Dia desses, aprendi, uma amiga podre de bagaceira me ensinou, uma expressão de baixíssimo calão que eu adorei. É o seguinte: cu de bobs. Tipo, meu cu de bobs, teu cu de bobs. Enfim, uma variação de pau de óculos.
***
No Google "pau de óculos" tem 531 citações, enquanto "cu de bobs", só duas. Uma puta injustiça mesmo. Porque, pô, cu de bobs tem fundamento. Sabe bobs, né, aqueles rolos que as véias botam no cabelo... E sabe cabelo de cu, né, bem enroladinho... Pois é. Tudo a ver.
***
Sem contar a sonoridade. Cu de bobs. Três sílabas curtas e secas, uma atrás da outra. Um monte de consoante. Repete aí, bem rapidinho: cu de bobs. Legal, né?
***
Estou tão indignado com o fato de cu de bobs não ter ganho o mundo que começo uma cruzada para que se dissemine. Ou ao menos para que se reduza a diferença entre pau de óculos e cu de bobs na Internet. Cu de bobs. Cu de bobs. Cu de bobs.
***
Meu pau de óculos é teu cu de bobs!
quinta-feira, dezembro 29, 2005
sábado, dezembro 24, 2005
Tu passas pela frente de qualquer loja de roupas masculinas e à porta estão aqueles oito lobos asquerosos a postos. Seres peludos, cabelo sempre seboso e empapado de gel, a gravata de décima quinta categoria alinhada no colarinho. Basta o cliente colocar meio pé dentro da loja que um já se apresenta para tornar a compra um ato de desgosto. Posso lhe ajudar? O que o senhor quer? É um presente? Para quem? Temos estas bermudas, uma beleza. Ah, o senhor só quer olhar? Então olha esta camiseta, que malha! O senhor sabe que aqui só trabalhamos com coisa de primeira... Argh, que asco, que náusea!
Eu compro só para me livrar do cara e chegar logo ao balcão, onde invariavelmente há uma mulher, Sensação na caixa de bombons, que me permite respirar. Mas mesmo aí o lobão chato, sapato de bico quadrado, sempre volta para perguntar se eu tenho certeza de que não quero mais nada, quem sabe aquela pólo.
Agora, alguém me explica: por que os caras acham que homens vendem melhor do que mulheres? Imagina entrar numa Brooksfield, Via Veneto, Homem e ter uma loira peituda para te atender. As vendas triplicariam. Uma gostosa dizendo “o senhor está muito elegante com esta gravata”, mesmo que seja mentira, é o suficiente para colocar qualquer macho no chão, no vermelho. Nas revendas de automóveis, as moças já são quase maioria, por que nas lojas de roupas o império é dos peludos, chatos e sebosos?
Ontem, eu queria comprar uma camiseta na Hering do Praia de Belas. Antes de entrar, pela vitrina, conferi o time de atendentes. Dois barbados e três mocinhas. Vocês podem achar que é mentira, folclore pro blógui, mas passei cinco vezes em frente à loja antes de entrar, esperando um momento em que os dois estivessem ocupados e elas de mão abanando.
Por isso eu amo comprar roupinhas para a Rafa. Nestas lojas de meninas, há sempre muitas atendentes queridas dispostas a te ajudar. E na grande maioria das vezes te deixando à vontade, relaxado para meter a mão nas araras, fazer pré-seleções antes de consultá-las. Depois, elas vêm sorridentes e saltitantes e faceiras para te dar opiniões, explicar como funcionam os tamanhos femininos, que roupa combina com peitinho, que roupa combina com peitão. E então o legal é reunir três, quatro delas e formar uma comissão para escolher a roupinha mais legal para a tua amada. Com alguma sorte, uma se oferece para provar – e elas adoram provar – e veste uma duas, três das tuas escolhas. E fica aquela galinhagem gostosa, a gente paga com gosto e volta pra casa com a sensação de que a vida vale a pena.
Eu compro só para me livrar do cara e chegar logo ao balcão, onde invariavelmente há uma mulher, Sensação na caixa de bombons, que me permite respirar. Mas mesmo aí o lobão chato, sapato de bico quadrado, sempre volta para perguntar se eu tenho certeza de que não quero mais nada, quem sabe aquela pólo.
Agora, alguém me explica: por que os caras acham que homens vendem melhor do que mulheres? Imagina entrar numa Brooksfield, Via Veneto, Homem e ter uma loira peituda para te atender. As vendas triplicariam. Uma gostosa dizendo “o senhor está muito elegante com esta gravata”, mesmo que seja mentira, é o suficiente para colocar qualquer macho no chão, no vermelho. Nas revendas de automóveis, as moças já são quase maioria, por que nas lojas de roupas o império é dos peludos, chatos e sebosos?
Ontem, eu queria comprar uma camiseta na Hering do Praia de Belas. Antes de entrar, pela vitrina, conferi o time de atendentes. Dois barbados e três mocinhas. Vocês podem achar que é mentira, folclore pro blógui, mas passei cinco vezes em frente à loja antes de entrar, esperando um momento em que os dois estivessem ocupados e elas de mão abanando.
Por isso eu amo comprar roupinhas para a Rafa. Nestas lojas de meninas, há sempre muitas atendentes queridas dispostas a te ajudar. E na grande maioria das vezes te deixando à vontade, relaxado para meter a mão nas araras, fazer pré-seleções antes de consultá-las. Depois, elas vêm sorridentes e saltitantes e faceiras para te dar opiniões, explicar como funcionam os tamanhos femininos, que roupa combina com peitinho, que roupa combina com peitão. E então o legal é reunir três, quatro delas e formar uma comissão para escolher a roupinha mais legal para a tua amada. Com alguma sorte, uma se oferece para provar – e elas adoram provar – e veste uma duas, três das tuas escolhas. E fica aquela galinhagem gostosa, a gente paga com gosto e volta pra casa com a sensação de que a vida vale a pena.
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Do churrasco
Dos experts
O pai de uma amiga é um alemonzon daqueles bonachon e que diz fazer um dos melhores churrascos da praça. Coloca na mesa uma picanha cinza de tão passada e uma costela mugindo de tão crua (e ainda exige elogio). Daí, e somente daí, eu concluir que churrasco não é coisa pra gringo, mas sim pra pêlo-duro.
Da escolha da carne
Hoje em dia não tem erro. Tem tanta carne boa, de novilho, embalada a vácuo, que não tem porque espremer os olhinhos atrás do balcão do açougue. Novilho Jovem, Pul (uruguaio), Angus Zaffari, Mercosul... são muitas as opções certeiras. Prefira os cortes menores, indício de que o animal era mesmo novo. Na picanha, não dispense a camada de gordura. Na costela, escolha as bem vermelhas entremeadas por gordurinhas bem brancas. No salsichão, evite aquelas tripas de procedência duvidosa, vá no Dália e acredite: os mais caros são mesmo os melhores.
Dos procedimentos
Tem gente que tem obsessão em tirar gordurinhas; prefere esfacelar a carne a assá-la; fica compulsivamente picoteando,esfaqueando os cortes sem parar. Ontem, fui a um churrasco do qual sobrou um saco inteiro de gordurinhas! Pelo amor de Deus, isso é coisa do passado, de quando as carnes eram de bois de oito, mais anos, com suas banhas amarelas, fartas e catinguentas. Os eventuais pedacinhos de gordura nos cortes de qualidade hoje em dia só enobrecem a carne, dão sabor.
Do sal
Outra obsessão dos churrasqueiros – exceto os pêlos-duros – é fazer milhões de furos na carne para o sal “penetrar”. O resultado é sempre os cortes desfigurados e excessivamente salgados. Pelamordedeus, de novo, deixem a carne em paz! É apenas largar o sal por cima e se formará uma saudável crosta dourada sobre o churrasco. Não há mistério. Ah, outra coisa, alemoada: o salsishão não se salga, ok?
Do carvão e do fogo
Compre sempre um saco de carvão a mais do que o necessário. Fogo forte é fundamental para dourar os cortes mal passados, assar bem a distante costela, etc...
Do posicionamento dos espetos
O salsichão pode ficar bem baixo, até porque ninguém vai dar bola se ele estiver um pouco torrado. A picanha e a maminha podem ficar em uma altura média, sempre em alto calor. E a costela, esqueça-a lá em cima, osso para baixo maior parte do tempo, enquanto se diverte com o resto. Não banque uma churrasqueira giratória (e a gás, arghhh), deixe cada lado tostar de uma vez.
Do ponto
O ponto. Ah, o ponto é tudo. Cada corte tem o seu. O salsichão pode ser bem passado – não a ponto de virar uma lingüiça fina e seca, mas para que ninguém se surpreenda com um pedaço de gordura duro e desconfortável em meio aos dentes. A picanha é mal-passada mesmo – quase mugindo, ao menos no centro (as pontas mais assadinhas podem ficar para as gurias), embora com entorno dourado. A maminha e o vazio devem assar um pouco mais, contendo sim um pouco de sangue, mas distantes da crueza. A costela é bem passada, quase cozida, assada com paciência, no alto da churrasqueira. Depois de uns cinco minutinhos com a parte da gordura para baixo (para fazer um caldinho), deixe-a quase horas com o osso pegando calor e cozinhando-a por dentro. Depois, é só uma viradinha para cada lado e tudo pronto.
Do corte
Contra a fibra. E com faca bem afiada.
Agradecimentos ao meu pai, Paulo Odone Araújo Ribeiro, ao meu tio, Caio Araújo Ribeiro, e também ao meu brilhante auto-didatismo.
Dos experts
O pai de uma amiga é um alemonzon daqueles bonachon e que diz fazer um dos melhores churrascos da praça. Coloca na mesa uma picanha cinza de tão passada e uma costela mugindo de tão crua (e ainda exige elogio). Daí, e somente daí, eu concluir que churrasco não é coisa pra gringo, mas sim pra pêlo-duro.
Da escolha da carne
Hoje em dia não tem erro. Tem tanta carne boa, de novilho, embalada a vácuo, que não tem porque espremer os olhinhos atrás do balcão do açougue. Novilho Jovem, Pul (uruguaio), Angus Zaffari, Mercosul... são muitas as opções certeiras. Prefira os cortes menores, indício de que o animal era mesmo novo. Na picanha, não dispense a camada de gordura. Na costela, escolha as bem vermelhas entremeadas por gordurinhas bem brancas. No salsichão, evite aquelas tripas de procedência duvidosa, vá no Dália e acredite: os mais caros são mesmo os melhores.
Dos procedimentos
Tem gente que tem obsessão em tirar gordurinhas; prefere esfacelar a carne a assá-la; fica compulsivamente picoteando,esfaqueando os cortes sem parar. Ontem, fui a um churrasco do qual sobrou um saco inteiro de gordurinhas! Pelo amor de Deus, isso é coisa do passado, de quando as carnes eram de bois de oito, mais anos, com suas banhas amarelas, fartas e catinguentas. Os eventuais pedacinhos de gordura nos cortes de qualidade hoje em dia só enobrecem a carne, dão sabor.
Do sal
Outra obsessão dos churrasqueiros – exceto os pêlos-duros – é fazer milhões de furos na carne para o sal “penetrar”. O resultado é sempre os cortes desfigurados e excessivamente salgados. Pelamordedeus, de novo, deixem a carne em paz! É apenas largar o sal por cima e se formará uma saudável crosta dourada sobre o churrasco. Não há mistério. Ah, outra coisa, alemoada: o salsishão não se salga, ok?
Do carvão e do fogo
Compre sempre um saco de carvão a mais do que o necessário. Fogo forte é fundamental para dourar os cortes mal passados, assar bem a distante costela, etc...
Do posicionamento dos espetos
O salsichão pode ficar bem baixo, até porque ninguém vai dar bola se ele estiver um pouco torrado. A picanha e a maminha podem ficar em uma altura média, sempre em alto calor. E a costela, esqueça-a lá em cima, osso para baixo maior parte do tempo, enquanto se diverte com o resto. Não banque uma churrasqueira giratória (e a gás, arghhh), deixe cada lado tostar de uma vez.
Do ponto
O ponto. Ah, o ponto é tudo. Cada corte tem o seu. O salsichão pode ser bem passado – não a ponto de virar uma lingüiça fina e seca, mas para que ninguém se surpreenda com um pedaço de gordura duro e desconfortável em meio aos dentes. A picanha é mal-passada mesmo – quase mugindo, ao menos no centro (as pontas mais assadinhas podem ficar para as gurias), embora com entorno dourado. A maminha e o vazio devem assar um pouco mais, contendo sim um pouco de sangue, mas distantes da crueza. A costela é bem passada, quase cozida, assada com paciência, no alto da churrasqueira. Depois de uns cinco minutinhos com a parte da gordura para baixo (para fazer um caldinho), deixe-a quase horas com o osso pegando calor e cozinhando-a por dentro. Depois, é só uma viradinha para cada lado e tudo pronto.
Do corte
Contra a fibra. E com faca bem afiada.
Agradecimentos ao meu pai, Paulo Odone Araújo Ribeiro, ao meu tio, Caio Araújo Ribeiro, e também ao meu brilhante auto-didatismo.
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Isto é que é ecletismo. As seis primeiras músicas executadas na festinha infantil no salão em frente ao meu apê.
1 - "Bate o sino, pequenino, sino de Belém"
2 - "Como se eu fosse flor, você me cheira"
3 - "O movimento é sexy"
4 - "Girls just wanna have fun"
5 - "This is the rythm of the night"
6 - "Piu-piu sem Frajola sou eu sem você"
7 - "Fuma, fuma, fuma folha de bananeira"
Sim, certamente, daqui a pouco vão começar os funks, mas as letras são muito baixas para reproduzir aqui.
1 - "Bate o sino, pequenino, sino de Belém"
2 - "Como se eu fosse flor, você me cheira"
3 - "O movimento é sexy"
4 - "Girls just wanna have fun"
5 - "This is the rythm of the night"
6 - "Piu-piu sem Frajola sou eu sem você"
7 - "Fuma, fuma, fuma folha de bananeira"
Sim, certamente, daqui a pouco vão começar os funks, mas as letras são muito baixas para reproduzir aqui.
Sexta à noite comi um rodízio no árabe (minha mãe sempre disse: não come quibe cru no Baalbek); sábado à tarde sanduíches relativamente bem acondicionados no Paraíso; sábado à noite muita caipira, muito churrasco e muita cerveja. Domingo, enquanto meus amigos pegavam uma prainha, passei o dia na cama de ressaca, uma dor de barriga e disfunção intestinal.
Acordei-me hoje aparentemente sem problemas nos intestinos, mas meu corpo, depois já de 30 horas na cama, dizia: tens de dormir, tens de dormir, tens de dormir. A Rafaela vive criticando que, quando eu estou passando mal, sempre ameaço não ir trabalhar, mas termino na Zero Hora. Para quebrar essa sina, resolvi que desta vez ficaria em casa e dane-se o serviço.
Ocorre que, quando saí da cama, 35 horas depois de entrar nela, bateu uma certa culpa. Será que eu não estava apenas fazendo manha? Não seria só depressão pós-ressaca? E o trabalho lá, parado? E até há pouco sofria com tudo isso.
Foi então que aconteceu uma coisa horrível, que no entanto me aliviou a culpa. Um sinal inconteste de que minha barriga não está trabalhando como deveria, de que qualquer saída para a rua seria temerária, de que fiz bem em ficar em casa.
Claro que vou poupá-los de qualquer relato, amigos.
Acordei-me hoje aparentemente sem problemas nos intestinos, mas meu corpo, depois já de 30 horas na cama, dizia: tens de dormir, tens de dormir, tens de dormir. A Rafaela vive criticando que, quando eu estou passando mal, sempre ameaço não ir trabalhar, mas termino na Zero Hora. Para quebrar essa sina, resolvi que desta vez ficaria em casa e dane-se o serviço.
Ocorre que, quando saí da cama, 35 horas depois de entrar nela, bateu uma certa culpa. Será que eu não estava apenas fazendo manha? Não seria só depressão pós-ressaca? E o trabalho lá, parado? E até há pouco sofria com tudo isso.
Foi então que aconteceu uma coisa horrível, que no entanto me aliviou a culpa. Um sinal inconteste de que minha barriga não está trabalhando como deveria, de que qualquer saída para a rua seria temerária, de que fiz bem em ficar em casa.
Claro que vou poupá-los de qualquer relato, amigos.
sábado, dezembro 17, 2005
terça-feira, dezembro 13, 2005
Saleta de vídeo do antigo colégio de Aplicação, campus central da Ufrgs. É verão, recém saímos da educação física (temos asa) e o locutor da fita explica em off monocórdio o processo reprodutivo dos celenterados – um convite à baderna ou ao sono.
Fosse a Camila Morgado falando dos primeiros dias de Vinícius de Moraes no documentário hoje em cartaz, nossa reação seria a mesma. Definitivamente, não dá para entender por que a colocaram, e o Caco Ciocler, para costurar o filme. Dá a sensação de que é apenas para que constem no cartaz e nas sinopses dois nomes in, já que o do poeta já parece estar out – ao menos comercialmente. Sem contar os tais offs burocráticos do início do documentário: de se esconder atrás da poltrona!
Que tal explorar um pouco mais as imagens de arquivo, no lugar de Morgados, Ciocleres, Pagodinhos e... como é mesmo o nome daqueles rappers que aparecem cantando? Será que Vinícius não se remexe em sua tumba? Talvez não. Mas eu, da minha cadeira do Guion, sim.
Na crítica da Zero Hora, o Márcio Pinheiro reclamou que faltaram depoimentos de alguns filhos, deixados de lado. O Márcio sabe quem são os filhos do Vinícius e o que acrescentariam. Eu, não. Mas sei que eles só melhorariam o filme. Porque o que falta são justamente depoimentos íntimos, histórias sobre o Vinícius pai, amante, esposo, ser humano. Algo além do estereótipo de músico com o copo de uísque e violão, que é bastante, mas não tudo.
Cada vez que alguém conta uma história, um momento íntimo da vida do Vinícius (e o Chico Buarque relata vários), parece que chegamos um pouquinho mais perto dele. Cada vez que o Caco e a Morgado dizem um poema - alguns bem, outros mal recitados -, interpretam uma cena ou um lêem um off, nos distanciamos do poeta. Sem contar que alguns depoimentos – como o do Gilberto Gil – parecem estar ali só para inglês ver (literalmente, porque, afinal, o filme precisa ganhar o mundo).
E assim, é o documentário sobre Vinícius. Médio. Aliás, já que começamos lembrando do Aplicação, vamos terminar do mesmo jeito. Nos “conselhos de classe participativos”, tinha um conceito (avaliações com notas numerais eram proibidas) que eu daria sem medo pro filme: “o aluno (aqui, poderia ser o documentário) apresenta um desempenho razoável, alternando entre bons e maus momentos”. Aliás, os professores adoravam me dizer isso.
Fosse a Camila Morgado falando dos primeiros dias de Vinícius de Moraes no documentário hoje em cartaz, nossa reação seria a mesma. Definitivamente, não dá para entender por que a colocaram, e o Caco Ciocler, para costurar o filme. Dá a sensação de que é apenas para que constem no cartaz e nas sinopses dois nomes in, já que o do poeta já parece estar out – ao menos comercialmente. Sem contar os tais offs burocráticos do início do documentário: de se esconder atrás da poltrona!
Que tal explorar um pouco mais as imagens de arquivo, no lugar de Morgados, Ciocleres, Pagodinhos e... como é mesmo o nome daqueles rappers que aparecem cantando? Será que Vinícius não se remexe em sua tumba? Talvez não. Mas eu, da minha cadeira do Guion, sim.
Na crítica da Zero Hora, o Márcio Pinheiro reclamou que faltaram depoimentos de alguns filhos, deixados de lado. O Márcio sabe quem são os filhos do Vinícius e o que acrescentariam. Eu, não. Mas sei que eles só melhorariam o filme. Porque o que falta são justamente depoimentos íntimos, histórias sobre o Vinícius pai, amante, esposo, ser humano. Algo além do estereótipo de músico com o copo de uísque e violão, que é bastante, mas não tudo.
Cada vez que alguém conta uma história, um momento íntimo da vida do Vinícius (e o Chico Buarque relata vários), parece que chegamos um pouquinho mais perto dele. Cada vez que o Caco e a Morgado dizem um poema - alguns bem, outros mal recitados -, interpretam uma cena ou um lêem um off, nos distanciamos do poeta. Sem contar que alguns depoimentos – como o do Gilberto Gil – parecem estar ali só para inglês ver (literalmente, porque, afinal, o filme precisa ganhar o mundo).
