sábado, novembro 16, 2024

Meu amigo Otávio

Eu nao sei como eu vivi tanto tempo sem duplar com um vibrador. Quando meu parceiro sai da gaveta, já dá uma animação. Alivia a língua e os dedinhos, prenuncia a pequena morte. Meu best é o Otávio, um mini sugador. Fui eu mesmo que batizei. Meio sem querer, meio por surdez, mas ele parecia predestinado a se chamar assim. Foi nomeado quando minha parceira tirou de uma valise enorme quantidade de vibros (fingi costume: 'super normal', que mulher não tem sua maleta???'). Daí, ela me apresentou:

Ela: _Este é meu preferido, meu pequeno notável..._
Eu: _Quem? O Otávio????_

Pronto, batizado. Pelo seu porte, o pequeno notável não compete com homem ou piroca alguma. Pode ser manipulado discretamente, em qualquer posição. De quatro ou de costas o parceiro nem vê. Mas curto um franguinho assado, adoro acompanhá-lo em serviço: tão diligente, tão discreto, tão eficiente.

Será que isso me classifica como cuckhold??? Espero que não, porque sou bem conservadorzinho - até assusto com as cordas que tu postas. E quero minha mulher pra mim, só pra mim! E pro Otávio...

sábado, setembro 14, 2024

Na casa da girl

Na casa da girl. Transando. Penetrando. Eu:

‐ Quero morar aqui!

(função cerebral migra do lado direito para o esquerdo)

‐ Quero dizer, quero morar aqui, dentro de você, e não dentro da sua casa.

(esforço pra energia cerebral retornar ao lado direito)

sexta-feira, setembro 13, 2024

RIP Mauro Vieira

Era sempre uma tranquilidade quando tínhamos o Mauro Vieira como dupla de foto na reportagem. Não tinha ruim pra ele. Um cara que equilibrava força e leveza; alegria e seriedade; profissionalismo e amizade. Um colega agradável, que transmitia confiança pra toda a equipe. Acima de tudo, um olhar curioso, atento e sensível. 

Lá por agosto de 2008, estávamos há uns três dias na estrada, reporteando sobre a revolução do eucalipto nos campos do Rio Grande. Exaustos, assinamos o checkin às 19h no confortável Hotel São João Palace em Santiago do Boqueirão. Não baixamos mala, nem nada, reingressamos no auto e andamos mais 70kms em sentido contrário ao destino final, por asfalto ruim e estrada de chão. Trocamos os lençóis engomados da sofisticada hotelaria missioneira pelas rústicas camas da Fazenda do Perpétuo Socorro, na Cândida Vargas.

Porque, pro Mauro, e pra equipe que ao fim e ao passo ele comandava, jantar uma paleta de ovelha texel assada na brasa, mirar as estrelas sem a interferência das luzes da cidade, ver o amanhecer no campo e sentir o minuano no lombo valiam muito mais do que duas horas extras de estrada. 

A horinha que passamos na fazenda ainda em meio ao nascer bastou pra ele fazer estas fotos que ninguém pediu, ninguém mandou, ninguém pautou. Só porque era fotógrafo e trabalhava com o que amava (na mesma trip, ele fez o mesmo em um esquecido cemitério de Campanha em São Gabriel).

Regressando à Capital, ainda paramos no São João só para assinar o checkout do hotel como se de fato tivéssemos usado - afinal, ninguém queria ficar dando explicação pro ADM. O que importava e sempre importaria pro Mauro eram as histórias e as imagens.

RIP, @mvieirafoto

Mauro Vieira era fotógrafo, trabalhou no Jornal Zero Hora por anos, faleceu em 12 de setembro de 2024.

PS: poucos dias depois da reportagem, a iniciada revolução do eucalipto nos campos do RS foi sufocada pelos desdobramentos da crise internacional que quebrou as papeleiras, desprotegidas do baque da desvalorização do real. A linda matéria que fizemos virou pó na história, afinal, não previmos (como ningém, aliás), o colapso das empresas e projetos de celulose gaúchos.


segunda-feira, agosto 19, 2024

Em Parintins, faça como os parintinenses: vá de moto!

Cheguei no quarto, digo, no cativeiro e fui recepcionado com um abraço pela minha anfitriã (eu nunca a tinha visto, mas aparentemente ela teve uma Síndrome de Estocolmo ao contrário e se afeiçoou ao sequestrado).

Expliquei que ainda precisava passar no aeroporto, ao que ela sugeriu:

"Vai de moto!"
"Que moto?", perguntei...
"A minha moto. Tó a chave"
"Mas eu não tenho carteira de moto"
"Não tem problema, não, aqui não precisa"
"Tá, mas eu não tenho capacete, este teu não vai me entrar"
"Precisa, não, nesta época ninguém pede"
"Moça, olha só, eu não sei andar de moto"
"É fácil... Vá!"
"Moça, olha só, eu nunca, nunquinha, dirigi uma moto. Nem mobilete. Nada..."
"Experimente..."
"Mas tem de fazer marcha??? Se tiver, eu não vou..."
"Tem, é com o pé, pra cima e pra baixo, experimente!"
"Tá! Me dá esta moto então"

E saí todo atrapalhado, dando solavanco a cada reduzida na marcha e voando pra trás a cada vez que colocava segunda ou terceira. Não caí. Não morri. Estou aqui.

sexta-feira, julho 05, 2024

Um sonho

Sobre esta trip pra ver o Caprichoso. Possivelmente, é a primeira vez que "realizo um sonho". 

