Segue agora o primeiro exercício jornalístico em fascículos do Brasil.
A reconquista do Oeste - Parte 1
Faz duas horas e meia que me deitei e já está este telefone a tocar. Trru. Trru. Trru (não se fazem mais campainhas como antigamente). É o sistema de despertar do hotel. "Have a good morning in the earth of Agribusiness", diz a gravação feminina, com uma desproporcional elevação de tom em "agribusiness". Afinal, são 3h45 e alguém tem de lembrar aos de sono mais profundo: isto aqui é Rondonópolis. A cueca, a calça, a camiseta, o sapato, a meia, o gravador, o celular, o bloco e a caneta estão empilhados na cebeceira - bem nesta ordem e bem como os deixei ontem à noite, agora há pouco. Visto o que é de vestir, pego o que é de pegar, coloco no bolso o que é de colocar no bolso e me toco para o hall de entrada.
O velho tinha sido bem convincente. Por três vezes repeti e por três vezes ele confirmou: 4h da manhã, na frente do hotel. Mesmo assim, me é impossível acreditar que tudo vai dar certo. Não me contenho e ligo. Mais cinco minutos e estou aí, Sebastião, diz, enquanto engole uma empada de queijo com café com leite. Preferiria mil vezes uma polenta com lingüiça - atavismos de um filho de mãe de origem italiana -, mas tão requintado desjejum só come uma vez por semana, segundo me contaria logo depois. De minha parte, apresso-me em pedir alguma coisa para forrar o estômago, que viajar por estas estradas esburacadas de bucho vazio pode ser perigoso. O restaurante está fechado, com as lâmpadas apagadas, mas meio escondido no breu, consigo distinguir um garçom. Ali mesmo, aproveitando os fachos de luz que entram do lobby, ele faz a sua refeição do turno, um morro de bife, arroz, salada de batata, massa com mariscos, feijão: restos do buffet da noite. Parece ficar muito feliz que alguém interrompa sua rotina e atende de bom grado ao meu pedido. Deixa a refeição de lado e entra na cozinha, de onde sai trazendo um prato com três fatias de bolo de chocolate e três fatias de bolo de coco, quase um embriagado, e mais um copo de suco de laranja. Perfeito. É tudo o que preciso.
sábado, abril 30, 2005
quarta-feira, abril 27, 2005
Eu queria ter falado um pouco mais sobre Mato Grosso. Estou mesmo escrevendo um relato monstruoso sobre um fazendeiro de lá. Mas a verdade é que a preguiça pega e dali a pouco a memória já se apaga e foi-se a oportunidade. Por isso, fiquemos com as pílulas. Lendo o MonocromáticoMulticolorido me inspirei para contar só uma coisinha.
O ônibus entre Cuiabá e Rondonópolis leva quatro horas para percorrer 200 quilômetros. É pinga-pinga. E pinga mesmo. Em tudo quanto é biboca. Não queria estigmatizar o lugar e dizer que tudo lá é diferente. Mas que acontecem coisas estranhas, acontecem. Está certo que coisas estranhas em lugares estranhos soam mais estranhas, mas, enfim, nem por isso deixam de ser estranhas.
O fato é que depois de parar em tudo quanto é rodoviária de beira de estrada, daquelas que nem um coitado cuidando do banheiro têm, o ônibus estacionou no meio da estrada. Tá, no acostamento - mas no meio da estrada. Isso não seria estranho se ao menos o motorista tivesse feito a coisa estranha que os motoristas gostam de fazer nessas situações: dar umas marteladinhas na roda. Parece que fazem isso quando estão estressados, para descarregar a raiva, sabe?
Mas em Mato Grosso, o ônibus parou, fiquei esperando as batidinhas no pneu e nada... Um minuto, dois, três, cinco, quinze, e nada... E todo mundo fingindo que aquilo era normal. Quando deu uns dezesseis miinutos de parada, o motora abriu a porta da cabine e anunciou:
- Desculpa, gente, estamos com um problema. Eu perdi minha carteira e nem documentos tenho para tocar a viagem.