E assim, é o documentário sobre Vinícius. Médio. Aliás, já que começamos lembrando do Aplicação, vamos terminar do mesmo jeito. Nos “conselhos de classe participativos”, tinha um conceito (avaliações com notas numerais eram proibidas) que eu daria sem medo pro filme: “o aluno (aqui, poderia ser o documentário) apresenta um desempenho razoável, alternando entre bons e maus momentos”. Aliás, os professores adoravam me dizer isso.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Andréa - PARTE 2
Cincoenta reais...
Cincoenta reais...
Cincoenta reais...
Cincoenta reais!
Aquilo caiu sobre minha cabeça como o fardo cai na cuca do estivador. Tonteei, tive de segurar um grito estridente na goela, controlar o impulso de abrir a porta de Andréa e tirar as caras. Fiz um esforço descomunal para manter um ar despreocupado, de “só isso?”, assinei o cheque e dei boa tarde.
Cincoenta reais! Dezesseis cervejas no Ladislau. Cincoenta reais! Dois boquetes e meio na Farrapos. Cincoenta reais! Dez diárias de clássicos na Back Vídeo. Cincoenta Reais! Churrasco de picanha pra dez. Cincoenta reais! Complete a lista.
Entrei no carro atônito, esqueci meu destino. Aos poucos, acalmei - afinal, entre 50 e 30 são só 20. E também não podia dizer que as mãos de Andréia não eram gostosas, que Andréa não manejava bem a tesoura, que meu penteado não estava cool. Mas daí a deixá-las me lograr já era demais.
Pensei em escrever uma carta (Andréa, legal tua tattoo e bacana aquele esqueminha que fazes com a tesoura, mas não achas que Cincoenta é um abuso?), em iniciar uma pesquisa em todos os coiffeurs chiques de POA para provar que a conta foi um tanto injusta, em denegrir a imagem de Andréa pelos bares da vida.
Mas logo veio a vergonha. Eu fora um babaca. Mais um otário seduzido pelo glamour do Sexton. Como o tal que caiu no golpe da loteria, tinha de silenciar. Mesmo se perguntado, negar categoricamente ter pago 50 para Andréa (aliás, será que meu primo não pagou R$ 50 prá Baiana e só estava com vergonha de dizer), sob pena de ser alvo de chacota na CB.
Por fim, decidi me abrir. Preciso mesmo desabafar, dividir meu drama, receber o ombro amigo, tirar este fardo da minha cabeça. Já à noite, no bar do Ladislau, gritei para quem quisesse ouvir: “sim, eu paguei R$ 50 para cortar o cabelo, este mesmo cabelinho que vocês estão vendo”.
E agora estou aqui, num ato de bravura, confessando tudo. Venham com pedras ou com palavras amigas. Só sei que me sinto mais leve. Quase voltando na Andréa.
Cincoenta reais...
Cincoenta reais...
Cincoenta reais...
Cincoenta reais!
Aquilo caiu sobre minha cabeça como o fardo cai na cuca do estivador. Tonteei, tive de segurar um grito estridente na goela, controlar o impulso de abrir a porta de Andréa e tirar as caras. Fiz um esforço descomunal para manter um ar despreocupado, de “só isso?”, assinei o cheque e dei boa tarde.
Cincoenta reais! Dezesseis cervejas no Ladislau. Cincoenta reais! Dois boquetes e meio na Farrapos. Cincoenta reais! Dez diárias de clássicos na Back Vídeo. Cincoenta Reais! Churrasco de picanha pra dez. Cincoenta reais! Complete a lista.
Entrei no carro atônito, esqueci meu destino. Aos poucos, acalmei - afinal, entre 50 e 30 são só 20. E também não podia dizer que as mãos de Andréia não eram gostosas, que Andréa não manejava bem a tesoura, que meu penteado não estava cool. Mas daí a deixá-las me lograr já era demais.
Pensei em escrever uma carta (Andréa, legal tua tattoo e bacana aquele esqueminha que fazes com a tesoura, mas não achas que Cincoenta é um abuso?), em iniciar uma pesquisa em todos os coiffeurs chiques de POA para provar que a conta foi um tanto injusta, em denegrir a imagem de Andréa pelos bares da vida.
Mas logo veio a vergonha. Eu fora um babaca. Mais um otário seduzido pelo glamour do Sexton. Como o tal que caiu no golpe da loteria, tinha de silenciar. Mesmo se perguntado, negar categoricamente ter pago 50 para Andréa (aliás, será que meu primo não pagou R$ 50 prá Baiana e só estava com vergonha de dizer), sob pena de ser alvo de chacota na CB.
Por fim, decidi me abrir. Preciso mesmo desabafar, dividir meu drama, receber o ombro amigo, tirar este fardo da minha cabeça. Já à noite, no bar do Ladislau, gritei para quem quisesse ouvir: “sim, eu paguei R$ 50 para cortar o cabelo, este mesmo cabelinho que vocês estão vendo”.
E agora estou aqui, num ato de bravura, confessando tudo. Venham com pedras ou com palavras amigas. Só sei que me sinto mais leve. Quase voltando na Andréa.
domingo, dezembro 11, 2005
Andréa - PARTE 1
Quinta-feira me deu vontade de cortar o cabelo. Às vezes me dá essas vontades, normal. Tipo, o cabelo fica comprido, começa a pesar e de repente a gente se dá conta de que tem de fazer algo a respeito.
Eu bem que podia passar a máquina em casa ou ir a um barbeiro qualquer, mas não sou lá muito disso. Primeiro, porque odeio varrer tufos. Depois, porque detesto barbado tocando na minha cabeça. Viado, então, menos ainda. Sei lá, não gosto. Não entendo como entre uma mulher, seios roçando na tua nuca, e um homem, mãos cabeludas na tua orelha, tem gente que opta pelo segundo. E ainda se julga macho porque vai no barbeiro da Andrade Neves ou da 24 de Outubro.
Mas, enfim, corto com mulheres e perguntei pro meu primo se ele conhecia alguma. Sim, tem a Baiana, ali no Sexton, 30 pilas, serviço bem feitinho. Não é lá uma gostosa, mas usa botas e é bem simpática. Mas eu, no Sexton? Eu, no circuito Padre Chagas? Eu, metrossexual? Óbvio!
Gosto mesmo de conforto e adorei que uma bixinha se dispôs a estacionar meu carro. Serviços da casa. Mas achei mesmo meio exagerado o balde de frutas à disposição da clientela. Elas cuidando do meu cabelo e eu mordendo uma goiaba – nada a ver, né? Pena que a Baiana não tava disponível. E outra mulher, não tem? Tem a Simone, ocupada, fulaninha, sumiu, sicraninha, deu uma saidinha. Ah, e tem a Andréa, também, só antes me dá teu nome, sobrenome, CPF, endereço.
A Andréa não lava cabelos. A Andréa tem a Andréia pra lavar cabelos por ela. E lá me vou eu a cabresto da assessora da cabeleireira. Tu gosta de água morna ou quente? Fria. Já veio aqui antes? Não. Que coisa, antigamente a gente não tinha de marcar para ir a cabeleireiro, né? Tu não é de Porto Alegre, né? Sou, Moinhos de Vento, querida, por quê? Não porque eu sou de Canoas e me lembro que tinha cinco anos e minha mãe já marcava hora pra mim. Eu já cortei cabelo em Canoas, sabia? Não. E também nem me deixou contar que foi no Canoas Shopping, mas não importa, bom mesmo era aquela mãozinha fazendo carinho – xampu, xampu, creme rinse. Que mãos, Andréia, mas essa ficou só na vontade de dizer mesmo.
Agora, Andréa. Andréa usa preto. Andréa usa boné. Andréa tem tatoo. Andréa não tem “I”. Andréa chegou lá e hoje corta cabelo no Moinhos. E Andréa está muito curiosa com minha presença, camisa pólo desgrenhada e com logotipo arrancado, calça social meio desbotada. Como queres o cabelo? Legal, leve, soltinho. Quem te indicou para vir aqui? Ah, te disseram pra ir na Baiana? Estranho, achei que ela só fizesse “aquelas trancinhas”. Se eu sou contratada do Sexton? Não, capaz, a gente é tipo inquilino. Sou totalmente independente, dou 30% do que ganho para eles – e olha que só com isso o cara já paga o aluguel da casa. Se eu não ganho clientes estando aqui? Hahaha, tá brincando, né, querido? Tenho é que me cuidar para não perder os meus! Onde foi que eu aprendi esses truques com a tesoura? A vida, a vida... Gostou do cabelo? Show, né? Ah, preferes um penteado, menos ousado... Entendo, vai trabalhar. Assim tá legal? Beleza, vê se volta. Um beijinho na bochecha, paga ali no caixa.
Até que 30 pilas não era tanto por Andréa e Andréia. Cheguei no caixa, puxei o cheque, quanto deu? CINCOENTA REAIS!!!
Quinta-feira me deu vontade de cortar o cabelo. Às vezes me dá essas vontades, normal. Tipo, o cabelo fica comprido, começa a pesar e de repente a gente se dá conta de que tem de fazer algo a respeito.
Eu bem que podia passar a máquina em casa ou ir a um barbeiro qualquer, mas não sou lá muito disso. Primeiro, porque odeio varrer tufos. Depois, porque detesto barbado tocando na minha cabeça. Viado, então, menos ainda. Sei lá, não gosto. Não entendo como entre uma mulher, seios roçando na tua nuca, e um homem, mãos cabeludas na tua orelha, tem gente que opta pelo segundo. E ainda se julga macho porque vai no barbeiro da Andrade Neves ou da 24 de Outubro.
Mas, enfim, corto com mulheres e perguntei pro meu primo se ele conhecia alguma. Sim, tem a Baiana, ali no Sexton, 30 pilas, serviço bem feitinho. Não é lá uma gostosa, mas usa botas e é bem simpática. Mas eu, no Sexton? Eu, no circuito Padre Chagas? Eu, metrossexual? Óbvio!
Gosto mesmo de conforto e adorei que uma bixinha se dispôs a estacionar meu carro. Serviços da casa. Mas achei mesmo meio exagerado o balde de frutas à disposição da clientela. Elas cuidando do meu cabelo e eu mordendo uma goiaba – nada a ver, né? Pena que a Baiana não tava disponível. E outra mulher, não tem? Tem a Simone, ocupada, fulaninha, sumiu, sicraninha, deu uma saidinha. Ah, e tem a Andréa, também, só antes me dá teu nome, sobrenome, CPF, endereço.
A Andréa não lava cabelos. A Andréa tem a Andréia pra lavar cabelos por ela. E lá me vou eu a cabresto da assessora da cabeleireira. Tu gosta de água morna ou quente? Fria. Já veio aqui antes? Não. Que coisa, antigamente a gente não tinha de marcar para ir a cabeleireiro, né? Tu não é de Porto Alegre, né? Sou, Moinhos de Vento, querida, por quê? Não porque eu sou de Canoas e me lembro que tinha cinco anos e minha mãe já marcava hora pra mim. Eu já cortei cabelo em Canoas, sabia? Não. E também nem me deixou contar que foi no Canoas Shopping, mas não importa, bom mesmo era aquela mãozinha fazendo carinho – xampu, xampu, creme rinse. Que mãos, Andréia, mas essa ficou só na vontade de dizer mesmo.
Agora, Andréa. Andréa usa preto. Andréa usa boné. Andréa tem tatoo. Andréa não tem “I”. Andréa chegou lá e hoje corta cabelo no Moinhos. E Andréa está muito curiosa com minha presença, camisa pólo desgrenhada e com logotipo arrancado, calça social meio desbotada. Como queres o cabelo? Legal, leve, soltinho. Quem te indicou para vir aqui? Ah, te disseram pra ir na Baiana? Estranho, achei que ela só fizesse “aquelas trancinhas”. Se eu sou contratada do Sexton? Não, capaz, a gente é tipo inquilino. Sou totalmente independente, dou 30% do que ganho para eles – e olha que só com isso o cara já paga o aluguel da casa. Se eu não ganho clientes estando aqui? Hahaha, tá brincando, né, querido? Tenho é que me cuidar para não perder os meus! Onde foi que eu aprendi esses truques com a tesoura? A vida, a vida... Gostou do cabelo? Show, né? Ah, preferes um penteado, menos ousado... Entendo, vai trabalhar. Assim tá legal? Beleza, vê se volta. Um beijinho na bochecha, paga ali no caixa.
Até que 30 pilas não era tanto por Andréa e Andréia. Cheguei no caixa, puxei o cheque, quanto deu? CINCOENTA REAIS!!!
sábado, dezembro 10, 2005
Não há novo prédio de rico em Porto Alegre que não seja neoclássico. Agora, inauguraram aquele monstro, o Carlos Gomes 222, na Carlos Gomes 222. Umas colunas gregas magnânimas – parece um anexo do Partenon. É apenas o mais grandioso exemplo entre os tantos que enfeitam os fôlderes entregues a cada esquina de domingo na Bela Vista. Quanto maior o lixo arquitetônico, mais dinheiro vale.
***
Mês passado, teve a Bienal de Arquitetura de São Paulo. A mais democrática de todas, diziam as notícias. Dei risada foi de uma entrevista com o curador.
- Quer dizer que nesta Bienal vale tudo, é? – perguntou o entrevistador.
- Tudo, menos neoclássico. E eu encho a boca pra dizer isso – respondeu o entrevistado.
***
É incrível o descompasso existente entre nossa elite intelectual e nossa elite financeira. É como se a opção pelo mau gosto fosse uma provocação dos ricos aos artistas e acadêmicos. Por que diabos ter dinheiro hoje significa renunciar a qualquer tipo de refinamento estético e artístico?
***
Se nossos velhos novos ricos já eram de dar dó, imaginem nossos novos novos ricos!
***
Sem contar que esta gente vem sendo formada por auto-ajuda travestida de literatura de administração. Nas livrarias, já nem tem separação entre os dois gêneros. Mas isso já é outra coisa.
***
Mês passado, teve a Bienal de Arquitetura de São Paulo. A mais democrática de todas, diziam as notícias. Dei risada foi de uma entrevista com o curador.
- Quer dizer que nesta Bienal vale tudo, é? – perguntou o entrevistador.
- Tudo, menos neoclássico. E eu encho a boca pra dizer isso – respondeu o entrevistado.
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É incrível o descompasso existente entre nossa elite intelectual e nossa elite financeira. É como se a opção pelo mau gosto fosse uma provocação dos ricos aos artistas e acadêmicos. Por que diabos ter dinheiro hoje significa renunciar a qualquer tipo de refinamento estético e artístico?
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Se nossos velhos novos ricos já eram de dar dó, imaginem nossos novos novos ricos!
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Sem contar que esta gente vem sendo formada por auto-ajuda travestida de literatura de administração. Nas livrarias, já nem tem separação entre os dois gêneros. Mas isso já é outra coisa.
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Estou triste. Arrasado. Arrependido. Eu devia ter deixado a preguiça de lado, pego uma grana no drive-in Banrisul e voltado para pagar o estacionamento, em vez de simplesmente assinar aquele cheque. Se ainda desse para voltar no tempo...
No começo, eu me sentia um pouco desconfortável. Várias vezes pensei em falar, mas, quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava. Cheguei a recorrer a expedientes bobos, do tipo sair de casa com o crachá da RBS no peito. Mas não houve jeito e aos poucos fui me acostumando. Hoje, posso dizer que até gosto.
Quando entreguei o cheque, meu coração começou a bater. Não que não estivesse batendo antes, mas começou a bater mais forte, vocês entendem. Minha esperança de que ela simplesmente colocaria o papel em uma gaveta e mandaria a filha depositar esvaiu-se ali mesmo, na hora. A dona do estacionamento foi implacável: revisou o cheque como se fora caixa de minimercado no Rubem Berta. Dispendeu uns bons cinco segundos de sua atenção ali.
Sem dúvidas de que ela descobrira, saí de mansinho. A cabeça baixa, contando as pedrinhas do chão. E desejando do fundo do coração não ser chamado, não ter de dar meia-volta. Era uma da tarde e eu não estava preparado para o que viria: papo-mole, vergonha, explicações.
Graças a Deus, ela não me chamou. É certo que se deu conta, mas preferiu silenciar. Deve até agora estar se perguntando como diabos pôde passar um ano e meio - um ano e meio! - me chamando de Giovani se meu nome enfim era Sebastião. E eu, aqui no meu canto, mesmo sabendo que o cheque trouxe à tona minha identidade, torço para que amanhã tudo continue como sempre e ela me pergunte:
- Já pegou tua chave, Giovani?
No começo, eu me sentia um pouco desconfortável. Várias vezes pensei em falar, mas, quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava. Cheguei a recorrer a expedientes bobos, do tipo sair de casa com o crachá da RBS no peito. Mas não houve jeito e aos poucos fui me acostumando. Hoje, posso dizer que até gosto.
Quando entreguei o cheque, meu coração começou a bater. Não que não estivesse batendo antes, mas começou a bater mais forte, vocês entendem. Minha esperança de que ela simplesmente colocaria o papel em uma gaveta e mandaria a filha depositar esvaiu-se ali mesmo, na hora. A dona do estacionamento foi implacável: revisou o cheque como se fora caixa de minimercado no Rubem Berta. Dispendeu uns bons cinco segundos de sua atenção ali.
Sem dúvidas de que ela descobrira, saí de mansinho. A cabeça baixa, contando as pedrinhas do chão. E desejando do fundo do coração não ser chamado, não ter de dar meia-volta. Era uma da tarde e eu não estava preparado para o que viria: papo-mole, vergonha, explicações.
Graças a Deus, ela não me chamou. É certo que se deu conta, mas preferiu silenciar. Deve até agora estar se perguntando como diabos pôde passar um ano e meio - um ano e meio! - me chamando de Giovani se meu nome enfim era Sebastião. E eu, aqui no meu canto, mesmo sabendo que o cheque trouxe à tona minha identidade, torço para que amanhã tudo continue como sempre e ela me pergunte:
- Já pegou tua chave, Giovani?
terça-feira, dezembro 06, 2005
Eu votei no Fogacinha principalmente porque ele disse que ia tirar o projeto de revitalização do Cais da gaveta. Agora, sábado, me sai uma manchete dizendo que os planos voltaram à estaca zero e - pasmem! - que o muro da Mauá será mantido. Que frustração, que tristeza, senti.
Juro, se eu fosse aposentado ou estudante secundarista, pegava uma picareta, chamava os jornais, e começava a destruir o paredão. Aliás, como é que ainda não fizeram isso?
Juro, se eu fosse aposentado ou estudante secundarista, pegava uma picareta, chamava os jornais, e começava a destruir o paredão. Aliás, como é que ainda não fizeram isso?
Mail que vira post...
Aliás, as comemorações (coloradas) e as notícias locais jé estão me constrangendo, como gaúcho. Parem com esta pantomima: o Brasil não viu o título colorado, senão como algo curioso, pitoresco. A cobertura da imprensa local é esquizofrênica. Ontem, cheguei em ZH portando um Correio que estampava manchete sobre a polêmica do Brasileirão. O segurança da Rudder me perguntou:
- E aí, como é que vai esta novela?
Não que eu quisesse, mas xinguei o coitado.
- Que novela, meu? Tá louco? Só o colorado acha que existe uma novela.
O cara magoou.
Aliás, as comemorações (coloradas) e as notícias locais jé estão me constrangendo, como gaúcho. Parem com esta pantomima: o Brasil não viu o título colorado, senão como algo curioso, pitoresco. A cobertura da imprensa local é esquizofrênica. Ontem, cheguei em ZH portando um Correio que estampava manchete sobre a polêmica do Brasileirão. O segurança da Rudder me perguntou:
- E aí, como é que vai esta novela?
Não que eu quisesse, mas xinguei o coitado.
- Que novela, meu? Tá louco? Só o colorado acha que existe uma novela.
O cara magoou.
domingo, dezembro 04, 2005
O Inter entrou em campo disposto a enfiar cinco no Coritiba e ser campeão brasileiro. Logo no início, tomou um e abandonou suas pretensões. Daí para diante, queria apenas ganhar, terminar empatado com o Corinthians e ser o campeão moral. Sem chances de vencer, o colorado concentrou-se em secar o líder e fingir que foi campeão de um campeonato de mentirinha.
