segunda-feira, dezembro 16, 2013
Devagar se vai ao longe; mas já não se encontra ninguém
Tudo foi como tinha de ser. Em honorários, paguei uns 50 cavalos de polo ao longo da vida para ele, como costumava brincar. Ele me retribuiu ajudando a transformar aquele adolescente imaturo e cheio de medos em um homem, em um pai - tão orgulhoso como ele mesmo era.
Dezessete anos. Uns mil apertos de mão de oi. Outros mil de tchau. Assim deve ser entre médico e paciente. Nunca um abraço ou um beijo. E nunca fez falta. Só hoje.
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É como se eu soubesse a posição de cada livro nas prateleiras do consultório; de cada quadro e objeto. Mas, de todos, o meu preferido era este ursinho de madeira. Segundo consta, presente da filha, Júlia. Ano passado, fiz questão de fotografá-lo no divã. Em tempos, sem interpretações hoje, por favor.
"DEVAGAR SE VAI AO LONGE, MAS JÁ NÃO SE ENCONTRA NINGUÉM" (esta frase acompanhava o desenho de um homem sobre uma tartaruga; se não me engano, são do Millôr Fernandes, a frase e o desenho. Mas não tenho certeza...)
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* Texto publicado dia 21 de julho, após a morte do psicanalista José Outeiral, no meu Face. Mas confio mais no Blógui, pras coisas que quero guardar...
Um dia naquele verão...
quarta-feira, abril 24, 2013
Se você pensa que cachaça é água...
Era no tempo das marchinhas. E dos bailes. Quando ainda se dizia "pular" carnaval.
Ô balancê, balancê...
Só se dizia. Porque naquele 1995 dançava-se de um modo muito peculiar. Caminhando. Um folião podia andar quilômetros em uma mesma noite. Em círculos.
Chegou, a turma do funil...
É difícil explicar uma rodinha de Carnaval. Na Sapt, em Torres, tinha um raio de mais ou menos seis metros. Os foliões dançavam abraçados, em fileiras que convergiam ao centro. Sempre andando em círculos. Era mais ou menos como uma roda de moinho.
As águas vão rolar...
No centro da rodinha ficavam os guris. E as gurias mais despudoradas. Fingindo não sentir uma, duas, três, dez mãos alheias, roçando-lhes a bunda. Tirando melzinho.
Caiu na rede é peixe...
Nas escadas, nos corredores, nas sacadas, um tempo para a contabilidade. E aí, quantas? Oito! Bah! E tu? Peguei quatro. Até agora. Hahaha. E tu, Bastião? Duas.
Tem francesinha no salão...
Ela usava uma camiseta do Penharol. A clássica, listras amarelas e pretas. Cabelos castanhos, uma tranca escorrendo por cada lado do rosto já lavado de suor - mas isso é só imaginação. A verdade é que não lembro. Deu uma, duas, três voltas na rodinha. Vou ou não vou? Quatro, cinco voltas. Não fui. Ela escapou da roda, parou na minha frente e me beijou. Beijo roubado, beijo de língua, beijo raspado.
A Canoa virou...
Assim como apareceu, se foi. Sem dizer nada.
Um pierrot abandonado...
Foi meu primeiro beijo.
Bandeira branca, amor...
Só sei que foi no carnaval de 1995, na Sapt, em Torres. E que ela vestia uma camiseta do Penharol.
Pã-pã-pã-pã-pã-pã!