, achei que era uma praga que reproduzia o modelo perverso, enfrentado pelas crianças na escola, que divide populares dos outros. A seguir, me senti, como a Fergs, aliás, preso naquilo, correndo o risco de a qualquer momento ficar na mira de chacotas no "como ou não como". Refleti sobre a nossa necessidade de organizar, virtualmente, nossas vidas: não basta sabermos que temos amigos, precisamos ter uma lista de fotinhos ali, para a qualquer momento acessarmos e termos certeza de que somos amados. A tendência a achar que o troço era "do mal" desapareceu um pouco quando vi a fotinho da Barbara Miebach ali. Vejam só: através do Orkut, tive notícias de uma colega antiga (quem sabe o Top não está no Orkut ?) - e isso é legal.
Enfim, me sinto às vezes afogado na rede. É assim que estava agora há pouco. Até que lembrei que tinha jogo do Grêmio. Imediatamente, levantei para buscar a Zero ou o Correio e saber o horário da partida. Fiquei uns bons 10 minutos procurando os jornais e não os achei. Irritado, voltei pro computador. Sentei, entrei no ClicRBS e descobri o que eu queria. Me senti tão idiota por ter ido buscar os jornais.
Enfim, me sinto às vezes afogado na rede. É assim que estava agora há pouco. Até que lembrei que tinha jogo do Grêmio. Imediatamente, levantei para buscar a Zero ou o Correio e saber o horário da partida. Fiquei uns bons 10 minutos procurando os jornais e não os achei. Irritado, voltei pro computador. Sentei, entrei no ClicRBS e descobri o que eu queria. Me senti tão idiota por ter ido buscar os jornais.
terça-feira, abril 13, 2004
Depois de horas de esforço coletivo em uma mesa do Nikus Bar, depois de dezenas de telefonemas a ex-colegas, consegui lembrar o sobrenome do Top. Para quem não sabe, o guri foi nosso colega no início da Fabico, largou a faculdade, sumiu e parece que hoje é gay. Era um cara bem legal, mas tinha lá seus desafetos (encabeçados pelo André Vasques). O apelido se deve a uma mania estranha que ele tinha de se achar Top Model. O nome dele é Leonardo. O sobrenome me veio de repente à mente, após uma cadeia de associações que poderia tranquilamente figurar como exemplo em um livro do Freud. Foi mais ou menos assim que pensei: "sobrenomes comuns-Silveira-Oliveira-Ribeiro-o mesmo sobrenome que eu-Goulart". Bingo ! Leonardo Goulart ! Alguém sabe dele ?
Ah, Goulart era o sobrenome paterno da minha avó materna.
Ah, Goulart era o sobrenome paterno da minha avó materna.
segunda-feira, abril 12, 2004
O Barranco fez 35 anos. De minha parte, acho que freqüento a churrascaria há 24. Minhas primeiras lembranças de lá são do barranco – o propriamente dito. Escondíamo-nos, eu, o Alfredinho, o Bento e mais uma patota atrás das taquareiras à espera dos ônibus que rasgavam a Protásio. Quando eles se aproximavam, púnhamo-nos em alerta para logo atirarmos um chumaço de papel higiênico molhado no coletivo. Atuávamos organizadamente, havia uma linha de produção: enquanto uns molhavam os papéis, outros corriam por entre as mesas para levar a munição até o pessoal da artilharia.
Quando não levávamos para a rua a brincadeira, guerreávamos dentro da churrascaria mesmo. No cantão do salão lá de dentro, ao lado da parede espelhada, ficava a escada que dava acesso ao almoxarifado, onde pegávamos os atilhos e os guardanapos – armas e munição para uma batalha que tinha mesas, cadeiras e clientes compondo o campo de guerra.
Outro barato era coletar as tampinhas de refrigerante, para participar das promoções. Depois, trocávamos tudo por ioiôs, mini-caixas de coca-cola ou outras bujigangas. Andávamos no encalço dos garçons a pedir tampas, procurávamos-nas debaixo das mesas, abríamos todas as gavetas – em uma delas achamos mais de cem, certa vez.
Mas fazíamos muito mais. Quebrávamos as garrafas de Old Eight jogadas no lixo para brincar com a bolinha que compunha o medidor de doses, subíamos nas árvores no esconde-esconde, espiávamos o movimento da cozinha pela janela do banheiro, “tocávamos” piano.