***
Incrível como os colorados não conseguiram digerir a vitória do Grêmio na segunda divisão. Na segunda divisão! O despeito foi tanto, o grito reservado para o segundo pênalti do Náutico ficou tão entalado, que eles não puderam se contentar em comemorar a ida a Libertadores e tiveram de inventar um título fictício.
***
Imagina o constrangimento daquela gente na Goethe quando, terminado o jogo do Inter, a TV passou a mostrar o jogo do Corinthians. Tevez e Cia. trocavam passes na defesa, apenas esperando o apito final do juiz. Perdiam de 3 a 2, mas já nem queriam jogar. Do campeonato de mentirinha, da vontade colorada de comemorar, sequer tomaram conhecimento. Dos bares porto-alegrenses, não deu nem pra secar.
***
Semana passada, ZH saiu com doze páginas destinadas à heróica ascensão tricolor, reservando à vitória colorada apenas uma página. A fúria dos leitores, ou ao menos dos leitores vermelhos, foi tanta que dezenas suspenderam a assinatura. Os editores de Esportes parecem ter se arrependido - se é que não levaram puxão de orelha. Ontem, ao fim do jogo do colorado, como um juiz que dá um pênalti inexistente e depois procura recompensar, um dos manda-chuvas da editoria lasca uma sugestão de manchete: "Campeão na Bola". Campeão do que, carapálida? Calma Tião, ZH tem de se redimir pelas doze páginas da segunda passada...
***
Aliás, final melancólico o deste campeonato. Uma lição a todos que defendem os pontos corridos.
***
Por fim, eu tinha avisado: Ele não ia interceder duas vezes pela gauchada em tão pouco tempo...
***
Incrível como os colorados não conseguiram digerir a vitória do Grêmio na segunda divisão. Na segunda divisão! O despeito foi tanto, o grito reservado para o segundo pênalti do Náutico ficou tão entalado, que eles não puderam se contentar em comemorar a ida a Libertadores e tiveram de inventar um título fictício.
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Imagina o constrangimento daquela gente na Goethe quando, terminado o jogo do Inter, a TV passou a mostrar o jogo do Corinthians. Tevez e Cia. trocavam passes na defesa, apenas esperando o apito final do juiz. Perdiam de 3 a 2, mas já nem queriam jogar. Do campeonato de mentirinha, da vontade colorada de comemorar, sequer tomaram conhecimento. Dos bares porto-alegrenses, não deu nem pra secar.
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Semana passada, ZH saiu com doze páginas destinadas à heróica ascensão tricolor, reservando à vitória colorada apenas uma página. A fúria dos leitores, ou ao menos dos leitores vermelhos, foi tanta que dezenas suspenderam a assinatura. Os editores de Esportes parecem ter se arrependido - se é que não levaram puxão de orelha. Ontem, ao fim do jogo do colorado, como um juiz que dá um pênalti inexistente e depois procura recompensar, um dos manda-chuvas da editoria lasca uma sugestão de manchete: "Campeão na Bola". Campeão do que, carapálida? Calma Tião, ZH tem de se redimir pelas doze páginas da segunda passada...
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Aliás, final melancólico o deste campeonato. Uma lição a todos que defendem os pontos corridos.
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Por fim, eu tinha avisado: Ele não ia interceder duas vezes pela gauchada em tão pouco tempo...
Uma da manhã, estamos chegando de uma agradável noite no Temari (aliás, o melhor japa da cidade). Largamos o carro no estacionamento e é impossível não ouvir o inhé inhé dos balanços da praça ao lado. Surpreendentemente, a Rafaela aceita o convite de espiar quem brinca em tão avançada hora. Em meio à grama seca, alheio ao movimento da Nilópolis, um casal diverte-se no brinquedo. Aos poucos, entendemos que em frente aos dois há uma cadeira de rodas. Me corre um frio na espinha, me vejo dentro de um filme, um Mar Adentro da vida.
Sim, eu devia ter sido contaminado pela alegria dos amantes. Mas não consegui evitar: levei uma paulada de tristeza.
Sim, eu devia ter sido contaminado pela alegria dos amantes. Mas não consegui evitar: levei uma paulada de tristeza.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
terça-feira, novembro 29, 2005
Notícias de Petrópolis
***
Bem transada a loja Fabricário inaugurada na Nilópolis. Toda em madeira de demolição. Mas podia ter coisas mais bacanas para vender. A decoração é mais legal do que os produtos.
***
Na carona do sucesso do Z da Nilópolis, o Bela Gulla agora abre à noite. E serve chope.
***
Agora que é Nacional, o Febernatti fecha às 23h. E está tentando retomar a velha tradição de ser referência em importados. Mais uma razão para não ir ao Zaffari.
***
Eu e a Rafa já demos uns quantos cartões amarelos e vermelhos para o Café Ventura. A infração é sempre a mesma: mau atendimento. Mas, escorado em privilegiada localização geográfica e bom cardápio, o lugar sempre acaba absolvido na justiça desportiva.
***
Esses dias, depois de 15 minutos esperando um garçom resolvemos abandonar mesmo, o Ventura. Atravessamos a rua e fomos à champanharia DOC. Valeu a pena. A próxima meta é virar habitué da casa.
***
O cardápio da DOC é razoável. Tem umas coisinhas interessantes, como "sorvete com espumante e molho de laranjinha" ou "morangos com açúcar cristal e pimenta". As bruschetas são boas, mas um pouco caras: 15 pilas um pratinho com oito.
***
Bah, deu muito certo o novo sistema de aluguel de fitas por impressão digital da Back Video da Nilo. O cara encosta o dedinho no leitor e pronto: está feita a locação. Nem dá para acreditar - a tentação de conferir se o volante saiu com o nome correto é incontrolável.
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Bem transada a loja Fabricário inaugurada na Nilópolis. Toda em madeira de demolição. Mas podia ter coisas mais bacanas para vender. A decoração é mais legal do que os produtos.
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Na carona do sucesso do Z da Nilópolis, o Bela Gulla agora abre à noite. E serve chope.
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Agora que é Nacional, o Febernatti fecha às 23h. E está tentando retomar a velha tradição de ser referência em importados. Mais uma razão para não ir ao Zaffari.
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Eu e a Rafa já demos uns quantos cartões amarelos e vermelhos para o Café Ventura. A infração é sempre a mesma: mau atendimento. Mas, escorado em privilegiada localização geográfica e bom cardápio, o lugar sempre acaba absolvido na justiça desportiva.
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Esses dias, depois de 15 minutos esperando um garçom resolvemos abandonar mesmo, o Ventura. Atravessamos a rua e fomos à champanharia DOC. Valeu a pena. A próxima meta é virar habitué da casa.
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O cardápio da DOC é razoável. Tem umas coisinhas interessantes, como "sorvete com espumante e molho de laranjinha" ou "morangos com açúcar cristal e pimenta". As bruschetas são boas, mas um pouco caras: 15 pilas um pratinho com oito.
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Bah, deu muito certo o novo sistema de aluguel de fitas por impressão digital da Back Video da Nilo. O cara encosta o dedinho no leitor e pronto: está feita a locação. Nem dá para acreditar - a tentação de conferir se o volante saiu com o nome correto é incontrolável.
segunda-feira, novembro 28, 2005
Parece que Ele - que não é lá afeito a estas intervenções assim, tão diretas - refletiu sobre todo o campeonato, irritou-se com as 80 mil bandeirinhas de Penambuco, com um cara que quis assumir o seu papel de Grande Juiz, e decidiu colocar um dedinho lá nos Aflitos, só para mostrar "quem é que Manda".
***
Também parece que não pretende voltar a fazer tal molecagem tão cedo.
***
Também parece que não pretende voltar a fazer tal molecagem tão cedo.
quinta-feira, novembro 24, 2005
Tenho ouvido críticas à minha "visão preconceituosa" subjacente no post sobre gays discretos e indiscretos. A crítica é bem fundamentada - afinal não pode simplesmente o rapaz dar porque gosta ou a mulher esfregar porque lhe apraz? -, mas nunca esperem neste blog um raciocínio fechado e redondo. Apenas me dei conta de que uma afetação exagerada agride mais a um pai, a uma mãe, e quis manifestar isso. Agora, eu mesmo vivo dizendo que admiro mais as bichas loucas do que as enrustidas.
segunda-feira, novembro 21, 2005
domingo, novembro 20, 2005
Gente, antes de tudo, não, este não é um post de despedida, eu não penso em me matar, OK? Então, não se assustem (e nem me levem para a clínica São José). Agora sim, vamos lá, ao que eu ia dizendo:
***
Parem o mundo que eu quero descer. E talvez embarcar mais tarde, em outro ponto. Desconfio que talvez não valha a pena viver. Mas morrer deve ser tão pior...
***
Sobre morte. Morro de medo de morrer. Me cago até de falar em morte, escrever sobre morte, pensar em morte. Agora mesmo, estou assustado. Mas esses dias li um algo sobre o assunto que me provocou tanto, que quero dividir. Foi no livro de diálogos entre Borges e Sábato. Lá pelas tantas, o Borges diz:
"Eu acredito que se me dissessem que eu vou morrer esta noite e que não haverá dor física, eu ficaria muito tranqüilo e não faria nada diferente das coisas que faço todos os dias"
É isso: morro de medo que a morte atinja uma pessoa querida e morro de medo de morrer. Mas no meu caso pessoal, tenho medo da dor e do sofrimento. Sempre achei que morrer dói. Talvez se me dissessem que vou morrer esta noite e que nem vai doer, eu não tivesse tanto medo. Mas é bem possível que eu alterasse um pouco minha programação da tarde para aproveitar os últimos momentos.
***
Parem o mundo que eu quero descer. E talvez embarcar mais tarde, em outro ponto. Desconfio que talvez não valha a pena viver. Mas morrer deve ser tão pior...
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Sobre morte. Morro de medo de morrer. Me cago até de falar em morte, escrever sobre morte, pensar em morte. Agora mesmo, estou assustado. Mas esses dias li um algo sobre o assunto que me provocou tanto, que quero dividir. Foi no livro de diálogos entre Borges e Sábato. Lá pelas tantas, o Borges diz:
"Eu acredito que se me dissessem que eu vou morrer esta noite e que não haverá dor física, eu ficaria muito tranqüilo e não faria nada diferente das coisas que faço todos os dias"
É isso: morro de medo que a morte atinja uma pessoa querida e morro de medo de morrer. Mas no meu caso pessoal, tenho medo da dor e do sofrimento. Sempre achei que morrer dói. Talvez se me dissessem que vou morrer esta noite e que nem vai doer, eu não tivesse tanto medo. Mas é bem possível que eu alterasse um pouco minha programação da tarde para aproveitar os últimos momentos.
Briguei com meu pai, ao vivo e por telefone, e até com minha mãe, por telefone. Me irritei tanto que joguei o celular na parede. O problema é que o aparelho ricocheteou e foi parar lá embaixo, na rua (da amargura).
Pleft. Silêncio. Guardinha murmurando com alguém na calçada. Aqui em cima, eu quebro o gelo.
- Busca lá, Rafa.
- Tá louco, tu que atirou. Agora vai lá passar vergonha.
Argumento irrefutável. Eu desço.
- Desculpa cara, não era para cair perto da tua cabeça, queria atirar mais para lá, para o meio da rua, saca?
- Ãrran.
Subo com o equipamento. Hora de um bate-papo reflexivo.
- Tu acha que eu sou louco, Rafa?
- Sei lá. Talvez não. Às vezes a gente atira coisas quando tá brabo.
- É mesmo.
Novo silêncio. Hora de checar o estrago. Mas que estrago? É só encaixar uma peça na outra e voilá: o telefone está funcionando. Nokia 2280: simplesmente indestrutível.
Pleft. Silêncio. Guardinha murmurando com alguém na calçada. Aqui em cima, eu quebro o gelo.
- Busca lá, Rafa.
- Tá louco, tu que atirou. Agora vai lá passar vergonha.
Argumento irrefutável. Eu desço.
- Desculpa cara, não era para cair perto da tua cabeça, queria atirar mais para lá, para o meio da rua, saca?
- Ãrran.
Subo com o equipamento. Hora de um bate-papo reflexivo.
- Tu acha que eu sou louco, Rafa?
- Sei lá. Talvez não. Às vezes a gente atira coisas quando tá brabo.
- É mesmo.
Novo silêncio. Hora de checar o estrago. Mas que estrago? É só encaixar uma peça na outra e voilá: o telefone está funcionando. Nokia 2280: simplesmente indestrutível.
sexta-feira, novembro 18, 2005
quarta-feira, novembro 16, 2005
Ontem, fizemos dois anos de namoro, eu e a Rafa. Íamos comemorar no Puppi Baggio, atraídos pela possibilidade de tomar champagne por um preço só uns 20% acima do cobrado da loja de vinhos do porão. Mas o restaurante estava fechado, bem como muitos outros da redondeza, e cogitamos o Usina das Massas, ao lado. Entramos, lemos a carta de vinhos, descobrimos que a champa mais barata seria a Chandon por R$ 54 e fomos embora. Não sem antes argumentar com o maître que com a concorrência da adega do Puppi ao lado, eles iam ter de reformular os preços. Ao menos dos espumantes, porque os outros vinhos estavam OK, alinhados com as sugestões da distribuidora Vinhos do Mundo. O rapaz foi bem simpático e sugeriu que levássemos a própria bebida, pagando a rolha de R$ 15, uma das mais baratas da cidade. (Vou poupa-los dos cálculos, desta vez).
Apesar da simpatia do funcionário, resolvemos tentar outras paragens. Oyster Box, fechado, Lê Bistrô, não, e cá estamos de novo em frente ao Usina. Melhor dar uma chance a esta casa que abriu com um ambiente asqueroso, luzes de churrascaria, me lembro, e agora já se apresenta com um certo requinte decorativo, além de bom atendimento.
O garçom fez uma educada explanação sobre o funcionamento do cardápio, os pratos são para um ou para dois e, sim, dá para jogar massas e molhos. Mas vamos ao que interessa: pedimos um branco Casa Valduga, R$ 30, e a Rafa quis a massa mais cara da casa. Mediterrâneo: fetuccine com molho de camarão, lula, tomate, azeite e R$ 60.
O menu vem em uma panela de ferro, bonita, mas que talvez continue cozinhando a massa na mesa. Umas garfadas e dá para ver que qualidade da pasta é o grande trunfo desta Usina. Fabricada pelo próprio restaurante, a massa não perde a consistência nem se o cozinheiro se passa um pouco no cozimento; é firme, sem deixar de ser leve. Uma beleza.
Os camarões vêm com cozimento adequado, apenas um pouco mais do que quase cru. Uma vez ouvi que existia o camarão e a camaroa e que um deles seria menos catinguento (alguém sabe algo sobre isso?). O da Usina tinha um gosto um pouco mais forte do que o ideal, mas totalmente aceitável. A lula, esta sim, estava chiclezenta acima da média. Não sei como fazê-la ficar menos elástica, mas sei que já comi umas melhorzinhas. Mas o maior problema do prato é o molho. O tomate é bom e siciliano, sim. Mas é muito. O molho vermelho enche até a metade da panela. Resultado: 50% da massa termina por passar, porque cozinha imersa no líquido quente, e a ficar um pouco mole demais. Pior: a quantidade de tomate, azeite e frutos do mar é totalmente desproporcional. O molho de tomate atrapalha os contrastes de sabores, impõe-se mais do que os outros ingredientes e faz a malha mediterrânea quase parecer massa ao sugo. Ainda assim, dá para sentir o gostinho da pimenta ao fundo.
Eu preferiria que a massa mediterrânea viesse num pratinho, com mais azeite, mais camarão, mais lula, mais pimenta e menos tomate. Mas essa coisa de fazer um monte de molho é mania em tudo quanto é restaurante italiano.
Apesar das críticas, a Usina passou no teste, com uma nota de 8,25. Ainda mais depois que o garçom chegou à nossa mesa, recolheu os pratos e disse que a sobremesa era por conta da casa. A propósito, o petit gateau não perde para os melhores da cidade, enquanto o sorvete com calda de frutas vermelhas pareceu-me pouco delicado, quase um milk shake de morango.
Apesar da simpatia do funcionário, resolvemos tentar outras paragens. Oyster Box, fechado, Lê Bistrô, não, e cá estamos de novo em frente ao Usina. Melhor dar uma chance a esta casa que abriu com um ambiente asqueroso, luzes de churrascaria, me lembro, e agora já se apresenta com um certo requinte decorativo, além de bom atendimento.
O garçom fez uma educada explanação sobre o funcionamento do cardápio, os pratos são para um ou para dois e, sim, dá para jogar massas e molhos. Mas vamos ao que interessa: pedimos um branco Casa Valduga, R$ 30, e a Rafa quis a massa mais cara da casa. Mediterrâneo: fetuccine com molho de camarão, lula, tomate, azeite e R$ 60.
O menu vem em uma panela de ferro, bonita, mas que talvez continue cozinhando a massa na mesa. Umas garfadas e dá para ver que qualidade da pasta é o grande trunfo desta Usina. Fabricada pelo próprio restaurante, a massa não perde a consistência nem se o cozinheiro se passa um pouco no cozimento; é firme, sem deixar de ser leve. Uma beleza.
Os camarões vêm com cozimento adequado, apenas um pouco mais do que quase cru. Uma vez ouvi que existia o camarão e a camaroa e que um deles seria menos catinguento (alguém sabe algo sobre isso?). O da Usina tinha um gosto um pouco mais forte do que o ideal, mas totalmente aceitável. A lula, esta sim, estava chiclezenta acima da média. Não sei como fazê-la ficar menos elástica, mas sei que já comi umas melhorzinhas. Mas o maior problema do prato é o molho. O tomate é bom e siciliano, sim. Mas é muito. O molho vermelho enche até a metade da panela. Resultado: 50% da massa termina por passar, porque cozinha imersa no líquido quente, e a ficar um pouco mole demais. Pior: a quantidade de tomate, azeite e frutos do mar é totalmente desproporcional. O molho de tomate atrapalha os contrastes de sabores, impõe-se mais do que os outros ingredientes e faz a malha mediterrânea quase parecer massa ao sugo. Ainda assim, dá para sentir o gostinho da pimenta ao fundo.
Eu preferiria que a massa mediterrânea viesse num pratinho, com mais azeite, mais camarão, mais lula, mais pimenta e menos tomate. Mas essa coisa de fazer um monte de molho é mania em tudo quanto é restaurante italiano.
Apesar das críticas, a Usina passou no teste, com uma nota de 8,25. Ainda mais depois que o garçom chegou à nossa mesa, recolheu os pratos e disse que a sobremesa era por conta da casa. A propósito, o petit gateau não perde para os melhores da cidade, enquanto o sorvete com calda de frutas vermelhas pareceu-me pouco delicado, quase um milk shake de morango.
terça-feira, novembro 15, 2005
Mais difícil do que imaginar o que fazer com o dinheiro ganho na Mega Sena, só imaginar a probabilidade de ganhar. Oquei, é só passar lá no site da Caixa e conferir. Para um jogo de R$ 1,50, seis números apostados, as chances são de uma em 50.063.860. Tá, e daí? Que diabos significa uma em 50.063.860?
É mais ou menos por isso que os jornalistas são orientados a fazer comparações. No caso de área, a tática é sempre a mesma. O terreno tem o tamanho de dois campos de futebol. Fácil de entender, né? Mas o Rodrigo tem razão e volta e meia uns passam dos limites e dizem que uma área equivale a 1.256 campos de futebol. E quem lá já viu ou imaginou 1.256 campos de futebol juntos?
Um amigo me disse que viu no Fantástico uma matéria sobre as possibilidades de ganhar na Mega Sena. Lá, ele deve ter aprendido que se cada brasileiro fizer uma aposta na loteria, apenas quatro ganhariam. Uma conta que não chega a assustar o apostador, porque, enfim, quatro ganhariam. Agora, se o programa tivesse feito o cálculo que eu sempre faço e se 100% da população brasileira tivesse visto o programa, então as apostas na Mega Sena chegariam à fantástica marca de zero. Meu raciocínio é o seguinte: a chance de dar 07-10-13-24-33-51 é a mesma de dar 01-02-03-04-05-06. O que leva à fascinante conclusão de que o idiota que joga 01-02-03-04-05-06 não é um idiota – ao menos não mais do que todos os outros apostadores.