A guria atrás de mim, de boné Nike e calça Triton, um tipinho que podia estar fazendo Porto Alegre-Garopaba ou qualquer outro itinerário bacana neste brasilzão, largou um "ninguém merece", eu ri cá comigo mesmo, os demais passageiros iniciaram um pequeno borburinho. E continuamos a esperar, enquanto nosso piloto agora revirava o bagageiro. Achei mesmo que ele estava de pilantragem, querendo saquear as malas dos pobres coitados (que as minhas tavam bem seguras no meu colinho). Cogitei a hipótese de ele ter perdido a razão e, como em um desenho animado ou filme B, começado a procurar enlouquecidamente mais pelo ato de procurar do que pela possibilidade de achar (vide episódio vó do Tiago, para quem isto faz algum sentido). Mas não é que dali a cinco minutos o tiozinho volta bem faceiro e anuncia, aliviado:
- Achei minha carteira.
E seguimos viagem. Sem nunca descobrir como diabos o infeliz foi perder a carteira no bagageiro.
O ônibus entre Cuiabá e Rondonópolis leva quatro horas para percorrer 200 quilômetros. É pinga-pinga. E pinga mesmo. Em tudo quanto é biboca. Não queria estigmatizar o lugar e dizer que tudo lá é diferente. Mas que acontecem coisas estranhas, acontecem. Está certo que coisas estranhas em lugares estranhos soam mais estranhas, mas, enfim, nem por isso deixam de ser estranhas.
O fato é que depois de parar em tudo quanto é rodoviária de beira de estrada, daquelas que nem um coitado cuidando do banheiro têm, o ônibus estacionou no meio da estrada. Tá, no acostamento - mas no meio da estrada. Isso não seria estranho se ao menos o motorista tivesse feito a coisa estranha que os motoristas gostam de fazer nessas situações: dar umas marteladinhas na roda. Parece que fazem isso quando estão estressados, para descarregar a raiva, sabe?
Mas em Mato Grosso, o ônibus parou, fiquei esperando as batidinhas no pneu e nada... Um minuto, dois, três, cinco, quinze, e nada... E todo mundo fingindo que aquilo era normal. Quando deu uns dezesseis miinutos de parada, o motora abriu a porta da cabine e anunciou:
- Desculpa, gente, estamos com um problema. Eu perdi minha carteira e nem documentos tenho para tocar a viagem.
A guria atrás de mim, de boné Nike e calça Triton, um tipinho que podia estar fazendo Porto Alegre-Garopaba ou qualquer outro itinerário bacana neste brasilzão, largou um "ninguém merece", eu ri cá comigo mesmo, os demais passageiros iniciaram um pequeno borburinho. E continuamos a esperar, enquanto nosso piloto agora revirava o bagageiro. Achei mesmo que ele estava de pilantragem, querendo saquear as malas dos pobres coitados (que as minhas tavam bem seguras no meu colinho). Cogitei a hipótese de ele ter perdido a razão e, como em um desenho animado ou filme B, começado a procurar enlouquecidamente mais pelo ato de procurar do que pela possibilidade de achar (vide episódio vó do Tiago, para quem isto faz algum sentido). Mas não é que dali a cinco minutos o tiozinho volta bem faceiro e anuncia, aliviado:
- Achei minha carteira.
E seguimos viagem. Sem nunca descobrir como diabos o infeliz foi perder a carteira no bagageiro.
segunda-feira, abril 25, 2005
Rondonópolis tem 200 mil habitantes e mil mototaxistas. Dá uma média de um mototaxista para cada 200 pessoas. Se considerarmos que boa parte dos munícipes são velhos e velhas sem estrutura para trepar numa Honda, crianças sem tamanho para usar uma motoca, cidadãos que têm seus carros para ir para lá e para cá sozinhos ou simplesnente seres normais que não gostam de andar de perna aberta e capacete sob uma temperatura de 40 graus, deve dar um mototaxista para cada 50 pessoas.