Hoje, o Barranco não tem mais piano, suas janelas não são mais de plástico, cachorros não são mais permitidos – o Camilo, meu primeiro Yorkshire, era habitué -, e parece até que proibiram o pessoal de jogar papel molhado nos ônibus. O Grêmio não ganha mais títulos para comemorarmos por lá, o Renato Gaúcho só canta Ronda no Porcão e boleiro não pode mais beber chope. O Barranco também deixou de ser território eminentemente masculino - misógino, alguém diria - e é ponto de encontro de casadas e desquitadas e mesmo de meninas moderninhas.
Mas isso é o de menos. Entrar no Barranco ainda é sentir-se em casa. O mesmo Cabeça que nos dava esmolas quando pedíamos (prometendo – e não cumprindo – pagá-lo com nosso primeiro salário) e nos servia refri, agora serve nosso chope e o de nossas namoradas. Daqui a uns dias, servirá o de nossos filhos. Há quase 20 anos, vemos as mesmas caras entrando e saindo da churrascaria, todo o santo dia 24 de dezembro, ao meio-dia. Ainda me sinto criança quando explodo em gargalhadas, junto com o Alfredinho, ao ver uma figura carimbada adentrar o recinto na véspera de Natal.
Nenhum grande lugar da juventude de meus pais sobreviveu. Floresta Negra, 106, Encouraçado, hoje são, para mim, só lendas. Tenho esperança de que este não seja o futuro do Barranco. Ainda quero ver meu filho correndo pelos seus corredores e namorando em suas mesas. Pelo menos enquanto o Élson e o Chico estiverem por lá, controlando tudo a toda hora, sei que nada mudará.
Quando não levávamos para a rua a brincadeira, guerreávamos dentro da churrascaria mesmo. No cantão do salão lá de dentro, ao lado da parede espelhada, ficava a escada que dava acesso ao almoxarifado, onde pegávamos os atilhos e os guardanapos – armas e munição para uma batalha que tinha mesas, cadeiras e clientes compondo o campo de guerra.
Outro barato era coletar as tampinhas de refrigerante, para participar das promoções. Depois, trocávamos tudo por ioiôs, mini-caixas de coca-cola ou outras bujigangas. Andávamos no encalço dos garçons a pedir tampas, procurávamos-nas debaixo das mesas, abríamos todas as gavetas – em uma delas achamos mais de cem, certa vez.
Mas fazíamos muito mais. Quebrávamos as garrafas de Old Eight jogadas no lixo para brincar com a bolinha que compunha o medidor de doses, subíamos nas árvores no esconde-esconde, espiávamos o movimento da cozinha pela janela do banheiro, “tocávamos” piano.
Hoje, o Barranco não tem mais piano, suas janelas não são mais de plástico, cachorros não são mais permitidos – o Camilo, meu primeiro Yorkshire, era habitué -, e parece até que proibiram o pessoal de jogar papel molhado nos ônibus. O Grêmio não ganha mais títulos para comemorarmos por lá, o Renato Gaúcho só canta Ronda no Porcão e boleiro não pode mais beber chope. O Barranco também deixou de ser território eminentemente masculino - misógino, alguém diria - e é ponto de encontro de casadas e desquitadas e mesmo de meninas moderninhas.
Mas isso é o de menos. Entrar no Barranco ainda é sentir-se em casa. O mesmo Cabeça que nos dava esmolas quando pedíamos (prometendo – e não cumprindo – pagá-lo com nosso primeiro salário) e nos servia refri, agora serve nosso chope e o de nossas namoradas. Daqui a uns dias, servirá o de nossos filhos. Há quase 20 anos, vemos as mesmas caras entrando e saindo da churrascaria, todo o santo dia 24 de dezembro, ao meio-dia. Ainda me sinto criança quando explodo em gargalhadas, junto com o Alfredinho, ao ver uma figura carimbada adentrar o recinto na véspera de Natal.
Nenhum grande lugar da juventude de meus pais sobreviveu. Floresta Negra, 106, Encouraçado, hoje são, para mim, só lendas. Tenho esperança de que este não seja o futuro do Barranco. Ainda quero ver meu filho correndo pelos seus corredores e namorando em suas mesas. Pelo menos enquanto o Élson e o Chico estiverem por lá, controlando tudo a toda hora, sei que nada mudará.