Por outro lado, essa mesma reportagem do Fantástico mostrou um dado animador, contou meu amigo. É mais fácil ganhar na Mega Sena do que levar um raio na cabeça. Uau! Vou começar a apostar. Uma vez, à cavalo na fazenda, vi oito marmanjões criados no campo, galopando desesperadamente para fugir da tormenta. Imagina o afinco com que esta gente não joga na loteria? E também vi, nessa mesma vez, um raio cair a pouquíssimos metros de nós. Levando-se em conta que eu monto em um cavalo apenas umas três vezes por ano e que ainda assim eu já quase levei um raio na cabeça, então se eu jogasse três vezes por ano na loteria, teria já quase ganhado uma vez. Digamos que uma quina eu teria levado. E imagina se estas vacas do interior afora soubessem que é tão fácil ganhar na loteria quanto morrer de raio: fariam filas na lotérica, animadas com a quantidade de companheiras que já levaram uma descarga na cabeça.
E também nesta reportagem do Fantástico disseram que tem um cara que já levou quatro raios na cabeça. E nunca ganhou na loteria. É o supra-sumo do azar (ou da sorte, porque o cara também nunca morreu). Se ele fosse tão sortudo quanto azarado, teria levado a Mega Sena quatro vezes na vida. Por outro lado, o João Alves aquele ganhou umas centenas de vezes na loteria, né? Êta mundo injusto!
E diz o meu amigo que o Fantástico ainda disse que sete de cada dez ganhadores da Mega Sena vão à falência. Apenas 30% ficam ricos. Ou seja, depois de ser sorteado entre 50 milhões de apostas, o cara ainda tem de ter sorte para conseguir manter a grana. Parece nada, mas isso dificulta em três vezes as chances de virar rico com a loteria. O cálculo é o seguinte 1/50.063.860 vezes 3/10, o que dá igual a 3/500.638.600. Ou seja: a chance de ganhar na Mega Sena e ficar rico é de uma em 166.879.530.
Agora, vamos combinar, se o cara enfrenta uma em 50 milhões, tem de ser muito idiota, aí sim, para não ficar entre três de dez. Podem ter certeza que eu ficaria. Depois de tanta complicação, imaginar o que fazer com a grana não é problema para mim.
É mais ou menos por isso que os jornalistas são orientados a fazer comparações. No caso de área, a tática é sempre a mesma. O terreno tem o tamanho de dois campos de futebol. Fácil de entender, né? Mas o Rodrigo tem razão e volta e meia uns passam dos limites e dizem que uma área equivale a 1.256 campos de futebol. E quem lá já viu ou imaginou 1.256 campos de futebol juntos?
Um amigo me disse que viu no Fantástico uma matéria sobre as possibilidades de ganhar na Mega Sena. Lá, ele deve ter aprendido que se cada brasileiro fizer uma aposta na loteria, apenas quatro ganhariam. Uma conta que não chega a assustar o apostador, porque, enfim, quatro ganhariam. Agora, se o programa tivesse feito o cálculo que eu sempre faço e se 100% da população brasileira tivesse visto o programa, então as apostas na Mega Sena chegariam à fantástica marca de zero. Meu raciocínio é o seguinte: a chance de dar 07-10-13-24-33-51 é a mesma de dar 01-02-03-04-05-06. O que leva à fascinante conclusão de que o idiota que joga 01-02-03-04-05-06 não é um idiota – ao menos não mais do que todos os outros apostadores.
Por outro lado, essa mesma reportagem do Fantástico mostrou um dado animador, contou meu amigo. É mais fácil ganhar na Mega Sena do que levar um raio na cabeça. Uau! Vou começar a apostar. Uma vez, à cavalo na fazenda, vi oito marmanjões criados no campo, galopando desesperadamente para fugir da tormenta. Imagina o afinco com que esta gente não joga na loteria? E também vi, nessa mesma vez, um raio cair a pouquíssimos metros de nós. Levando-se em conta que eu monto em um cavalo apenas umas três vezes por ano e que ainda assim eu já quase levei um raio na cabeça, então se eu jogasse três vezes por ano na loteria, teria já quase ganhado uma vez. Digamos que uma quina eu teria levado. E imagina se estas vacas do interior afora soubessem que é tão fácil ganhar na loteria quanto morrer de raio: fariam filas na lotérica, animadas com a quantidade de companheiras que já levaram uma descarga na cabeça.
E também nesta reportagem do Fantástico disseram que tem um cara que já levou quatro raios na cabeça. E nunca ganhou na loteria. É o supra-sumo do azar (ou da sorte, porque o cara também nunca morreu). Se ele fosse tão sortudo quanto azarado, teria levado a Mega Sena quatro vezes na vida. Por outro lado, o João Alves aquele ganhou umas centenas de vezes na loteria, né? Êta mundo injusto!
E diz o meu amigo que o Fantástico ainda disse que sete de cada dez ganhadores da Mega Sena vão à falência. Apenas 30% ficam ricos. Ou seja, depois de ser sorteado entre 50 milhões de apostas, o cara ainda tem de ter sorte para conseguir manter a grana. Parece nada, mas isso dificulta em três vezes as chances de virar rico com a loteria. O cálculo é o seguinte 1/50.063.860 vezes 3/10, o que dá igual a 3/500.638.600. Ou seja: a chance de ganhar na Mega Sena e ficar rico é de uma em 166.879.530.
Agora, vamos combinar, se o cara enfrenta uma em 50 milhões, tem de ser muito idiota, aí sim, para não ficar entre três de dez. Podem ter certeza que eu ficaria. Depois de tanta complicação, imaginar o que fazer com a grana não é problema para mim.
sábado, novembro 12, 2005
Sobre o jogo.
***
Eu nunca deixei de acreditar. E foi bonito que a torcida, mesmo antes do primeiro gol do Grêmio, também mostrou ao time que dava.
***
Tinha um carinha que urrava no início do segundo tempo, chamando o Mano de burro por ter tirado o Ânderson. Saiu mais cedo do estádio. De vergonha, espero.
***
Também não faltaram as vaias pro Marcel. Mais uma vez, ele foi decisivo na volta por cima do time. Não é craque, mas corre o tempo todo, marca e, mesmo que atrapalhado, vai pra cima.
***
Futebol não é só paixão. Tem um pouco de razão.
***
Segunda-feira vou gritar no bar da Zero Hora, quando sentir a aproximação do Santana. "Grêmio com Ânderson: dois a zero para o adversário. Grêmio sem Ânderson: dois a zero pro Grêmio." Se der, vou babar também.
***
Antes do jogo, teve palestra com vídeo motivacional para os boleiros tricolores. Além de tremenda veadagem, a banalização desse instrumento me lembra a das musiquinhas, tão bem caricaturizada pelo Casseta.
***
Eu nunca deixei de acreditar. E foi bonito que a torcida, mesmo antes do primeiro gol do Grêmio, também mostrou ao time que dava.
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Tinha um carinha que urrava no início do segundo tempo, chamando o Mano de burro por ter tirado o Ânderson. Saiu mais cedo do estádio. De vergonha, espero.
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Também não faltaram as vaias pro Marcel. Mais uma vez, ele foi decisivo na volta por cima do time. Não é craque, mas corre o tempo todo, marca e, mesmo que atrapalhado, vai pra cima.
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Futebol não é só paixão. Tem um pouco de razão.
***
Segunda-feira vou gritar no bar da Zero Hora, quando sentir a aproximação do Santana. "Grêmio com Ânderson: dois a zero para o adversário. Grêmio sem Ânderson: dois a zero pro Grêmio." Se der, vou babar também.
***
Antes do jogo, teve palestra com vídeo motivacional para os boleiros tricolores. Além de tremenda veadagem, a banalização desse instrumento me lembra a das musiquinhas, tão bem caricaturizada pelo Casseta.
quarta-feira, novembro 09, 2005
Acabo de voltar de um jantar na casa de meus pais. Discussão braba – aliás, como só ocorrer - com o véio. Ele tentando convencer-nos, a mim e à minha irmã, de que futebol não era o esporte mais adequado para a constituição física feminina; nós tentando convencê-lo de que ele não passa de um conservador preconceituoso. Bronca vai, bronca vem, e eu me irrito. Penso em uma coisa que prove minha tese, mas, principalmente, que o agrida:
- Pois eu já beijei homens. Duas vezes – minto.
Silêncio.
- E foi bom? – pergunta, condoído, mas fingindo não ter se importado, o pai.
- Nem sei, tava chapado, deve ter sido – respondo.
- Mas foi só selinho? – pergunta nervoso, o pai.
- Não, de língua – provoco.
Não, não estou escrevendo este post para tanqüilizá-lo. Por mim, ele que pensasse a vida toda que eu fosse gay, para se lembrar, a vida toda, de que é um grande conservador. Só fiquei preocupado com a Alba, cozinheira lá de casa, que escutou o papo da cozinha e deve ter ficado apavorada, afinal, ela me criou, tem certa responsabilidade sobre minhas escolhas. Mãe e Maria, por favor, digam pra Alba que era mentira, tá, que eu não beijei homens, muito menos de língua, e portanto nem posso saber se foi bom. Também botem uma carta preventiva nas caixas de correio do prédio, dizendo que minha confissão foi apenas retórica e não tem correspondência na vida real, caso algum vizinho tenha escutado o bate-boca.
Mas voltando ao objetivo real do post, o ocorrido me deu uma luz incrível para entender a opção homossexual. Acho que nada é mais frustrante para um pai médio do que descobrir que um filho é bicha. E é simplesmente impossível que por trás de um gay não tenha uma pontinha de desejo de magoar o pai. Uma pontinha, que seja.
Bom, ao menos essa é uma verdade em se tratando dos gays que assumem publicamente sua condição, ou para os que, embora não o façam, fazem questão de dar pistas. Seguindo esse raciocínio, me parece que há uma grande diferença, um abismo causal, entre o gay assumido e o enrustido. Um precisa agredir os pais e a sociedade; o outro, não. Donde se pode concluir que viado, mas viado mesmo, é o enrustido. Aquele que dá, sem nem precisar agredir o pai. Dá porque gosta e porque quer. A bicha discreta é muito mais bicha do que a bicha louca.
O que não quer dizer que eu admire mais o gay discreto. Aliás, pelo contrário.
- Pois eu já beijei homens. Duas vezes – minto.
Silêncio.
- E foi bom? – pergunta, condoído, mas fingindo não ter se importado, o pai.
- Nem sei, tava chapado, deve ter sido – respondo.
- Mas foi só selinho? – pergunta nervoso, o pai.
- Não, de língua – provoco.
Não, não estou escrevendo este post para tanqüilizá-lo. Por mim, ele que pensasse a vida toda que eu fosse gay, para se lembrar, a vida toda, de que é um grande conservador. Só fiquei preocupado com a Alba, cozinheira lá de casa, que escutou o papo da cozinha e deve ter ficado apavorada, afinal, ela me criou, tem certa responsabilidade sobre minhas escolhas. Mãe e Maria, por favor, digam pra Alba que era mentira, tá, que eu não beijei homens, muito menos de língua, e portanto nem posso saber se foi bom. Também botem uma carta preventiva nas caixas de correio do prédio, dizendo que minha confissão foi apenas retórica e não tem correspondência na vida real, caso algum vizinho tenha escutado o bate-boca.
Mas voltando ao objetivo real do post, o ocorrido me deu uma luz incrível para entender a opção homossexual. Acho que nada é mais frustrante para um pai médio do que descobrir que um filho é bicha. E é simplesmente impossível que por trás de um gay não tenha uma pontinha de desejo de magoar o pai. Uma pontinha, que seja.
Bom, ao menos essa é uma verdade em se tratando dos gays que assumem publicamente sua condição, ou para os que, embora não o façam, fazem questão de dar pistas. Seguindo esse raciocínio, me parece que há uma grande diferença, um abismo causal, entre o gay assumido e o enrustido. Um precisa agredir os pais e a sociedade; o outro, não. Donde se pode concluir que viado, mas viado mesmo, é o enrustido. Aquele que dá, sem nem precisar agredir o pai. Dá porque gosta e porque quer. A bicha discreta é muito mais bicha do que a bicha louca.
O que não quer dizer que eu admire mais o gay discreto. Aliás, pelo contrário.
segunda-feira, novembro 07, 2005
domingo, novembro 06, 2005
sábado, novembro 05, 2005
Diálogo de MSN (Sic)
Jana Jan diz:
ai, tu olha novela? a das oito, essa chata?
Jana Jan diz:
ah, olha sim. a nova do tião.
Acredita que meu irmão tá saindo com uma guria q se chama raíssa haydé?
sebastião diz:
como assim? então ela é recém nascida?
sebastião diz:
vou botar no blógui.
Jana Jan diz:
ela tem 17 anos
sebastião diz:
ah, é filha da mãe diná?
Jana Jan diz:
deve ser... engraçado, né?
sebastião diz:
improvável. deve ser mentira. tua, dele ou dela?
Jana Jan diz:
eu vi a carteira de identidade
Jana Jan diz:
ai, tu olha novela? a das oito, essa chata?
Jana Jan diz:
ah, olha sim. a nova do tião.
Acredita que meu irmão tá saindo com uma guria q se chama raíssa haydé?
sebastião diz:
como assim? então ela é recém nascida?
sebastião diz:
vou botar no blógui.
Jana Jan diz:
ela tem 17 anos
sebastião diz:
ah, é filha da mãe diná?
Jana Jan diz:
deve ser... engraçado, né?
sebastião diz:
improvável. deve ser mentira. tua, dele ou dela?
Jana Jan diz:
eu vi a carteira de identidade
sexta-feira, novembro 04, 2005
quinta-feira, novembro 03, 2005
Até meus 18 anos, o grande barato era furar festas. Passar pelas macegas laterais do Saigon, entrar e arrasar com o baile de 15 da filha do oculista, depositar vez que outra 5 pilas na mão do porteiro do Cord e ter acesso livre à casa.
Para ser sincero, eu pouco conseguia furar, ao passo que o Urso, o Roberto e o Negão até hoje são hectoplasmas invisíveis para a espécie leão-de-chácara. Talvez por isso mesmo, um dia decidi que todo o esforço para entrar "ilegalmente"em um evento é absurdo e constrangedor. Desde então, nunca tentei sequer negociar entrada com porteiro e pago o que me cobram. Se o lugar não merece o dinheiro, vou para outro. Se não sou convidado, faço questão de não ir.
Hoje, tenho mesmo orgulho de ser assim. E por isso saí arrasado do trabalho segunda-feira. O presidente da Monsanto mundial estava em Porto Alegre. Tentamos insistentemente por meio da assessoria marcar uma entrevista, mas a ordem era clara: ele não queria falar com a imprensa. Assim mesmo (ou por isso mesmo), meus editores me enviaram à festa oferecida pelo seu Hugh Grant (sim, é homônimo), CEO da multinacional.
Chegar ao Brittish Club sem ser convidado, gritar para um cara que você nem sabe se é mesmo o cara "Mister Hugh, could you talk to us a little?", tascar um flashaço na lata do primeiro careca que desce da van e implorar para falar com uma pessoa que disse expressamente que te dispensa (e despreza?). Pior que tudo isso, só o monte de gente olhando para ti como um furão que faz de tudo para se fazer presente onde não foi chamado.
Não tenho nem ânimo nem saco para discutir se tudo isso é necessário, faz parte do trabalho, etc... A verdade é que o episódio terminou com a minha semana e pela primeira vez me fez pensar: será que vale a pena essa vida? Ganhar tão pouco para se sentir menos ainda - está ficando demais para mim.
Para ser sincero, eu pouco conseguia furar, ao passo que o Urso, o Roberto e o Negão até hoje são hectoplasmas invisíveis para a espécie leão-de-chácara. Talvez por isso mesmo, um dia decidi que todo o esforço para entrar "ilegalmente"em um evento é absurdo e constrangedor. Desde então, nunca tentei sequer negociar entrada com porteiro e pago o que me cobram. Se o lugar não merece o dinheiro, vou para outro. Se não sou convidado, faço questão de não ir.
Hoje, tenho mesmo orgulho de ser assim. E por isso saí arrasado do trabalho segunda-feira. O presidente da Monsanto mundial estava em Porto Alegre. Tentamos insistentemente por meio da assessoria marcar uma entrevista, mas a ordem era clara: ele não queria falar com a imprensa. Assim mesmo (ou por isso mesmo), meus editores me enviaram à festa oferecida pelo seu Hugh Grant (sim, é homônimo), CEO da multinacional.
Chegar ao Brittish Club sem ser convidado, gritar para um cara que você nem sabe se é mesmo o cara "Mister Hugh, could you talk to us a little?", tascar um flashaço na lata do primeiro careca que desce da van e implorar para falar com uma pessoa que disse expressamente que te dispensa (e despreza?). Pior que tudo isso, só o monte de gente olhando para ti como um furão que faz de tudo para se fazer presente onde não foi chamado.
Não tenho nem ânimo nem saco para discutir se tudo isso é necessário, faz parte do trabalho, etc... A verdade é que o episódio terminou com a minha semana e pela primeira vez me fez pensar: será que vale a pena essa vida? Ganhar tão pouco para se sentir menos ainda - está ficando demais para mim.
Tem sido assim todos os dias, mas mais na quarta-feira. É quando a cama realmente me expulsa. Agora há pouco mesmo, tinha pegado no sono. Um minuto? Até a vizinha, a Maeve (Maevi?), pisar no hall de entrada. Um simples salto alto no chão foi o suficiente para me despertar. Não tivesse o 302 uma grade antes da porta é possível que eu tivesse conseguido redormir.
O fato é que depois de acordar, a inquietude foi infinita. Uma coceira atrás do joelho, outra junto ao lipoma, mais uma no pentelho. Depois, os calafrios. Três, quatro espíritos que passaram. Vira prum lado, desvira, até o golpe de misericórdia: um mosquito zunindo.
Agora, estou aqui, enquanto na pracinha da esquina, a disputa noturna dos garçons parece cada vez mais acirrada. Pena eu não ter um cão, uma desculpa para passear e bisbilhotar o futebol. Ou só para dar uma volta na quadra mesmo.
Sem companhia, só me resta mesmo navegar, a perninha balançando rápida e involuntariamente, e postar. Acho que vou ler blogs.
O fato é que depois de acordar, a inquietude foi infinita. Uma coceira atrás do joelho, outra junto ao lipoma, mais uma no pentelho. Depois, os calafrios. Três, quatro espíritos que passaram. Vira prum lado, desvira, até o golpe de misericórdia: um mosquito zunindo.
Agora, estou aqui, enquanto na pracinha da esquina, a disputa noturna dos garçons parece cada vez mais acirrada. Pena eu não ter um cão, uma desculpa para passear e bisbilhotar o futebol. Ou só para dar uma volta na quadra mesmo.
Sem companhia, só me resta mesmo navegar, a perninha balançando rápida e involuntariamente, e postar. Acho que vou ler blogs.
quarta-feira, novembro 02, 2005
domingo, outubro 30, 2005
Definitivamente, a Rafa está aprendendo a cozinhar. E começa do melhor jeito: com o trivial. Quem não sabe passar um bife na chapa, refogar uma cebolinha, ferver um brócoli jamais será um gourmet. Ninguém vira um grande jogador de futebol se não aprende a fazer balãozinho. Ninguém dirige um Fórmula 1 se não sabe dirigir um kart. Ninguém aprende a pilotar em um boeing. O básico é sempre o essencial.
É por isso que estou extremamente contente com as incursões semanais de minha mulher à cozinha. Semana retrasada foi peito de frango com arroz e legumes, semana passada, guisadinho com arroz e legumes e agora, franguinho desfiado refogado com arroz e legumes. Sim pode ser repetitivo, mas quantas vezes você teve de somar para aprender a multiplicar? Cada refeição é uma evolução. Se na primeira tentativa o brócoli se desmanchava na panela, agora é firme e mantém sua forma de flor. A boa cozinha sabe trabalhar com os cinco sentidos e ninguém faz um grande prato se não sabe que a vagem tem de cozinhar apenas o suficiente para exalar seu cheiro, mas não perder na água a cor, a consistência crocante e o sabor. Não há chef que tenha feito um bom canard a l`orange sem antes ter cozido centenas de frangos.
Fora que esta coisa de preparar marmitas para toda a semana é muito gostosa - e romântica, por incrível que pareça. Escolher o menu, ir para a cozinha, testar tempeiros e depois separar as comidinhas em pequenas marmitas, dosando as cores e sabores de forma equilibrada... É quase uma arte. Melhor que isso, só saber que você vai chegar em casa depois do trabalho e não terá de encarar um yakisoba Sadia.