A profusão de mototaxistas tem razão de ser. Mato Grosso tem a gasolina mais cara do país. Para evitar a síndrome de Paulo Santana, nem olhei o preço no posto. Mas para se ter uma noção, a corrida de táxi normal em um trajeto equivalente a ir do Centro ao Iguatemi, em Porto Alegre, saiu por 46 paus. E me contaram que eu nem fui enganado.
A profusão de mototaxistas tem razão de ser. Mato Grosso tem a gasolina mais cara do país. Para evitar a síndrome de Paulo Santana, nem olhei o preço no posto. Mas para se ter uma noção, a corrida de táxi normal em um trajeto equivalente a ir do Centro ao Iguatemi, em Porto Alegre, saiu por 46 paus. E me contaram que eu nem fui enganado.
sábado, abril 23, 2005
terça-feira, abril 19, 2005
sábado, abril 16, 2005
sexta-feira, abril 15, 2005
Pronto. Já tenho minha opinião quanto ao caso Grafite.
1 - O ocorrido foi uma palhaçada. Conforme o próprio jogador são-paulino, o argentino só o chamou de "negro de merda" e "negrito". Parte-se então do pressuposto jacksoniano de que o termo "negro" é ofensivo. Fico imaginando as palavras que o agressor teria usado fossem outros os agredidos. "Alemão batata de bosta", pro Bergkampf; "careca fiadaputa", pro Ronaldo; "narigudo veado", pro Rogério Ceni; "dentuço chupador", pro Ronaldinho; "índio de uma figa", pro Arce; "gordo boludo", pro Maradona. Portanto "negro" foi um atributo físico tomado emprestado para ser o sujeito do xingamento. Até porque nem sempre os boleiros sabem o nome dos seus adversários. Se o Desábato soubesse como se chama o Grafite, poderria ter substituído "negro de merda" por "Grafite boboca". Ou não.
2 - A rusga que terminou no episódio lamentável em campo é fruto da tolerância dos árbitros com a indisciplina. É normal que os jogadores não se tratem a beijinhos e tapinhas nas costas. Um "solta, corno veado" no empurra-empurra do escanteio, um "fiadaputa" logo depois de uma falta violenta, tudo isso é aceitável. Mas a metralhadora de ofensas com o único objetivo de desestabilizar o adversário, como fizeram os argentinos com o Grafite, devia ser sempre punida com vermelho. Mas não, os juízes preferem achar tudo normal e, mais do que isso, lançar mão eles mesmos de gritos e xingamentos para tentar impôr a disciplina no Gramado.
3 - O Grafite chorou feito uma bicha não porque o xingaram por ser negro, mas porque recebeu paulada o jogo inteiro e terminou expulso depois de tentar (e não conseguir) ouvir quieto as - intoleráveis - provocações dos argentinos. Aliás, será que se ele ler este blógui vai me processar por discriminação contra as bichas? Certo que sim! Mas estaria incorrendo no mesmo erro, porque bicha é apenas um atributo, não um xingamento. Aliás, bicha que é bicha mesmo, bicha assumida, bicha desencanada, a-do-ra ser chamada de bicha. De tricha, de preferência.
4 - Apesar de todo este circo, de todas estas pessoas querendo aproveitar o episódio para aparecer, o ocorrido não deixou de ter seu lado positivo. Embora não tenha havido discriminação racial, acho que ficou claro que não se pode tolerar racismo de jeito nenhum no futebol – seja na arquibancada ou no gramado. Racismo, só contra os racistas!