domingo, abril 11, 2004
Graças a Deus, terminou aquele calor maldito. Ontem fez frio, choveu, e hoje, apesar do clima abafado, sem vento algum, havia nuvens no céu. Talvez quem mora longe - Tica, Dinho, Marta, Lúcia, Camila... - não saiba, mas a seca estava tornando angustiante viver por aqui. Ela se fazia perceber até na cidade. O céu de um azul interminável, dias e dias sem sinal algum de nuvens, um troço realmente inquietante. De legal, só o Guaíba que está verde - até parece limpo. A Tica disse que ninguém tinha avisado Bruxelas que o inverno havia terminado; por aqui, não tinham contado para Porto Alegre que já é outono. Os dias de verão estavam se tornando insuportáveis. Aliás, verão é insuportável. Em Madame Bovary, tem uma passagem que diz que a extensão de dias bonitos torna o campo mais enfadonho no verão do que no inverno. Isso me faz lembrar aquelas semanas de janeiro que minha família costuma passar na fazenda. Um céu azul de cansar a vista, as árvores imóveis, o mundo parado, os cuscos refestelados na laje do galpão, nem os passarinhos têm coragem de cantar. Nessas horas, os homens viram prisioneiros da sombra. Só o que podem fazer é esperar. Sair pro campo, só cedo da manhã ou de tardezinha. Cada carro que passa na estrada deixa um rastro de quilômetros de terra vermelha - característica da região exaltada até no hino de São Borja -, um pó que não se dissipa e nem se assenta. É desesperador. Uma sensação que nós, porto-alegrenses, pudemos sentir um pouquinho durante março e abril.
sábado, abril 10, 2004
quarta-feira, abril 07, 2004
Aliás, "original" é uma palavra interessante para se trabalhar em publicidade. É bem paradoxal. Remete às origens, ao passado. Mas também dá a idéia de novo. Original como algo autêntico, tradicional, antigo, anterior às cópias. Ou original como algo inovador, diferente, atual, criativo.
Seu Oscar - Que gasolina é esta, seu moço ?
Frentista 1 - Esta é a original da Ipiranga, a de sempre, a comum, a antiga aquela que nós sempre fizemos, que o senhor já conhece e sabe que pode confiar.
Seu Alceu - Que gasolina é esta, companheiro ?
Frentista 2 - Ah esta é uma nova, é original, diferente de todas as outras comuns. Uma nova fórmula da Ipiranga, que o senhor tem de experimentar !
Seu Oscar - Que gasolina é esta, seu moço ?
Frentista 1 - Esta é a original da Ipiranga, a de sempre, a comum, a antiga aquela que nós sempre fizemos, que o senhor já conhece e sabe que pode confiar.
Seu Alceu - Que gasolina é esta, companheiro ?
Frentista 2 - Ah esta é uma nova, é original, diferente de todas as outras comuns. Uma nova fórmula da Ipiranga, que o senhor tem de experimentar !
Esses dias - meu carro etava andando no cheiro - abasteci com a gasolina super-hiper-ultra-maxi-mega da Petrobrás. Custava R$ 2,47, o litro, contra R$ 2,17 da comum, mas o frentista me contou que a cara rendia mais e que tinha muita aceitação entre os motoboys - o que me convenceu. Coloquei R$ 30 e tive um rendimento entre 10% e 20% melhor. Ontem coloquei a gasolina super-hiper-ultra-extra-maxi da Ipiranga. Custou R$ R$ 2,39, contra R$ 2,17 da comum. No fim do mês, conto o resultado.
Falando em gasolina, baita jogada de marketing da Ipiranga: batizou a sua comum de "Original". E ainda fez um slogan - meio sem-vergonha até: "gasolina original Ipiranga com preço de comum".
Falando em gasolina, baita jogada de marketing da Ipiranga: batizou a sua comum de "Original". E ainda fez um slogan - meio sem-vergonha até: "gasolina original Ipiranga com preço de comum".
segunda-feira, abril 05, 2004
Cheguei na casa da Helena e senti que havia alguma coisa estranha. Perguntei. Os móveis, me responderam, foram trocados de lugar. É mesmo, mas não era isso. Olhei mais um pouco e me detive na gata, a Púci, em cima da mesa. Tinha alguma coisa diferente naquele bicho, mas eu não descobria o que. Olhei bem para ela, passei a mão no lombo, o pelo bem macio, até que me dei conta de que, nos cinco anos que eu frequento aquela casa, nunca tinha tocado no bicho. Ela sempre fugia. Perguntei o que se passara. Me responderam que ela havia sido tratada por uma veterinária, que receitou homeopatia e que desde então o animal se tornou um ser sociável. Homeopatia felina ! Era só o que faltava ! Já não sou de homeopatia. Quem dirá para gatos ! Se bem que... vou tentar no Barbosa, ver se ele se acalma.
sexta-feira, abril 02, 2004
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