É por isso que estou extremamente contente com as incursões semanais de minha mulher à cozinha. Semana retrasada foi peito de frango com arroz e legumes, semana passada, guisadinho com arroz e legumes e agora, franguinho desfiado refogado com arroz e legumes. Sim pode ser repetitivo, mas quantas vezes você teve de somar para aprender a multiplicar? Cada refeição é uma evolução. Se na primeira tentativa o brócoli se desmanchava na panela, agora é firme e mantém sua forma de flor. A boa cozinha sabe trabalhar com os cinco sentidos e ninguém faz um grande prato se não sabe que a vagem tem de cozinhar apenas o suficiente para exalar seu cheiro, mas não perder na água a cor, a consistência crocante e o sabor. Não há chef que tenha feito um bom canard a l`orange sem antes ter cozido centenas de frangos.
Fora que esta coisa de preparar marmitas para toda a semana é muito gostosa - e romântica, por incrível que pareça. Escolher o menu, ir para a cozinha, testar tempeiros e depois separar as comidinhas em pequenas marmitas, dosando as cores e sabores de forma equilibrada... É quase uma arte. Melhor que isso, só saber que você vai chegar em casa depois do trabalho e não terá de encarar um yakisoba Sadia.
Agora há pouco, na videolocadora, vi um antigo casal de amigos. Se conheceram há uns cinco anos. Ele, metade oriental, filho de pai japa com mãe brasileira. Ela, mulata, pêlo-duro mesmo. Agora, tudo mudou. A guria alisou os cabelos e deu para ficar com os olhos puxados - parece uma ninfetinha tailandesa.
É incrível como a convivência faz as pessoas ficarem iguais. Claro, se dois se aproximaram é porque não eram lá tão diferentes. A guria de camiseta do Metallica bem que gosta de um metaleiro cabeludo. O casal do abriguinho Adidas conheceu-se na academia, porque, enfim, ambos gostavam de estar na academia e admiravam o estilinho esportivo. E assim por diante.
Mas é inegável que a convivência vai tornando os amantes ainda mais parecidos. A tal ponto que muitas vezes já não dá para ver dois como dois, senão como um mesmo ser. É difícil imaginar Rodrigo sem Larissa, Afonso sem Magnólia, Gallas sem Clarissa (ops, esses se separaram).
Até nos gestos, nos tiques, nas bobagens, os apaixonados se entendem. Eu e a Rafa, por exemplo. Era só olharmo-nos com um olhar assim meio enviesado e sem vergonha que o diálogo pronto começava:
- Como te chamas?
- Pedro Machuca.
- Más fuerte!
- Pedro Machuca.
- Más fuerte.
- PEDRO MACHUCA!!!
Pausa de dois segundos. Os dois juntos, em côro:
- Son novios, son novios, son novios!
Natural. Tínhamos visto juntos o trailer sobre o filme, gostamos, brincamos e inventamos de repetir a besteira.
Mas não é só isso que torna os casais parecidos. Há algo, assim, inexplicável, intangível que fez a mulata virar japa. Tanto que tenho dois amigos que começaram como namorados e agora são irmãos.
É incrível como a convivência faz as pessoas ficarem iguais. Claro, se dois se aproximaram é porque não eram lá tão diferentes. A guria de camiseta do Metallica bem que gosta de um metaleiro cabeludo. O casal do abriguinho Adidas conheceu-se na academia, porque, enfim, ambos gostavam de estar na academia e admiravam o estilinho esportivo. E assim por diante.
Mas é inegável que a convivência vai tornando os amantes ainda mais parecidos. A tal ponto que muitas vezes já não dá para ver dois como dois, senão como um mesmo ser. É difícil imaginar Rodrigo sem Larissa, Afonso sem Magnólia, Gallas sem Clarissa (ops, esses se separaram).
Até nos gestos, nos tiques, nas bobagens, os apaixonados se entendem. Eu e a Rafa, por exemplo. Era só olharmo-nos com um olhar assim meio enviesado e sem vergonha que o diálogo pronto começava:
- Como te chamas?
- Pedro Machuca.
- Más fuerte!
- Pedro Machuca.
- Más fuerte.
- PEDRO MACHUCA!!!
Pausa de dois segundos. Os dois juntos, em côro:
- Son novios, son novios, son novios!
Natural. Tínhamos visto juntos o trailer sobre o filme, gostamos, brincamos e inventamos de repetir a besteira.
Mas não é só isso que torna os casais parecidos. Há algo, assim, inexplicável, intangível que fez a mulata virar japa. Tanto que tenho dois amigos que começaram como namorados e agora são irmãos.
sábado, outubro 29, 2005
Isto é mais uma questão pro Blógui da Larissa, mas não custa tentar obter uma ajudinha aqui também. Há mais de uma semana, um peixe apodreceu na minha geladeira. O câncer foi extirpado, mas o cheiro permanece, contaminando todo e qualquer alimento posto a gelar. Pelamordedeus: que fazer? Em tempo: já tentei café. Não está adiantando muito.
quinta-feira, outubro 27, 2005
Pelo amor de Deus, não tomem suco de amora. Faz mijar preto. Depois, tem que ficar tomando água e fazendo pipi em copinho plástico para ver se é sangue. Se o pretume reduz, de copo a copo, não dá nada: é amora. Se aumentasse, acho que seria sangue e aí deve ter de ir pro hospital, né? Na dúvida, melhor evitar suco de amora.
Eu preciso de um Sonrisal. Mas Sonrisal não é o tipo de coisa que um casal recém casado tenha em casa. Sonrisal é coisa de casa de pai, de mãe, de sogro. Agora, eu juro, tivesse a Panvel da Nilo aberta, ia até ali, a pé. Desde que começou o horário de verão que eu estou assim: perdido, e de pança cheia. Alguém aí sabe por que o adiantado da hora, ou a hora adiantada, dão uma sensação de enfado? Há uns 15 dias que não durmo antes das três e nem levanto antes do meio-dia. Minha vida está alucinante. Meio-dia, bom-dia, All-Bran, carne, legumes e arroz, aftosa, aftosa, aftosa, aftosa, comida árabe ou churrasco, crepe de banana, licor ou vinho do porto... Mas sempre falta o Sonrisal. Uma das alternativas que vinha pensando para tornar as coisas um pouco melhores é ficar mais amigo dos garçons do Barranco. Eu já sou meio amigo, bem que eles podiam convidar pro futes na madruga que até há pouco tava rolando na pracinha. Uma lástima que não convidem. Acho que vou ler blogs.
quarta-feira, outubro 26, 2005
Clarissa Barreto lança seu blógui: "...mas definitivamente, não esperem grande coisa. Eu não to boa, medeixem quieta. É aquela dor de cabeça de novo".
http://aspedrasdopoder.blogspot.com/
http://aspedrasdopoder.blogspot.com/
A família do Paulinho tem uma fazenda legal. Fica na Estrada do Mar, entre as lagoas de Osório e o Rio Tramandaí. A casa é antiga e durante um tempo funcionou como hotel. Mora lá o Tio Ricardo, que é um cara boa praça. Às vezes o Paulinho vai passar um fim-de-semana lá e convida os amigos, inclusive eu. É sempre uma boa chance para descansar. Dá para caminhar pelos campos e cruzar por conchas. Dá para atravessar as plantações de arroz e chegar ao rio. Esquecendo os sangue-sugas ou os agrotóxicos, ameaças que nem sei se existem, dá para tomar banho no Tramandaí. E esquecendo os aguapés e os jacarés, dá para se jogar na lagoa, do outro lado da estrada. Se o sol tiver bom, uma das opções é ir à praia - Imbé, Capão, Atlântida Sul, é só escolher. No fim de tarde, um programão é subir no morro e ver o entardecer sobre as lagoas. À noite, rola churrasco na parrilla, cerveja gelada e, se alguém tiver paciência, uma caipirinha. De madrugada, solteiros podem ir a Osório, onde há atendentes de supermercados bonitas, ou a Imbé, onde há namoradas de surfistas e bicuíras feias, mas gostosas. Os casados podem ir para a caminha e curtir uma noite de silêncio. Mas a Rafa não gosta de ir lá, não. Acha que tem muito homem, muito trago e alguma maconha. Diz que na última vez que fomos eu nem dei atenção a ela. Considera os cachorros brabos, também. Uma pena...
A Rafa comprou filé de merluza, congelou, descongelou na pia, botou na geladeira, tirou da geladeira, sentiu o cheiro e botou no lixo. Resultado: faz uma semana que nossa geladeria tem fedor de peixe, mas não tem peixe. Aliás, o sistema de alimentação aqui de casa melhorou muito. Minha mulher aprendeu que é muito prático fazer um montão de comida de uma vez, separar em pequenas porções e botar no freezer. Agora ficou fácil. Quando dá fome, é só tirar o potinho do congelador, enfiar no microondas e comer, claro. O único contratempo é que a gente não troca o menu por cinco dias. Esta semana, é guisadinho com pirê e juliana de legumes. Adoro este nome, juliana de legumes. Falando nisso, eu tenho pavor de jornal formato standard. Me sinto sufocado com tanto papel. Na Europa, os grandes jornais estão migrando pro tablóide. Muitos passaram para uma versão standard reduzido. Por isso, achei muito legal ver o Rogério Ceni tomando aquele gol de contra-ataque depois de bater a falta. Finalmente pegaram ele com as calças na mão. E vocês notaram como o Blóguidotião está bonito? Compacto, sóbrio, sem firulas, sem figuras. Agora isto aqui tá com cara de blógui. É mesmo impressionante que 95% dos amantes falem com voz de criancinha com seus amados. Até a Isabel fica melosa. Que coisa, né?
quinta-feira, outubro 20, 2005
O mundo é injusto e só os sábios vencem. Vejam só: meu detrator, o Charles, por seu conhecimento de informática, sabe deixar lá seus posts antigos à disposição do Google. Eu, que tanto queria isso, não. Logo que iniciei este blógui, fiz um importante post restabelecendo a verdade sobre meu nobre antepassado José de Araújo Ribeiro, tão injustamente vilipendiado pelo Tabajara Ruas. Quando inseri as palavras chaves ao registrar meu site nos buscadores, fiz questão de incluir em todos a expressão "José de Araújo Ribeiro" e "Visconde do Rio Grande". Vai lá no Google e digita o nome do meu digníssimo antepassado e vê se aparece o relevante "Blógui do Tião". Agora, um post de importância histórica nula sobre mim, está sempre lá, na testa do buscador. Ó, mundo cruel.
quarta-feira, outubro 19, 2005
A perseguição frenética aos erros em ZH está atingindo minha vida privada. Não só porque passo noites sem dormir pensando naquele nome que eu posso ter trocado na matéria do dia. Mas também porque agora até os posts do blógui me apavoram. Hoje, no trajeto do trabalho para casa, uma dúvida inquietante me assaltou: seria mesmo aquela florzinha da dona do estacionamento camomila (como eu escrevera ontem aqui)? Rapaz, foram os dez minutos mais torturantes já vividos no Celta. Tanto mais depois que estacionei e manifestei minha dúvida ao guardinha do estacionamento, tendo como resposta a informação de que aquela florzinha era maçanilha. Ainda bem que antes de fazer a correção imprescindível no blógui fui pro Google e digitei "maçanilha camomila" e descobri que as duas coisas são na verdade uma, cujo nome científico parece ser "Maçanilha Chamomile". Ufa! Sei que na Internet a audiência é implacável. Aliás, até hoje digito "´sebastiao ribeiro´ jornalista" no Google, e lá aparece na primeira página um post de um blógui alheio tecendo críticas à minha pessoa.
terça-feira, outubro 18, 2005
Aliás, 50 metros do portão do prédio ao estacionamento do carro:
Abri a porta do prédio e senti o cheiro de jasmim das primaveras. Caminhei com cuidado para não escorregar na geléia formada pelas flores do jacarandá. Subi num murinho para alcançar a pitanga mais preta e mais alta da árvore. Só não colhi a camomila da dona do estacionamento porque não sou ladrão. É linda a primavera na Jaime Telles. Tem jeitinho de Rafaela.
Abri a porta do prédio e senti o cheiro de jasmim das primaveras. Caminhei com cuidado para não escorregar na geléia formada pelas flores do jacarandá. Subi num murinho para alcançar a pitanga mais preta e mais alta da árvore. Só não colhi a camomila da dona do estacionamento porque não sou ladrão. É linda a primavera na Jaime Telles. Tem jeitinho de Rafaela.
Abro os olhos e ainda bem que tem a persiana para filtrar a luz. Devagar, por entre as lâminas, consigo distinguir o início de um temporal. Dá para ouvir os galhos chacolhando, as flores desabam, roxas. É como se tivessem vivido toda a vida só esperando aquele instante que agora tentam prolongar, o percurso do do jacarandá ao chão. Nesses segundos (dois? três?), cada flor é uma flor. Antes, lá no alto, minha vista míope nem distinguia uma da outra, eram um amontoado, roxo. Depois, na calçada, vão formar uma pasta que é divertida por ser colorida, por escorregar, por ser gosma. Mas agora, embaladas pelo vento, cada flor é uma flor. E cai. Uma, outra, outra, outra... até eu fechar os olhos. É domingo. É primavera.
sábado, outubro 15, 2005
quinta-feira, outubro 13, 2005
A melhor coisa da Bélgica é... Sim, exatamente isto: a cerveja. Em um bar, você pode tomar algumas das melhores do mundo por 2 Euros, um pouco mais, um pouco menos. Se quiser tentar aqui no Brasil, também dá, mas o preço é salgadinho. Fui no Nacional da Lucas agora de manhã e eles têm uma gama interessante de cevas belgas e, também, irlandesas. Tem a ótima Duvel (uns R$ 20), a tradicional Leffe (uns R$ 20), a Chimay (trapista, feita por monges, uns R$ 25) e a Deus (R$ 199). Para tomar sozinho em casa, com grãos de soja transgênica tostados e salgados, de repente valha a pena. Uma boa idéia é começar com uma belga, passar para a Baden Baden, seguir com a Bohemia Confraria, depois Brahma Extra, Malt 90 e fechar com a Kayser. Que tal?
quarta-feira, outubro 12, 2005
terça-feira, outubro 11, 2005
Cinco coisas que perdi na viagem, em ordem cronológica. O que, onde e o preju:
1. O óculos de grau que tinha comprado dois dias antes da viagem, no embarque do aeroporto de Guarulhos, R$ 250.
2. Um guia de Londres, no Design Museum, zero Libras (foi recuperado).
3. Um cartão semanal de metrô, nas ruas de Londres, 10 Libras.
4. Uma garrafa de Lemoncello italiano (presente do cunhado, que ficou com o presente dos colegas de ZH, que ficaram sem presente), no aeroporto de Guarulhos, 6 Euros.
5. Dois boarding pass que dariam direito a milhas da Varig (por Deus, eu não sabia que eles eram necessários), em algum lugar, milhares de milhas.
1. O óculos de grau que tinha comprado dois dias antes da viagem, no embarque do aeroporto de Guarulhos, R$ 250.
2. Um guia de Londres, no Design Museum, zero Libras (foi recuperado).
3. Um cartão semanal de metrô, nas ruas de Londres, 10 Libras.
4. Uma garrafa de Lemoncello italiano (presente do cunhado, que ficou com o presente dos colegas de ZH, que ficaram sem presente), no aeroporto de Guarulhos, 6 Euros.
5. Dois boarding pass que dariam direito a milhas da Varig (por Deus, eu não sabia que eles eram necessários), em algum lugar, milhares de milhas.
domingo, outubro 09, 2005
Você encontra alguém e a pergunta é inevitável: e aí, como é que tava? Eu devia mesmo ter escrito um pequeno relatório sobre a viagem de férias e então eu carregaria o texto no bolso e o entregaria ao interlocutor cada vez que inquirido. "Saímos, no dia 15. Esperamos seis horas no aeroporto de São Paulo. Dormimos na sala VIP do Banco do Brasil, a mais chinela de todas as salas VIPs - a única na qual você não tem vergonha de tirar o sapato e se atirar no sofá. Embarcamos no vôo para Paris. Estava muito quente. Chegamos no Charles de Gaulle às...etc...etc...". Fora que a gente nunca sabe contar o que rolou numa viagem, porque as coisas mais bacanas são sempre momentos simples, mas que encerram em si um sentimento normalmente inefável.
Mas uma listinha básica talvez ajude a contar as férias. Tipo: o que comprei.
1 - Um vidro grande de perfume Calvin Klein One no Free-Shop de São Paulo (44 dólares)
2 - Uma lata antiga de Kellog´s Corn Flakes num brique de rua de Bruxelas (3 euros)
3 - Um casaco apeluciado da Umbro azul e vermelho num torra-torra de uma loja esportiva de Londres (8 libras)
4 - Um livro de fotografia do fotógrafo Yann Arthus-Bertrand, com imagens do projeto A Terra Vista do Céu, em uma loja junto à exposição, em Londres (25 libras)
5 - Uma garrafa de vinho do Porto Sandeman (16 dólares) e uma garrafinha de licor Amarula (8 dólares), no Free-Shop de São Paulo
Mas uma listinha básica talvez ajude a contar as férias. Tipo: o que comprei.
1 - Um vidro grande de perfume Calvin Klein One no Free-Shop de São Paulo (44 dólares)
2 - Uma lata antiga de Kellog´s Corn Flakes num brique de rua de Bruxelas (3 euros)
3 - Um casaco apeluciado da Umbro azul e vermelho num torra-torra de uma loja esportiva de Londres (8 libras)
4 - Um livro de fotografia do fotógrafo Yann Arthus-Bertrand, com imagens do projeto A Terra Vista do Céu, em uma loja junto à exposição, em Londres (25 libras)
5 - Uma garrafa de vinho do Porto Sandeman (16 dólares) e uma garrafinha de licor Amarula (8 dólares), no Free-Shop de São Paulo
Nunca entendi aqueles amiguinhos que no tempo do colégio chegavam das férias dizendo estar morrendo de saudades das aulas. O que eu lembro é dos finais de fevereiro em Torres, as pessoas instalando os tampos de madeira nas janelas, eu deitado na rede podre de deprimido porque o fim se aproximava - ou melhor, já tinha chegado - e mesmo assim querendo levar aquele sofrimento até o fim, esticar o verão até o último minuto. Pois é assim que me sinto agora, depois de 20 dias na Europa e mais quatro sem fazer absolutamente nada em Porto Alegre, e sabendo que amanhã, 13h, estarei chegando na Zero. Acho que vou me acordar ao meio-dia.
sábado, outubro 08, 2005
quinta-feira, outubro 06, 2005
Uma mochila escolar Company, daquelas que todos desejávamos lá pelos 90s, é certamente mais resistente do que uma backpack do exército americano. A minha sobreviveu bravamente - sem arranhões - aos 20 dias de viagem, incluindo o transporte de dezenas de quilos de livros de arquitetura adquiridos em trânsito.
segunda-feira, outubro 03, 2005
Pela primeira vez nos últimos dias acessei noticias do Brasil. Desde que sàí de fèrias as únicas coisas que fiquei sabendo foram os resultados dos jogos do Grêmio e a eleiçao do Rebelo. E só. gora, me deparei com um monte de coisas as quais nao entendo, tipo: como o Inter foi parar em terceiro? Que história é essa de corrupçao no futebol? Que mais de importante aconteceu nas últimas três semanas?
quarta-feira, setembro 28, 2005
quinta-feira, setembro 22, 2005
Uma correçao. Importante. Qualquer bodega aqui na França tem na fachada "boulangerie, patisserie, brasserie, etc...". Pois que vem meu primo frances explicar que o Paul e uma boulangerie ou patisserie. Entao, vamos a liçao do professor.
Boulangerie: padaria
Patisserie: confeitaria
Brasserie: restaurante simples
Confisserie: confeitaria
Boucherie: açougue
Ok?
Boulangerie: padaria
Patisserie: confeitaria
Brasserie: restaurante simples
Confisserie: confeitaria
Boucherie: açougue
Ok?
terça-feira, setembro 20, 2005
Tem um negocio muito bacana que da muito certo aqui em Paris e que podia ser copiado por Porto Alegre. Chama-se Jornada do Patrimonio: um fim-de-semana no qual os predios e sitios, publicos e privados, abrem suas portas ao publico. O povo se atira na visitaçao gratuita.