1 - O ocorrido foi uma palhaçada. Conforme o próprio jogador são-paulino, o argentino só o chamou de "negro de merda" e "negrito". Parte-se então do pressuposto jacksoniano de que o termo "negro" é ofensivo. Fico imaginando as palavras que o agressor teria usado fossem outros os agredidos. "Alemão batata de bosta", pro Bergkampf; "careca fiadaputa", pro Ronaldo; "narigudo veado", pro Rogério Ceni; "dentuço chupador", pro Ronaldinho; "índio de uma figa", pro Arce; "gordo boludo", pro Maradona. Portanto "negro" foi um atributo físico tomado emprestado para ser o sujeito do xingamento. Até porque nem sempre os boleiros sabem o nome dos seus adversários. Se o Desábato soubesse como se chama o Grafite, poderria ter substituído "negro de merda" por "Grafite boboca". Ou não.
2 - A rusga que terminou no episódio lamentável em campo é fruto da tolerância dos árbitros com a indisciplina. É normal que os jogadores não se tratem a beijinhos e tapinhas nas costas. Um "solta, corno veado" no empurra-empurra do escanteio, um "fiadaputa" logo depois de uma falta violenta, tudo isso é aceitável. Mas a metralhadora de ofensas com o único objetivo de desestabilizar o adversário, como fizeram os argentinos com o Grafite, devia ser sempre punida com vermelho. Mas não, os juízes preferem achar tudo normal e, mais do que isso, lançar mão eles mesmos de gritos e xingamentos para tentar impôr a disciplina no Gramado.
3 - O Grafite chorou feito uma bicha não porque o xingaram por ser negro, mas porque recebeu paulada o jogo inteiro e terminou expulso depois de tentar (e não conseguir) ouvir quieto as - intoleráveis - provocações dos argentinos. Aliás, será que se ele ler este blógui vai me processar por discriminação contra as bichas? Certo que sim! Mas estaria incorrendo no mesmo erro, porque bicha é apenas um atributo, não um xingamento. Aliás, bicha que é bicha mesmo, bicha assumida, bicha desencanada, a-do-ra ser chamada de bicha. De tricha, de preferência.
4 - Apesar de todo este circo, de todas estas pessoas querendo aproveitar o episódio para aparecer, o ocorrido não deixou de ter seu lado positivo. Embora não tenha havido discriminação racial, acho que ficou claro que não se pode tolerar racismo de jeito nenhum no futebol – seja na arquibancada ou no gramado. Racismo, só contra os racistas!
Confesso. Não consigo acreditar em nada que seja da zona sul. Talvez por isso tenha demorado tanto tempo para descobrir o surpreendente Armazém Machry. Fica na rua Armando Barbedo - uma dessas que vai da Wenceslau Escobar até o rio (bairro Tristeza). Destaque para o tempero do almoço e para a cuca de uva.
quinta-feira, abril 14, 2005
Encher a pança de cerveja e salsichão e cerveja e coração e cerveja e lingüiça do bola e cerveja e frango, que o outro continua sem comer carne, coitado, e cerveja e maminha e cerveja e vazio e cerveja e costela e cerveja, morrer de rir como se tivera fumado, sem ter por acaso fumado, só para lembrar como tudo era bom, mas simplesmente não pode mais ser, porque, enfim, assim que funcionam as coisas.
quarta-feira, abril 13, 2005
Começa uma nova era para este blógui. Os meios para que ele se torne útil e agradável estão dados. Há um computador na nossa casinha (tem de dizer "nossa", que a Rafa tá aqui do lado). Em tese, agora, tudo só depende do autor. Em tese, tudo vai melhorar no Blóguidotião. Em tese. Porque já agora por exemplo ele não tem nada de agradável para dizer. E para salvar o post apela para o quesito utilidade.
A melhor pizza congelada de Porto Alegre: 91790552. É só ligar e pedir. Vale a pena.
Pronto. Deu o recado.
A melhor pizza congelada de Porto Alegre: 91790552. É só ligar e pedir. Vale a pena.
Pronto. Deu o recado.
quarta-feira, abril 06, 2005
terça-feira, abril 05, 2005
sábado, abril 02, 2005
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