Se eu abrisse uma franquia no Brasil, abriria uma da Brasserie Paul. Com um patiozinho interno no qual os clientes pudessem degustar suas baguetes.
Almocamos baguete hoje. No fim do rango, dei de americano e despejei o que sobrou na bandeja fora. Um minuto depois lembrei que havia esquecido algo. Voltei e resgatei minha maquina fotografica da cesta de lixo.
Se eu abrisse uma franquia no Brasil, abriria uma da Brasserie Paul. Com um patiozinho interno no qual os clientes pudessem degustar suas baguetes.
Almocamos baguete hoje. No fim do rango, dei de americano e despejei o que sobrou na bandeja fora. Um minuto depois lembrei que havia esquecido algo. Voltei e resgatei minha maquina fotografica da cesta de lixo.
domingo, setembro 18, 2005
Notaram que naum estou escrevendo, neh?
Eh que estou em Paris.
Naun hah igreja da qual uma horda de turistas caspentos naum roube a aura. Caspas.
Ja hah mais cachorros em Porto Alegre do que na capital francesa.
Por aqui, o labrador tambem eh o cao (caum) da moda.
E deu, que naum tou aqui pra trabalhar.
Daqui a pouco, Londres e Barcelona.
Eh que estou em Paris.
Naun hah igreja da qual uma horda de turistas caspentos naum roube a aura. Caspas.
Ja hah mais cachorros em Porto Alegre do que na capital francesa.
Por aqui, o labrador tambem eh o cao (caum) da moda.
E deu, que naum tou aqui pra trabalhar.
Daqui a pouco, Londres e Barcelona.
segunda-feira, setembro 12, 2005
Você acharia temerária a atitude de, às vésperas de embarcar para a Europa, selecionar seis frutos sãos em uma bandeja de morangos mofados para compor uma batida matinal?
Você consideraria eficaz, do ponto de vista sanitário, mergulhar os moranguinhos em uma solução de água com graspa a fim de tornar a vitamina mais segura?
Você diria que alguém que hipoteticamente tenha tomado tais atitudes está livre de desenvolver, no organismo, uma flora de fungos brancos e enovelados como algodão?
Você consideraria eficaz, do ponto de vista sanitário, mergulhar os moranguinhos em uma solução de água com graspa a fim de tornar a vitamina mais segura?
Você diria que alguém que hipoteticamente tenha tomado tais atitudes está livre de desenvolver, no organismo, uma flora de fungos brancos e enovelados como algodão?
Estamos vendo o (fraco) documentário "A História de Duas Torres". Alguns depoimentos são curiosos. Vejamos.
Sobrevivente1: "...e então, depois de deixar o prédio em chamas, o pessoal da empresa se reuniu em frente a uma loja de eletrodomésticos para ver a TV e decidiu ir a um bar para (o cara estava louco para dizer ´comemora´ ) sentar e ver quem estava vivo".
Sobrevivente2: "... e então vi uma mulher grávida caindo ao meu lado da altura de 100 andares e ela se espatifou como uma melancia e eu vi o seu feto voando com o cordão umbilical pendurado"
Foi a coisa mais sensacional que aconteceu na história da humanidade.
Sobrevivente1: "...e então, depois de deixar o prédio em chamas, o pessoal da empresa se reuniu em frente a uma loja de eletrodomésticos para ver a TV e decidiu ir a um bar para (o cara estava louco para dizer ´comemora´ ) sentar e ver quem estava vivo".
Sobrevivente2: "... e então vi uma mulher grávida caindo ao meu lado da altura de 100 andares e ela se espatifou como uma melancia e eu vi o seu feto voando com o cordão umbilical pendurado"
Foi a coisa mais sensacional que aconteceu na história da humanidade.
quinta-feira, setembro 08, 2005
Caldas Junior: uma potência.
Quinta-feira, fui no programa da Tânia Carvalho, no 36. Antes que perguntem, era um debate sobre jornalismo rural, mais especificamente sobre os 30 anos do Campo & Lavoura na TV, e eu fui fazer o papel de foca. Ãn, ãn, ãn (é assim que falam as focas). TVCOM, apresentadora carismática, símbolo da televisão gaúcha, tinha certeza que não poderia andar na rua de tão famoso que ficaria no dia seguinte. Pois não é que ninguém comentou nada. Tipo, ninguém tava zapeando quando eu apareci - só minha mãe (que eu consegui avisar).
Pois bem. Três dias depois, domingo à noite, fui no baile da Expointer promovido pelo Correio do Povo. A cerimônia foi transmitida ao vivo e reprisada depois pelo 2. Pegaram um take meu e da Rafa dançando. E hoje sou um homem famoso. Por onde passo, vêm me dar tapinhas nas costas: "aê, bonitão no baile do Correio, hein, grandão!".
Tem coisas que nem o Ibope explica.
Quinta-feira, fui no programa da Tânia Carvalho, no 36. Antes que perguntem, era um debate sobre jornalismo rural, mais especificamente sobre os 30 anos do Campo & Lavoura na TV, e eu fui fazer o papel de foca. Ãn, ãn, ãn (é assim que falam as focas). TVCOM, apresentadora carismática, símbolo da televisão gaúcha, tinha certeza que não poderia andar na rua de tão famoso que ficaria no dia seguinte. Pois não é que ninguém comentou nada. Tipo, ninguém tava zapeando quando eu apareci - só minha mãe (que eu consegui avisar).
Pois bem. Três dias depois, domingo à noite, fui no baile da Expointer promovido pelo Correio do Povo. A cerimônia foi transmitida ao vivo e reprisada depois pelo 2. Pegaram um take meu e da Rafa dançando. E hoje sou um homem famoso. Por onde passo, vêm me dar tapinhas nas costas: "aê, bonitão no baile do Correio, hein, grandão!".
Tem coisas que nem o Ibope explica.
quarta-feira, setembro 07, 2005
domingo, setembro 04, 2005
Este mês li de cabo a rabo o jornal do Cavalo Crioulo. Achei, nas Cartas do Leitor, esta preciosidade:
Opa, tudo? Venho aqui porque acho de uma pequena valia o meu depoimento para alertar todos aqueles que lidam com este espetáculo de animal. Após um leilão, houve um fato anormal comigo, fui apreciar o animal por mim adquirido e o mesmo, em um quarto de segundo, me atacou no rosto, mordendo na altura da boca. Tive que levar 10 pontos externos e mais uns varios internos porque houve um descolamento da mucosa desde o pre-molar ao molar!
O acidente foi feio e nao foi culpa de ninguém, só venho aqui para alertar : "Nunca esqueçam que o cavalo é um animal irracional. Se nós, as vezes, cometemos atos irracionais, imaginem eles!
Meu amor por esta raça não diminuiu em nada mas isso tudo serviu de alerta para mim (e espero que para outros) de não esquecer da importante distância que tem
que ser mantida, por mais amor que exista”. Espero que isso seja válido, grande abraço da apreciadora e futura criadora, Julia.
Opa, tudo? Venho aqui porque acho de uma pequena valia o meu depoimento para alertar todos aqueles que lidam com este espetáculo de animal. Após um leilão, houve um fato anormal comigo, fui apreciar o animal por mim adquirido e o mesmo, em um quarto de segundo, me atacou no rosto, mordendo na altura da boca. Tive que levar 10 pontos externos e mais uns varios internos porque houve um descolamento da mucosa desde o pre-molar ao molar!
O acidente foi feio e nao foi culpa de ninguém, só venho aqui para alertar : "Nunca esqueçam que o cavalo é um animal irracional. Se nós, as vezes, cometemos atos irracionais, imaginem eles!
Meu amor por esta raça não diminuiu em nada mas isso tudo serviu de alerta para mim (e espero que para outros) de não esquecer da importante distância que tem
que ser mantida, por mais amor que exista”. Espero que isso seja válido, grande abraço da apreciadora e futura criadora, Julia.
sábado, setembro 03, 2005
O Leo fez um post sobre velhos comerciais de TV cujas imagens ficam cristalizadas em nossas mentes. Sempre que esse papo cai em uma mesa de bar, falo de um especial, mas nunca encontro interlocutor capaz de compartir o prazer da lembrança. Tentemos aqui.
O cara chega em casa. A mulher diz:
- Osvaldo, você está bêbado de novo.*
Ele quebra um vaso, destrói o mobiliário do apartamento e retruca, agressivo e com voz de gambá:
- Não me enche o saco!
A criança se agarra à barra da saia da mãe e chora:
- Mamãe, mamãe, eu estou com medo do papai!
* O personagem não se chamava Osvaldo, mas na escola usávamos este nome por ser o do meu professor de Educação Física, que parecia estar sempre bêbedo.
O cara chega em casa. A mulher diz:
- Osvaldo, você está bêbado de novo.*
Ele quebra um vaso, destrói o mobiliário do apartamento e retruca, agressivo e com voz de gambá:
- Não me enche o saco!
A criança se agarra à barra da saia da mãe e chora:
- Mamãe, mamãe, eu estou com medo do papai!
* O personagem não se chamava Osvaldo, mas na escola usávamos este nome por ser o do meu professor de Educação Física, que parecia estar sempre bêbedo.
domingo, agosto 28, 2005
Quando a edição passa a faca no teu texto, quando transformam uma matéria de produção em notícia, só te resta espernear e usar o blógui.
As meninas de ouro
As ginetas de ouro
Elas têm muito em comum, admiravam-se mutuamente, mas nunca tinham se falado. Até quinta-feira, quando o Blógui do Tião promoveu um encontro, no Parque Assis Brasil, em Esteio.
- Oi. Te conheço por fotos – apresentou-se, com despretensiosa intimidade, a gaúcha Eliana Sussenbach, 27 anos, primeira mulher a ir a uma final de Freio de Ouro, há exatos 10 anos.
- E eu já te vi muitas vezes. Lembro bem que te olhava competir e pensava: "quero ser como esta menina". Tu tinhas cabelos bem longos na época – lembrou a uruguaia Soledad Ferreira, 34 anos, única mulher entre os 36 ginetes do Freio de Ouro deste ano.
Fisicamente, as duas ginetas têm pouco a ver uma com a outra. A castelhana é loura, tem a fala firme e decidida e a pele marcada de quem passa horas montando debaixo do sol. A brasileira é morena, tem a voz craquelada e a tez bem cuidada de quem trocou as gineteadas pela faculdade de medicina e hoje faz residência em dermatologia.
As diferenças, no entanto param por aí. Ainda crianças e adolescentes, ambas trocaram verões na praia por férias na fazenda, em volta de cavalos. Uma paixão tão forte que superou até mesmo a descrença da família.
- Quando eu era pequena, dizia que um dia seria domadora e ninguém me levava a sério – conta a hoje a agrônoma e domadora Soledad.
O sonho infantil começou a se tornar realidade quando, por volta de 1994, aos 23 anos e quase formada, a uruguaia foi convidada para treinar cavalos na fazenda de uma amiga da mãe. A história ficou ainda mais séria em 2002, quando abriu um centro de treinamento próprio, no município de Entre Rios, e classificou o primeiro animal para a final do Freio de Ouro, experimentando uma glória já vivida por Eliana.
- Eu entrava na pista e já começavam a bater palma e a gritar. No final, ainda ficavam de pé para aplaudir – lembra, arrepiada, a brasileira.
Em 1995, Eliana classificou o cavalo Relâmpago Tupambaé para a final. O feito causou surpresa e os organizadores da competição tiveram de se reunir para discutir se se permitia ou não uma mulher entre os homens. No fim, Eliana se apresentou de igual para igual em Esteio e fez bonito na prova de paleteada – a mais "dura" e perigosa de todas, na qual dois ginetes em alta velocidade têm de conduzir um terneiro em linha reta.
- Antes da prova, fiquei sabendo que minha dupla estava insegura, que tinha perguntado: "como é que eu vou paletear com uma menina?". Daí, meu treinador, o Vilson Souza, disse para eu já sair prensando o terneiro, para me impor. No fim, tiramos uma nota super boa – lembra Eliana.
Hoje, a meta da médica, que agora só monta por lazer, é classificar o filho de Relâmpago, que cria na fazenda da família, em Bagé, para uma final do Freio de Ouro. Já Soledad é mais ambiciosa.
- Meu primeiro sonho era me classificar para o Freio. Meu segundo sonho é ganhar o Freio – arremata a uruguaia, que apresenta-se com o colete número 12, montando a égua Del Paye Pa´Que Llores.
As meninas de ouro
As ginetas de ouro
Elas têm muito em comum, admiravam-se mutuamente, mas nunca tinham se falado. Até quinta-feira, quando o Blógui do Tião promoveu um encontro, no Parque Assis Brasil, em Esteio.
- Oi. Te conheço por fotos – apresentou-se, com despretensiosa intimidade, a gaúcha Eliana Sussenbach, 27 anos, primeira mulher a ir a uma final de Freio de Ouro, há exatos 10 anos.
- E eu já te vi muitas vezes. Lembro bem que te olhava competir e pensava: "quero ser como esta menina". Tu tinhas cabelos bem longos na época – lembrou a uruguaia Soledad Ferreira, 34 anos, única mulher entre os 36 ginetes do Freio de Ouro deste ano.
Fisicamente, as duas ginetas têm pouco a ver uma com a outra. A castelhana é loura, tem a fala firme e decidida e a pele marcada de quem passa horas montando debaixo do sol. A brasileira é morena, tem a voz craquelada e a tez bem cuidada de quem trocou as gineteadas pela faculdade de medicina e hoje faz residência em dermatologia.
As diferenças, no entanto param por aí. Ainda crianças e adolescentes, ambas trocaram verões na praia por férias na fazenda, em volta de cavalos. Uma paixão tão forte que superou até mesmo a descrença da família.
- Quando eu era pequena, dizia que um dia seria domadora e ninguém me levava a sério – conta a hoje a agrônoma e domadora Soledad.
O sonho infantil começou a se tornar realidade quando, por volta de 1994, aos 23 anos e quase formada, a uruguaia foi convidada para treinar cavalos na fazenda de uma amiga da mãe. A história ficou ainda mais séria em 2002, quando abriu um centro de treinamento próprio, no município de Entre Rios, e classificou o primeiro animal para a final do Freio de Ouro, experimentando uma glória já vivida por Eliana.
- Eu entrava na pista e já começavam a bater palma e a gritar. No final, ainda ficavam de pé para aplaudir – lembra, arrepiada, a brasileira.
Em 1995, Eliana classificou o cavalo Relâmpago Tupambaé para a final. O feito causou surpresa e os organizadores da competição tiveram de se reunir para discutir se se permitia ou não uma mulher entre os homens. No fim, Eliana se apresentou de igual para igual em Esteio e fez bonito na prova de paleteada – a mais "dura" e perigosa de todas, na qual dois ginetes em alta velocidade têm de conduzir um terneiro em linha reta.
- Antes da prova, fiquei sabendo que minha dupla estava insegura, que tinha perguntado: "como é que eu vou paletear com uma menina?". Daí, meu treinador, o Vilson Souza, disse para eu já sair prensando o terneiro, para me impor. No fim, tiramos uma nota super boa – lembra Eliana.
Hoje, a meta da médica, que agora só monta por lazer, é classificar o filho de Relâmpago, que cria na fazenda da família, em Bagé, para uma final do Freio de Ouro. Já Soledad é mais ambiciosa.
- Meu primeiro sonho era me classificar para o Freio. Meu segundo sonho é ganhar o Freio – arremata a uruguaia, que apresenta-se com o colete número 12, montando a égua Del Paye Pa´Que Llores.
quinta-feira, agosto 25, 2005
quarta-feira, agosto 24, 2005
Cheguei em casa e me deparei com o seguinte bilhete, afixado sob uns imãs na geladeria.
Abre aspas:
"Gordo (sou eu*),
Regras básicas da boa convivência:
- Fechar o corn flakes (ele fica mole)
- Fechar a pasta de dentes (ela fica dura)
- Guardar o leite aberto na geladeira
- Fechar o desodorante
- Colocar o lixo podre na lixeira
- Arrumar a cama todos os dias
- Pagar a conta de luz em dia"
* Nota do digitador
Abre aspas:
"Gordo (sou eu*),
Regras básicas da boa convivência:
- Fechar o corn flakes (ele fica mole)
- Fechar a pasta de dentes (ela fica dura)
- Guardar o leite aberto na geladeira
- Fechar o desodorante
- Colocar o lixo podre na lixeira
- Arrumar a cama todos os dias
- Pagar a conta de luz em dia"
* Nota do digitador
sábado, agosto 20, 2005
Quinta-feira de manhã. Me acordo ligeiro, enfio uma roupa, boto o Correinho debaixo do braço e me toco para a terapia. Na sala de espera, consigo dar só uma bizoiada na editoria de Rural. O suficiente para descobrir que eu trocara o nome de uma fonte na matéria para a Zero. O nome do cara era Fábio – como estava no Correio – e eu pusera Alexandre. Não, não foi um erro despropositado, como fiz esses dias, quando sumária e arbitrariamente chamei Cristiano de Antônio. Fábio e Alexandre são irmãos (primos?), são leiloeiros rurais, têm o mesmo sobrenome (Crespo) e são crespos. Mas, enfim, era um erro e teria de ser corrigido.
Pronto. Qualquer variação da palavra “correção” já me deixa desesperado. ZH anda numas neuras de evitar correções, métodos e mais fórmulas para eliminar erros, checagens e rechecagens, tabelas comparando o número de correções do mês passado com o deste mês... Teve um cara que chegou a enlouquecer com isso. Juro. Um dia trocou um nome em uma matéria e recebeu um puxão de orelha da editora-chefe. Dessas carraspanas públicas – uma mensagem com cópia para toda a redação. A partir daí, o colega pirou. A cada nota que ia escrever pedia para duzentas pessoas checar e ligava quatro vezes para a mesma fonte para confirmar o nome.
- Alô, seu José, o seu nome é José mesmo, não? O senhor tem certeza, né? Não quer dar uma olhadinha aí na sua identidade, só para garantir?
Chegou uma hora que o cara não guentou. Pediu demissão, se mandou para a França. Apareceu na redação meses depois. Completamente transformado. Ele era magro, quieto, barbudo, usava camiseta de hippie. Voltou fornido, barba feita, superfalante, cabelinho aparado e jeitão metrossexual. Juro por Deus, nem reconheci.
Mas, então, como eu ia dizendo, ZH anda numas de perseguir os erros. E descobrir no Correinho que eu tinha errado bastou para estragar meu dia. Entrei na terapia arrasado. Tão arrasado, que optei pelo divã. Joguei o braço por sobre o rosto e comecei a desabafar, ser jornalista é foda, a pressão é muito grande, ZH é uma merda, cumé que eu vou encarar mais esta correção, tou fodido, etc... Meia hora assim e saí da sala disposto a ligar para a fonte, para pedir desculpas. E foi o que fiz. Telefonei para uma outra fonte que tinha o telefone do Fábio.
- Alô, doutor, é o Sebastião, da Zero Hora. É que eu queria o telefone do Fábio, que eu errei o nome dele, coloquei Alexandre, e queria pedir desculpas...
- É, eu vi, Sebastião, saiu errado mesmo. Mas se não me engano foi o Correio que errou, porque vocês falaram ontem com o Alexandre mesmo. O nome certo é Alexandre, que nem saiu na Zero Hora.
Quer dizer que EU estava certo e ELES errados. Mal pude acreditar – que mania de confiar mais no Correio do que em mim mesmo! Quase saí pulando em plena 24 de outubro, de tanta felicidade.
Depois, liguei logo pro meu psiquiatra para contar a boa nova e pedir meu dinheiro de volta.
Pronto. Qualquer variação da palavra “correção” já me deixa desesperado. ZH anda numas neuras de evitar correções, métodos e mais fórmulas para eliminar erros, checagens e rechecagens, tabelas comparando o número de correções do mês passado com o deste mês... Teve um cara que chegou a enlouquecer com isso. Juro. Um dia trocou um nome em uma matéria e recebeu um puxão de orelha da editora-chefe. Dessas carraspanas públicas – uma mensagem com cópia para toda a redação. A partir daí, o colega pirou. A cada nota que ia escrever pedia para duzentas pessoas checar e ligava quatro vezes para a mesma fonte para confirmar o nome.
- Alô, seu José, o seu nome é José mesmo, não? O senhor tem certeza, né? Não quer dar uma olhadinha aí na sua identidade, só para garantir?
Chegou uma hora que o cara não guentou. Pediu demissão, se mandou para a França. Apareceu na redação meses depois. Completamente transformado. Ele era magro, quieto, barbudo, usava camiseta de hippie. Voltou fornido, barba feita, superfalante, cabelinho aparado e jeitão metrossexual. Juro por Deus, nem reconheci.
Mas, então, como eu ia dizendo, ZH anda numas de perseguir os erros. E descobrir no Correinho que eu tinha errado bastou para estragar meu dia. Entrei na terapia arrasado. Tão arrasado, que optei pelo divã. Joguei o braço por sobre o rosto e comecei a desabafar, ser jornalista é foda, a pressão é muito grande, ZH é uma merda, cumé que eu vou encarar mais esta correção, tou fodido, etc... Meia hora assim e saí da sala disposto a ligar para a fonte, para pedir desculpas. E foi o que fiz. Telefonei para uma outra fonte que tinha o telefone do Fábio.
- Alô, doutor, é o Sebastião, da Zero Hora. É que eu queria o telefone do Fábio, que eu errei o nome dele, coloquei Alexandre, e queria pedir desculpas...
- É, eu vi, Sebastião, saiu errado mesmo. Mas se não me engano foi o Correio que errou, porque vocês falaram ontem com o Alexandre mesmo. O nome certo é Alexandre, que nem saiu na Zero Hora.
Quer dizer que EU estava certo e ELES errados. Mal pude acreditar – que mania de confiar mais no Correio do que em mim mesmo! Quase saí pulando em plena 24 de outubro, de tanta felicidade.
Depois, liguei logo pro meu psiquiatra para contar a boa nova e pedir meu dinheiro de volta.
sexta-feira, agosto 19, 2005
Certa vez eu elogiei aqui a tortinha de maçã do Z Café da Nilo. Pois é. Esqueçam. Mudou. Tá uma bosta. Ontem me serviram uma esfiha gorda (banha de porco?) com recheio de maçã queimada. Para acompanhar, uma bola de sorvete congelada.
Por outro lado, como vive alertando o Políbio Braga, o Press Café tem doces da antiga Thompson. E um pãozinho d´água com salsicha que é a quintessência dos cachorros-quentes.
Por outro lado, como vive alertando o Políbio Braga, o Press Café tem doces da antiga Thompson. E um pãozinho d´água com salsicha que é a quintessência dos cachorros-quentes.
quarta-feira, agosto 17, 2005
segunda-feira, agosto 15, 2005
Era para ser apenas um café em um posto de beira de estrada. Mas quando eu ia entrando na lanchonete, senti aquele olhar. Tentei virar o rosto, fingir que nem percebi. Em vão. Não pude parar, raciocinar, escolher. Foi inevitável. Quando me dei conta, meus olhos tocavam os dela. E aí, já estava perdido. Eu, transtornado, baratinado com aquelas bolitas me mirando fixo. Ela ali, toda meiga, dentinhos de cordeiro, sorriso liso, toda minha e só minha. Irresistível. Troquei umas palavras e então a tinha em meus braços. Grazi, se eu não amasse a Rafa, te amaria. Foste a primeira a me conquistar depois de um jejum de quinze anos. Minha última Playboy tinha sido a da Vanusa Spindler, lá por mil novecentos e oitenta e tantos.
P.S.: Este post foi previamente analisado pela censura doméstica e aprovado sem modificações.
P.P.S.: O pôster em tamanho real da Grazi tá D+ - o caixa do posto disse que nunca viu uma Playboy sair tanto.
P.S.: Este post foi previamente analisado pela censura doméstica e aprovado sem modificações.
P.P.S.: O pôster em tamanho real da Grazi tá D+ - o caixa do posto disse que nunca viu uma Playboy sair tanto.
sexta-feira, agosto 12, 2005
Indicação do Solonzinho. Vale a pena. Melhor propaganda de cerveja da história: http://www.bigad.com.au/
quarta-feira, agosto 10, 2005
segunda-feira, agosto 08, 2005
Sucesso na renegociação do aluguel. A contra-proposta é justa.
"Sebastião,
Andei viajando, mas no início da semana resolvi o assunto do teu aluguel com a imobiliária, nos seguintes termos:
1) Não realizar o aumento previsto contratualmente, ou seja, manter o aluguel do último ano por mais um período.
2) Realizar um desconto por três meses para que possas te reorganizar.
Aguardo as fotos prometidas com as benfetorias do apartamento.
Abraços"
"Sebastião,
Andei viajando, mas no início da semana resolvi o assunto do teu aluguel com a imobiliária, nos seguintes termos:
1) Não realizar o aumento previsto contratualmente, ou seja, manter o aluguel do último ano por mais um período.
2) Realizar um desconto por três meses para que possas te reorganizar.
Aguardo as fotos prometidas com as benfetorias do apartamento.
Abraços"
quarta-feira, agosto 03, 2005
Estas noites de inverno no verão, estas noites de verão no inverno, já falei sobre isso, estas noites, elas têm um quê de sobrenatural. Estas noites fora de estação, se um dia o mundo acabar, acabará numa delas, se um dia os Ets baixarem, baixarão numa delas. Estas noites quentes de agosto, estas noites precipitam os fatos, são fermento para os acontecimentos.
Ontem mesmo, quanta coisa estranha aconteceu por causa de uma destas noites malucas! Por volta das 21 horas a vizinha bateu em nossa porta, na porta de nosso apartamento, meu e da Rafa. Soubera que eu pedira renegociação do aluguel e agora estava ali, baixinha e de pantufas, querendo seguir o exemplo, querendo cópia do boleto da minha imobiliária, para provar para a dela que eu pagava menos. Sei lá que coisa me deu que a convenci de batermos em todos os outros apartamentos para ver quanto cada um pagava. Não lembro muito como as coisas se deram, sei que de repente estava o prédio inteiro de pijamas, meias pantufas e camisetões, no hall do segundo andar, discutindo o valor dos aluguéis, trocando boletos bancários, bradando contra os locadores, "porcos capitalistas"! Os discursos duraram uma meia hora. Quando terminaram, os moradores do terceiro e do quarto subiram assoviando a Internacional. Não sei bem como tudo começou, eu nem lembrava da melodia, mas de repente estava lá a assoviar o hino.
Outras coisas ainda se sucederam por conta dessa noite doida, as meninas assaltadas sob a mira de armas, o grito ecoando na rua vazia - "não quero nem ouvir tua voz" -, a sinfonia dos cães, o silêncio dos cães e fico por aqui. Dá até medo de lembrar.
Ontem mesmo, quanta coisa estranha aconteceu por causa de uma destas noites malucas! Por volta das 21 horas a vizinha bateu em nossa porta, na porta de nosso apartamento, meu e da Rafa. Soubera que eu pedira renegociação do aluguel e agora estava ali, baixinha e de pantufas, querendo seguir o exemplo, querendo cópia do boleto da minha imobiliária, para provar para a dela que eu pagava menos. Sei lá que coisa me deu que a convenci de batermos em todos os outros apartamentos para ver quanto cada um pagava. Não lembro muito como as coisas se deram, sei que de repente estava o prédio inteiro de pijamas, meias pantufas e camisetões, no hall do segundo andar, discutindo o valor dos aluguéis, trocando boletos bancários, bradando contra os locadores, "porcos capitalistas"! Os discursos duraram uma meia hora. Quando terminaram, os moradores do terceiro e do quarto subiram assoviando a Internacional. Não sei bem como tudo começou, eu nem lembrava da melodia, mas de repente estava lá a assoviar o hino.
Outras coisas ainda se sucederam por conta dessa noite doida, as meninas assaltadas sob a mira de armas, o grito ecoando na rua vazia - "não quero nem ouvir tua voz" -, a sinfonia dos cães, o silêncio dos cães e fico por aqui. Dá até medo de lembrar.
domingo, julho 31, 2005
O domingo é ensolarado e quente, apesar do inverno. Saio de casa, não há Gre-Nal nem eleição. Passo debaixo da ameixeira, as ameixas estourando de tão amarelas. Da praça, vem a gritaria da criançada. Do outro lado da rua, um casal sobe a lomba com dois carrinhos de bebê. São gêmeos, só pode.
Na casa da dona do estacionamento, tem horta e tem churrasco. A família instalou as mesas no pátio, o marido cuida da carne, a gurizada corre com os cães. O fox dá um baile no basset e eu dou a partida no auto. Dirijo ignorando as sinaleiras, mas paro para a dupla cruzar a rua de bicicleta. Na esquina da Silva Só, tem o vendedor de bergamota.
– Uma por dois, três por cinco.
– Me dá uma.
– Me dá mais um que te dou duas.
– Não tenho. Me dá uma.
Um relógio maluco marca 37 graus. Nem sinto, o ar está ligado. Na Cabo Rocha, as lojas de peças automotivas estão fechadas. A negradinha chuta uma bola no meio da rua e nem pára o jogo para meu carro passar. Difícil imaginar putas por aqui. Mas diz que eram muitas. Também eram outros tempos.
Deixo o auto no estacionamento. No caminho até o prédio, dá para ver que metade das bergas está podre. Agora estou aqui, na redação. Um lugar onde o sol é proibido e que não me deixa esquecer: ainda há uísque de ontem em meu corpo.
Na casa da dona do estacionamento, tem horta e tem churrasco. A família instalou as mesas no pátio, o marido cuida da carne, a gurizada corre com os cães. O fox dá um baile no basset e eu dou a partida no auto. Dirijo ignorando as sinaleiras, mas paro para a dupla cruzar a rua de bicicleta. Na esquina da Silva Só, tem o vendedor de bergamota.
– Uma por dois, três por cinco.
– Me dá uma.
– Me dá mais um que te dou duas.
– Não tenho. Me dá uma.
Um relógio maluco marca 37 graus. Nem sinto, o ar está ligado. Na Cabo Rocha, as lojas de peças automotivas estão fechadas. A negradinha chuta uma bola no meio da rua e nem pára o jogo para meu carro passar. Difícil imaginar putas por aqui. Mas diz que eram muitas. Também eram outros tempos.
Deixo o auto no estacionamento. No caminho até o prédio, dá para ver que metade das bergas está podre. Agora estou aqui, na redação. Um lugar onde o sol é proibido e que não me deixa esquecer: ainda há uísque de ontem em meu corpo.
quinta-feira, julho 28, 2005
segunda-feira, julho 25, 2005
Ó, cedi. Agora tenho Skype e MSN. No primeiro sou sebastiaoaraujoribeiro; no segundo, sebastiao.araujo.ribeiro@hotmail.com. Me adicionem aí.
quinta-feira, julho 21, 2005
Ah, vai dizer que eu não podia ser adevogado!
"Pedido de renegociação de contrato de aluguel de imóvel na Rua Jaime Telles.
Considerando que:
1) O locatário realizou benfeitorias no apartamento, instalando dois armários – um sob a pia do banheiro e outro, acompanhado de prateleiras, sob a da cozinha (fotos em anexo) – pelo valor de R$ 900.
1.1) O locatário se compromete a deixar os armários e prateleiras no imóvel quando sair do apartamento, caso a presente renegociação seja aceita.
1.2) Os armários e prateleiras foram desenhados por arquiteto profissional e feitos sob medida por marceneiro reconhecido no ramo, a preços abaixo dos de mercado.
1.3) Os armários agregam valor ao apartamento, visto que a inexistência dos mesmos quase demoveu o locatário da decisão de alugar o imóvel.
1.4) O locatário ainda se propõe a deixar uma sugestão de lay out de mobiliário para o imóvel, a ser usada pelo locador ou por futuro locatário, caso a presente proposta de renegociação seja aceita.
1.5) O locatário tem cuidado do apartamento como se fora proprietário do mesmo.
2) Apartamento (201) com maior área no mesmo prédio do imóvel em tela é alugado por R$ 500 mensais – ante R$ 550 pagos desde o sétimo mês de aluguel pelo proponente desta renegociação.
3) O salário mensal do locatário reduziu de R$ 2,3 mil para R$ 1,6 mil.
3.1) O locatário sempre manteve em dia o pagamento do aluguel.
3.2) O locatário se vê agora com dificuldades de pagar o aluguel.
O locatário propõe renegociação do aluguel nos seguintes termos:
1) Redução imediata, a partir do carnê de julho, do valor do aluguel de R$ 550 para R$ 500.
2) Adiamento do mês da correção anual do valor de setembro para dezembro de 2005 e correção sobre o novo valor proposto (R$ 500).
3) Reajuste anual do aluguel segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Certo da compreensão do locador,
Sebastião Dornelles de Araújo Ribeiro, locatário"
"Pedido de renegociação de contrato de aluguel de imóvel na Rua Jaime Telles.
Considerando que:
1) O locatário realizou benfeitorias no apartamento, instalando dois armários – um sob a pia do banheiro e outro, acompanhado de prateleiras, sob a da cozinha (fotos em anexo) – pelo valor de R$ 900.
1.1) O locatário se compromete a deixar os armários e prateleiras no imóvel quando sair do apartamento, caso a presente renegociação seja aceita.
1.2) Os armários e prateleiras foram desenhados por arquiteto profissional e feitos sob medida por marceneiro reconhecido no ramo, a preços abaixo dos de mercado.
1.3) Os armários agregam valor ao apartamento, visto que a inexistência dos mesmos quase demoveu o locatário da decisão de alugar o imóvel.
1.4) O locatário ainda se propõe a deixar uma sugestão de lay out de mobiliário para o imóvel, a ser usada pelo locador ou por futuro locatário, caso a presente proposta de renegociação seja aceita.
1.5) O locatário tem cuidado do apartamento como se fora proprietário do mesmo.
2) Apartamento (201) com maior área no mesmo prédio do imóvel em tela é alugado por R$ 500 mensais – ante R$ 550 pagos desde o sétimo mês de aluguel pelo proponente desta renegociação.
3) O salário mensal do locatário reduziu de R$ 2,3 mil para R$ 1,6 mil.
3.1) O locatário sempre manteve em dia o pagamento do aluguel.
3.2) O locatário se vê agora com dificuldades de pagar o aluguel.
O locatário propõe renegociação do aluguel nos seguintes termos:
1) Redução imediata, a partir do carnê de julho, do valor do aluguel de R$ 550 para R$ 500.
2) Adiamento do mês da correção anual do valor de setembro para dezembro de 2005 e correção sobre o novo valor proposto (R$ 500).
3) Reajuste anual do aluguel segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Certo da compreensão do locador,
Sebastião Dornelles de Araújo Ribeiro, locatário"
segunda-feira, julho 18, 2005
Minha sobremesa hoje: filete de queijo Casa da Ovelha com doce de leite Hué. Um dia vou criar ovelhas. E vacas de leite.
domingo, julho 17, 2005
A Alice, filha da Ambrosina e avó da Rafa, era dona de bar lá em Taquara. Um dia, foi cobrar a conta de um cliente e ouviu uns desaforos do cara. Sem titubear, pegou o facão e deu de plancha nas paletas do caloteiro. Vendo a confusão, veio a dona Ambrosina, e atirou uma cadeira em cima do vivente. Ato contínuo, a Alice apontou a faca para o homem. Ao que a bisa da Rafa interveio:
- Assim, não Alice. Assim mata, minha filha.
Isto explica muita coisa. A gente entende direitinho a quem minha mulher puxou.
- Assim, não Alice. Assim mata, minha filha.
Isto explica muita coisa. A gente entende direitinho a quem minha mulher puxou.
quarta-feira, julho 13, 2005
sexta-feira, julho 08, 2005
quinta-feira, julho 07, 2005
A abelha precisa visitar 4 mil flores para colher uma grama de mel. Para colher um quilo, necessita de 4 milhões de flores. Fonte: www.fargs.net
quarta-feira, julho 06, 2005
Viciei no docinho de leite Hué (R$ 1,20, no Empório Diet). Lembra, de looonge, a Vauquita argentina.
domingo, julho 03, 2005
quinta-feira, junho 30, 2005
segunda-feira, junho 27, 2005
Passei o fim-de-semana fazendo turismo. Em Pelotas. Um flaneur pelas ruas pelotenses. Seguem algumas impressões e relatos sobre a cidade.
- Pelotas tem muitos cabeleireiros.
- Pelotas tem muitos corretores de imóveis.
- Que pelotenses fazem muito doce, eu já sabia. Mas que comem muito doce, descobri ontem. No Laranjal, o povo reveza: um matezinho, um docinho, um matezinho, um docinho, um matezinho...
- O Laranjal é lindo. Muito astral.
- Que triste a degradação do patrimônio histórico. Pior de tudo é o mercado público onde os secos e molhados dividem o espaço em ruínas com bancas de... sapatos chineses.
- De dia, não vi nenhum bistrô, café com mesas na rua ou bar mais transadinho. Nada que apetecesse gastar mais de uma hora, pelo menos.
- Pelotas tem muitos cabeleireiros.
- Pelotas tem muitos corretores de imóveis.
- Que pelotenses fazem muito doce, eu já sabia. Mas que comem muito doce, descobri ontem. No Laranjal, o povo reveza: um matezinho, um docinho, um matezinho, um docinho, um matezinho...
- O Laranjal é lindo. Muito astral.
- Que triste a degradação do patrimônio histórico. Pior de tudo é o mercado público onde os secos e molhados dividem o espaço em ruínas com bancas de... sapatos chineses.
- De dia, não vi nenhum bistrô, café com mesas na rua ou bar mais transadinho. Nada que apetecesse gastar mais de uma hora, pelo menos.
sábado, junho 25, 2005
quinta-feira, junho 23, 2005
Segue mais uma resposta de meus queridos professores. Desta vez a trago com grifos (meus), que comprovam a tese lançada pelo Filipe e que predominou entre os debatedores. Apenas a título de implicância, também grifo a parte que mostra que a alegação soloniana de que o a espuma do leite é tipo a da cerveja e que este fenômeno o faz subir é um embuste.
"Caríssimo Sebastião
Ficamos felizes de ver que quando a "coisa" aperta a salvação pode ser aqueles velhos professores que tanto pareciam nos infernizar a vida. Mas vamos lá, aí vão algumas considerações sobre o leite. O leite é uma emulsão onde glóbulos de gordura "flutuam" em uma solução aquosa que conté m vários componentes: açúcares (lactose), caseína, albumina, sais minerais, vitaminas,ácido lático... A água constitui , em volume, o principal componente do leite (em torno de 88%)enquanto a matéria gordurosa formada por glóbulos de diversos tamanho é o componente mais variável dependendo do tipo do leite( em média 3,5%). A caseína forma uma solução coloidal e entra em torno de 3%. A caseína pode ser obtida por precipitação natural (fermentação) ou com o auxílio de coalhos ouácidos (leite tallhado). A caseína é o principal componente dos queijos. A albumina é solúvel em água e não se coagula por coalho e sim por ácidos ou por calor, é a albumina que forma aquela película no leite aquecido e também é albumina aquela espuma que se observa quando o leite ferve. Depois de precipitar a caseína do soro sobrante pode-se separar a albuminaque serve para fabricar ricota. A lactose ou açúcar do leite encontra-se em 4,5%.A tranformação da lactose em ácido lático causa a precipitação da caseína e portanto a coagulação do leite. E por que o leite sobe? Por ser menos densa, a camada gordurosa flutua sobre o leite em repouso,formando a nata. Esta camada de gordura impede que as bolhas de vapor dágua que se formam quando o leite é aquecido cheguem à superfície para "estourarem" ou seja as bolhas de vapor tendem a se desprender da porção líquida. Com esta éspécie de "tampão" as bolhas ficam presas dentro do leite e com acontinuidade do aquecimento elas cada vez mais aumentam em número e em volume fazendo com que o leite cresça e derrame. Bom, acho que era isto que podiamos contribuir para esta discussão de vocês. Abraços Claudete e Adalberto"
"Caríssimo Sebastião
Ficamos felizes de ver que quando a "coisa" aperta a salvação pode ser aqueles velhos professores que tanto pareciam nos infernizar a vida. Mas vamos lá, aí vão algumas considerações sobre o leite. O leite é uma emulsão onde glóbulos de gordura "flutuam" em uma solução aquosa que conté m vários componentes: açúcares (lactose), caseína, albumina, sais minerais, vitaminas,ácido lático... A água constitui , em volume, o principal componente do leite (em torno de 88%)enquanto a matéria gordurosa formada por glóbulos de diversos tamanho é o componente mais variável dependendo do tipo do leite( em média 3,5%). A caseína forma uma solução coloidal e entra em torno de 3%. A caseína pode ser obtida por precipitação natural (fermentação) ou com o auxílio de coalhos ouácidos (leite tallhado). A caseína é o principal componente dos queijos. A albumina é solúvel em água e não se coagula por coalho e sim por ácidos ou por calor, é a albumina que forma aquela película no leite aquecido e também é albumina aquela espuma que se observa quando o leite ferve. Depois de precipitar a caseína do soro sobrante pode-se separar a albuminaque serve para fabricar ricota. A lactose ou açúcar do leite encontra-se em 4,5%.A tranformação da lactose em ácido lático causa a precipitação da caseína e portanto a coagulação do leite. E por que o leite sobe? Por ser menos densa, a camada gordurosa flutua sobre o leite em repouso,formando a nata. Esta camada de gordura impede que as bolhas de vapor dágua que se formam quando o leite é aquecido cheguem à superfície para "estourarem" ou seja as bolhas de vapor tendem a se desprender da porção líquida. Com esta éspécie de "tampão" as bolhas ficam presas dentro do leite e com acontinuidade do aquecimento elas cada vez mais aumentam em número e em volume fazendo com que o leite cresça e derrame. Bom, acho que era isto que podiamos contribuir para esta discussão de vocês. Abraços Claudete e Adalberto"
quarta-feira, junho 22, 2005
Tenho um assunto muito obscuro para falar sobre. Tão obscuro que o Word não o reconhece em nenhuma de suas grafias. Mitórios. Mictórios.
Passa que há homens que se intimidam com os mictórios. Cruzam ao largo deles, indo direto para a casinha, para o vaso sanitário. Há outros ainda que não conseguem mijar tendo ao lado um companheiro. Eu até entendo isso. A situação é realmente constrangedora. Dois homens, duas mangueiras, lado a lado.
Um amigo meu é conhecido por evitar os mictórios. Evita até as árvores, os muros, os matinhos. Nem na mais absoluta bebedeira, três garrafas de Patrícia a descarregar, noite cerrada, é capaz de fazer xixi sabendo-se observado. Muitas vezes já lhe perguntamos por que. Ele responde sempre que é uma questão de concentração - mijar seria um ato que requer tranqüilidade máxima.
Há ainda aqueles que até aceitam o mictório, mas jamais uma companhia no aparelho adjacente – que dirá um papo de banheiro. Podem até esvaziar eficientemente de frente para uma parede, contando os azulejos do chão até o teto. Mas, em chegando um segundo para compartilhar o momento, a vazão diminui drasticamente, podendo até cessar por completo. Nesses casos, costumam tangenciar. Pressionam a hidra para fazer barulhinho de água e estimular o pipi, assoviam para que o outro não perceba que o mijo só sai em gotas, ou simplesmente abandonam a tarefa pela metade e sacolejam como se a tivessem concluído.
Sempre achei que essa situação tivesse uma forte explicação psicanalítica. Medo de olhar pro pinto do outro (e gostar?), medo de que o vizinho pare e proponha uma disputa para “ver quem tem o tico maior”, medo de descobrir que o outro mija melhor, com mais vazão e eficiência. Medos inconscientes mil. E pior: relacionados à sexualidade. Coisas que Freud gostaria de explicar.
Pois esses dias, um outro amigo deu uma pista de que minha teoria está correta. Mandou o seguinte mail para uma lista de discussões. “Às vezes eu tou mijando num mictório desses coletivos. Sabe quando outro cara mija do teu lado e só consegue aquele mijinho mocorongo que não dá barulho, não dá uma corrente mijal constante, é psh... pshh... pshh...? Eu sempre fico com a impressão que esse cara é um merda. Estarei louco?”
A inquietação absolutamente pertinente do colega me fez pensar que, além dos que fogem do mictório, dos que só o encaram sozinho e dos que simplesmente mijam, há os que realmente observam, ou ao menos reparam, os outros mijar. O interessante de notarmos é que o mail do meu amigo dá realmente uma base real para os que temores dos que têm medo da relação mictorial. Responde a estes: sim, há gente observando você mijar, cotejando mijos.
O estranho é que não consigo colocar este meu amigo nessa posição. Ele é um cara super low profile, daqueles que você juraria que não presta atenção no seu xixi. No entanto, aí está o rapaz a insinuar que existem os “mocorongos”, os “merdas” do mictório. Engraçado, não pensava que ele fosse do tipo que tem orgulho do xixi. Muito menos do próprio pinto. Sei lá, nunca imaginei que ele portasse um trabuco cano longo, uma enorme morcilha preta, uma mangueira quilométrica que daria orgulho de exibir no mictório. Não que eu achasse que ele tivesse pinto pequeno. Normal, apenas. Pelo menos nunca se falou nada sobre seu aparelho no vestiário do futebol...
E antes que já me acusem de adotar a postura de meu amigo, de ser um observador mictorial, um medidor de vazões, esclareço: há tempos venho fazendo isso por rigor científico. Como se vê, e o mail de meu amigo confirma, o comportamento nos mictórios intriga a muitos e amanhã mesmo pedirei explicações ao meu psiquiatra sobre o caso.
Passa que há homens que se intimidam com os mictórios. Cruzam ao largo deles, indo direto para a casinha, para o vaso sanitário. Há outros ainda que não conseguem mijar tendo ao lado um companheiro. Eu até entendo isso. A situação é realmente constrangedora. Dois homens, duas mangueiras, lado a lado.
Um amigo meu é conhecido por evitar os mictórios. Evita até as árvores, os muros, os matinhos. Nem na mais absoluta bebedeira, três garrafas de Patrícia a descarregar, noite cerrada, é capaz de fazer xixi sabendo-se observado. Muitas vezes já lhe perguntamos por que. Ele responde sempre que é uma questão de concentração - mijar seria um ato que requer tranqüilidade máxima.
Há ainda aqueles que até aceitam o mictório, mas jamais uma companhia no aparelho adjacente – que dirá um papo de banheiro. Podem até esvaziar eficientemente de frente para uma parede, contando os azulejos do chão até o teto. Mas, em chegando um segundo para compartilhar o momento, a vazão diminui drasticamente, podendo até cessar por completo. Nesses casos, costumam tangenciar. Pressionam a hidra para fazer barulhinho de água e estimular o pipi, assoviam para que o outro não perceba que o mijo só sai em gotas, ou simplesmente abandonam a tarefa pela metade e sacolejam como se a tivessem concluído.
Sempre achei que essa situação tivesse uma forte explicação psicanalítica. Medo de olhar pro pinto do outro (e gostar?), medo de que o vizinho pare e proponha uma disputa para “ver quem tem o tico maior”, medo de descobrir que o outro mija melhor, com mais vazão e eficiência. Medos inconscientes mil. E pior: relacionados à sexualidade. Coisas que Freud gostaria de explicar.
Pois esses dias, um outro amigo deu uma pista de que minha teoria está correta. Mandou o seguinte mail para uma lista de discussões. “Às vezes eu tou mijando num mictório desses coletivos. Sabe quando outro cara mija do teu lado e só consegue aquele mijinho mocorongo que não dá barulho, não dá uma corrente mijal constante, é psh... pshh... pshh...? Eu sempre fico com a impressão que esse cara é um merda. Estarei louco?”
A inquietação absolutamente pertinente do colega me fez pensar que, além dos que fogem do mictório, dos que só o encaram sozinho e dos que simplesmente mijam, há os que realmente observam, ou ao menos reparam, os outros mijar. O interessante de notarmos é que o mail do meu amigo dá realmente uma base real para os que temores dos que têm medo da relação mictorial. Responde a estes: sim, há gente observando você mijar, cotejando mijos.
O estranho é que não consigo colocar este meu amigo nessa posição. Ele é um cara super low profile, daqueles que você juraria que não presta atenção no seu xixi. No entanto, aí está o rapaz a insinuar que existem os “mocorongos”, os “merdas” do mictório. Engraçado, não pensava que ele fosse do tipo que tem orgulho do xixi. Muito menos do próprio pinto. Sei lá, nunca imaginei que ele portasse um trabuco cano longo, uma enorme morcilha preta, uma mangueira quilométrica que daria orgulho de exibir no mictório. Não que eu achasse que ele tivesse pinto pequeno. Normal, apenas. Pelo menos nunca se falou nada sobre seu aparelho no vestiário do futebol...
E antes que já me acusem de adotar a postura de meu amigo, de ser um observador mictorial, um medidor de vazões, esclareço: há tempos venho fazendo isso por rigor científico. Como se vê, e o mail de meu amigo confirma, o comportamento nos mictórios intriga a muitos e amanhã mesmo pedirei explicações ao meu psiquiatra sobre o caso.
Ainda devo a outra explicação de meus professores. Antes, porém, reproduzo uma resposta sobre o assunto leite publicada pela Revista Mundo estranho e mandada pela Renata Steffen. Mais uma vez, a resposta coroa a explicação do Filipe, ratifica minhas conclusões finais, e mostra que o Solon, entre muitos acertos, embutiu um monte de bobagens e imaginações da cabeça dele em suas hipóteses.
"Turbulência Láctea - Por que o leite sobe quando ferve? Para começo de conversa, é preciso entender uma característica básica do leite. Ele não é apenas um líquido, como a água, e sim uma composição orgânica que também contém sais minerais, gordura, proteínas e açúcar (a famigerada lactose, que o organismo de muitos adultos não tolera). Ao serem aquecidas, a gordura e as proteínas tendem a subir para a superfície do leite, formando uma película. Isso ocorre antes de a água presente no leite ferver. Quando isso acontece, a água começa a borbulhar e as bolhas de vapor empurram a tal película para fora e o leite passa a espumar. Todo mundo sabe que, se apagar o fogo, o processo é paralisado instantaneamente. “Isso acontece porque as proteínas voltam a dissolver-se na água do leite quando ele esfria”, diz Paulo César Queiroga, gerente industrial de uma fábrica de laticínios. O que sobra na superfície é a popular nata: a gordura do leite.
Fervura incontida Gordura e proteína do leite criam película que provoca o transbordamento. Quando o leite é aquecido, a gordura e as proteínas sobem para a superfície, formando uma película. Quando a água contida no leite começa a ferver, as bolhas de vapor empurram a película para fora, formando a espuma que transborda."
"Turbulência Láctea - Por que o leite sobe quando ferve? Para começo de conversa, é preciso entender uma característica básica do leite. Ele não é apenas um líquido, como a água, e sim uma composição orgânica que também contém sais minerais, gordura, proteínas e açúcar (a famigerada lactose, que o organismo de muitos adultos não tolera). Ao serem aquecidas, a gordura e as proteínas tendem a subir para a superfície do leite, formando uma película. Isso ocorre antes de a água presente no leite ferver. Quando isso acontece, a água começa a borbulhar e as bolhas de vapor empurram a tal película para fora e o leite passa a espumar. Todo mundo sabe que, se apagar o fogo, o processo é paralisado instantaneamente. “Isso acontece porque as proteínas voltam a dissolver-se na água do leite quando ele esfria”, diz Paulo César Queiroga, gerente industrial de uma fábrica de laticínios. O que sobra na superfície é a popular nata: a gordura do leite.
Fervura incontida Gordura e proteína do leite criam película que provoca o transbordamento. Quando o leite é aquecido, a gordura e as proteínas sobem para a superfície, formando uma película. Quando a água contida no leite começa a ferver, as bolhas de vapor empurram a película para fora, formando a espuma que transborda."
terça-feira, junho 21, 2005
Antecipo uma das duas respostas que recebi de meus queridos professores do Aplicação sobre o leite. Fico devendo mais uma e um comentário acerca da resolução do enigma do leite.
"Olá, Sebastião (Grande Seba). Tudo bem com você? Espero que sim. Bem, vamos auxiliar nesse profundo debate sobre o Leite.
O leite é constituido por gorduras, proteínas e água. As proteínas sofrem desnaturação com o calor em temperatura inferior à da ebulição da água. Quando aquecemos o leite, uma das proteínas (lactoalbumina) desnatura e forma uma camada fina na superfície do leite(nata). As partículas de água, ao entrarem em ebulição, têm a tendência de sair do recipiente e empurram a nata para cima. Uma maneira para evitar é colocar um pedaço de porcelana no interior dorecipiente (existem alguns à venda em lojas especializadas). Ele não impede o leite de subir, mas vai te avisar (faz barulho na leiteira) quando começa a ferver e você pode desligar antes de sujar todo o fogão.
A espuma do leite é diferente da espuma da cerveja em constituição química. O sistema parece semelhante, mas na cerveja a espuma depende do gás carbônico produzido na fermentação.
O leite talhado (azedo) modifica a caseína (uma das proteínas do leite) e faz com que ela coagule e formem-se grumos (aglomeração de partículas). Ao ferver, como formam esses grumos, não há formação da nata e as partículas de água, ao ebulirem, não encontram impedimento físico - assim o leite não derrama. Para saber um pouco mais, aí vai alguns endereços na Internet.
Um forte abraço. Edson."
http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT688136-1716-2,00.html
http://www.nisseychallenger.com/newscuriosidades.html
http://www.cienciaviva.pt/docs/espumascervejalavagem.pdf
"Olá, Sebastião (Grande Seba). Tudo bem com você? Espero que sim. Bem, vamos auxiliar nesse profundo debate sobre o Leite.
O leite é constituido por gorduras, proteínas e água. As proteínas sofrem desnaturação com o calor em temperatura inferior à da ebulição da água. Quando aquecemos o leite, uma das proteínas (lactoalbumina) desnatura e forma uma camada fina na superfície do leite(nata). As partículas de água, ao entrarem em ebulição, têm a tendência de sair do recipiente e empurram a nata para cima. Uma maneira para evitar é colocar um pedaço de porcelana no interior dorecipiente (existem alguns à venda em lojas especializadas). Ele não impede o leite de subir, mas vai te avisar (faz barulho na leiteira) quando começa a ferver e você pode desligar antes de sujar todo o fogão.
A espuma do leite é diferente da espuma da cerveja em constituição química. O sistema parece semelhante, mas na cerveja a espuma depende do gás carbônico produzido na fermentação.
O leite talhado (azedo) modifica a caseína (uma das proteínas do leite) e faz com que ela coagule e formem-se grumos (aglomeração de partículas). Ao ferver, como formam esses grumos, não há formação da nata e as partículas de água, ao ebulirem, não encontram impedimento físico - assim o leite não derrama. Para saber um pouco mais, aí vai alguns endereços na Internet.
Um forte abraço. Edson."
http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT688136-1716-2,00.html
http://www.nisseychallenger.com/newscuriosidades.html
http://www.cienciaviva.pt/docs/espumascervejalavagem.pdf
quarta-feira, junho 15, 2005
Tendo em vista a concorrida discussão sobre a fervura do leite abaixo estabelecida, resolvi tomar uma atitude drástica. Enviei as questões polêmicas a quatro professores que me deram aula de química e física no colégio de Aplicação. Segue mensagem:
"Distintos professores Claudete, César, Adalberto e paraninfo Edson,
fui aluno de vocês e espero tê-los incomodado o suficiente para não ter sido esquecido em apenas nove anos. E não é sem incomodar que volto a procurá-los agora de forma tão intempestiva. Ocorre que instalou-se uma fútil discussão em meu blógui - se quiserem consultar www.bloguidotiao.blogspot.com -, a qual creio poder ser facilmente resolvida por vocês. Depois de ler uma matéria boba na revista Galileu sobre leite, tive a infelicidade de fazer, por meio da Internet, uma indagação boba aos meus amigos. O resultado foi um interminável bate-boca travado por leigos sem nenhuma autoridade, mas cheios de pretensão - como aliás, costumam ser todos os jornalistas. Portanto, considerem a hipótese de me responder por escrito ou por telefone (9994-0519) às seguintes indagações:
1) por que o leite "levanta fervura", em vez de só borbulhar, como a água?
2) por que o leite talhado não "levanta fervura"?
3) até que altura pode subir a fervura do leite em uma panela?
4) o leite faz espuma como a cerveja?
5) sintam-se totalmente à vontade para também para comentar qualquer uma das afirmações feitas na discussão (abaixo) ...
Obrigado, saudades da escola, Sebastião Ribeiro"
"Distintos professores Claudete, César, Adalberto e paraninfo Edson,
fui aluno de vocês e espero tê-los incomodado o suficiente para não ter sido esquecido em apenas nove anos. E não é sem incomodar que volto a procurá-los agora de forma tão intempestiva. Ocorre que instalou-se uma fútil discussão em meu blógui - se quiserem consultar www.bloguidotiao.blogspot.com -, a qual creio poder ser facilmente resolvida por vocês. Depois de ler uma matéria boba na revista Galileu sobre leite, tive a infelicidade de fazer, por meio da Internet, uma indagação boba aos meus amigos. O resultado foi um interminável bate-boca travado por leigos sem nenhuma autoridade, mas cheios de pretensão - como aliás, costumam ser todos os jornalistas. Portanto, considerem a hipótese de me responder por escrito ou por telefone (9994-0519) às seguintes indagações:
1) por que o leite "levanta fervura", em vez de só borbulhar, como a água?
2) por que o leite talhado não "levanta fervura"?
3) até que altura pode subir a fervura do leite em uma panela?
4) o leite faz espuma como a cerveja?
5) sintam-se totalmente à vontade para também para comentar qualquer uma das afirmações feitas na discussão (abaixo) ...
Obrigado, saudades da escola, Sebastião Ribeiro"
terça-feira, junho 14, 2005
Quando me dei por conta, tinha uma floresta dentro do meu apartamento. A Amazônia de Petrópolis começou sorrateiramente. Para ser preciso, nem matéria orgânica existia em sua gênese. Simplesmente, viajei por uma semana e ao chegar me deparei com a parede da sacada que não é sacada mas sim churrasqueira pintada de verde. Verde-pistache, verde-limão-verde. Achei bonito. Não sabia para onde aquilo evoluiria.
Condescendente, aceitei a primeira árvore - uma palmeira que deixou mais verde a sacada verde. Daí por diante, não sei como as coisas se deram. Hoje, olho para sacada (que não é sacada...) e só vejo plantas. Um vaso de tostão que cresce só para um lado, o lado da janela, o lado da luz, e simplesmente não pára de crescer. Três suculentas que uma vez por mês têm de ser encharcadas para então ser esquecidas por mais trinta dias até ser encharcadas de novo. Um vaso com umas folhas verdes e umas flores rosas envolto em um papel celofane escandalosamente... verde. Umas gérberas que morreram, mas prometem ressuscitar. Uma orquídea que só cresce para cima, fina e longa como uma varilha de catavento. E, por fim, minha plantinha que fica no parapeito, onde, não importa a chuva ou o vendaval, permanece inabalável, sem nunca ter tentado suicídio.
Não gosto muito da floresta de minha casa, mas, enfim, sou refém dela. Afinal, o que se pode fazer contra estas pobres plantas que alguém um dia pôs aqui?
Condescendente, aceitei a primeira árvore - uma palmeira que deixou mais verde a sacada verde. Daí por diante, não sei como as coisas se deram. Hoje, olho para sacada (que não é sacada...) e só vejo plantas. Um vaso de tostão que cresce só para um lado, o lado da janela, o lado da luz, e simplesmente não pára de crescer. Três suculentas que uma vez por mês têm de ser encharcadas para então ser esquecidas por mais trinta dias até ser encharcadas de novo. Um vaso com umas folhas verdes e umas flores rosas envolto em um papel celofane escandalosamente... verde. Umas gérberas que morreram, mas prometem ressuscitar. Uma orquídea que só cresce para cima, fina e longa como uma varilha de catavento. E, por fim, minha plantinha que fica no parapeito, onde, não importa a chuva ou o vendaval, permanece inabalável, sem nunca ter tentado suicídio.
Não gosto muito da floresta de minha casa, mas, enfim, sou refém dela. Afinal, o que se pode fazer contra estas pobres plantas que alguém um dia pôs aqui?
sexta-feira, junho 10, 2005
A Tica diria que um blógui não é um lugar para se polvilhar links. Eu concordaria e diria que um blógui não é sequer um lugar. Mas este site, que me recomendou o Fabiano, é bem legal. A propósito, desde o confessional post "Não Consigo Sair deste Mundo", isto aqui está mesmo com cara de blógui. No melhor e no pior sentido da palavra.
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