Todas as coisas, conquistas na minha vida, foram meio que acontecendo naturalmente. Eu não sonhava ter filhos - eu os amo mais do que tudo, queria ser pai, mas era algo que tinha convicção de que aconteceria. E assim foi, como se o curso natural da vida.

Eu não sonhava trabalhar aqui ou acolá - desejava, talvez. Eu não sonhava conhecer Paris ou Nova Iorque, porque sabia que a qualquer hora pisaria nestas terras, privilegiado que sou. Eu nunca tive um ídolo pra sonhar encontrar.

Um sonho tem de ter algo de inatingível, de ser desejado, mas não esperado. Um sonho, a gente tem de abraçar e dizer "eu vou lá fazer", não importa o perrengue; exige um querer, um esforço incomum e um propósito... 

Nesse sentido, ver o Caprichoso deve ter sido o primeiro sonho realizado da minha vida - e isso é incrível, porque, de verdade, eu achei que nunca aconteceria. 

E, agora, eu só quero é ir de novo! Parintins é como a garota mais bonita da sala de aula, a cunhã poranga por todos desejada, que te maltrata, te pisa, te humilha, mas pra ela tu quer sempre voltar.

Desculpa, Floripa, mas a verdadeira Ilha da Magia não é sulista; é nortista e adora dormir numa rede. Desculpa, Nova Iorque, mas a city that never sleeps fica no meio da Floresta. Desculpa, encarnado, desculpa colorado, mas ser gremista e caprichoso é um sentimento porreta, bem maior do que o planeta, efervescente calor. Só quem é sabe a extensão deste amor.

quarta-feira, junho 05, 2024

Herança

"Não sou de choro fácil, a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre ácido desoxirribonucleico" 
Matilde Campilho



Vem de mim ou vem de ela?

Não importa. Depois que junta, existe eu-ela. Engrenagem da bicicleta, encaixa e anda, um e um e um e um. Encaixa, encaixa...

Não! 

Que não gruda, é feito corda, rédea. Guasca, enreda. Só assim é!

Não!

É como massa, massinha, que gruda mas não modela  Torce, enrola, enrolar, enrola... que vira fogo! Fogo não se quebra: é uno, só se apaga. Ou se acende.

Neu ou nela? 

quarta-feira, abril 17, 2024

Pessoa de Segurança

Seguindo alguns perfis de autistas, maioria nível de suporte 1 e com diagnóstico tardio, conheci o conceito de PESSOA DE SEGURANÇA. E achei tão lindo. É aquele amigo, familiar ou colega que conhece todas as tuas dificuldades e, quando consultado por ti, ou mesmo ao notar que estás enfrentando dificuldade em compreender alguma situação, interfere e te ajuda a traduzir o mundo. 

Actedito que esse conceito, sem invisibilizar a dificuldade de quem tem diagnóstico, não precisa se restringir aos atípicos. Sinto a @isabelmarchezan como minha pessoa de segurança. A gente pode andar afastado, mas sempre que estou passando um perrengue ou situação extraordinária na vida, ela brota tipo o Mestre dos Magos.

E me tira da inércia, me espinha com suas urtiguices, me chacoalha no samba, me traduz o mundo. Para o sem-freio aqui, isso significa até mesmo avaliar se uma atitude, manifestação ou texto estão adequados.

Este aqui vai ser publicado sem o selo Urtigão de adequação: não passou por ela. Mas as pessoas de segurança também servem para isso: nos dar segurança para que possamos ser quem somos.

Obrigado, Isa, por ser minha pessoa de segurança!


sábado, março 16, 2024

sexta-feira, março 15, 2024

Do neida

Do neida, toalhas desbordadas.
Do neida, lágrimas quentes.
Do neida, dor lancinante.
Do neida, no colo da filha.
Do neida, cama, pão, salame.
Do neida, torto na rua.
Do neida, cruzando a noite.
Do neida, pobre(s) criatura(s)
Do neida, xeque-mate com água.
Do neida, droga e salada.
Do neida, tecnobloco no pique.
Do neida, bafejo do samba.
Do neida, colchão e tapete.
Do neida, minha toca.
Do neida, eu e eu.
Do neida, do neida...



quinta-feira, março 14, 2024

É doido, né, Lari?

Do nada, apareço
Um dia anverso,
Outro do avesso.

quarta-feira, março 06, 2024

Fernet-Cola (editado)

Até ontem eu dizia que não estava pronto para qualquer coisa que não fosse suave e na rua, vendo a paisagem passar, talvez num barzinho destes de calçada.

Mas então a Isabel me levou a um boteco na Praça Garibaldi, arrisquei entrar pra um pipizinho, e a primeira bafejada de samba, ouriço e suor na fuça funcionou como um jato de Jimo Penetril Desengripante em uma sólida engrenagem Klingelnberg, que só estava meio enferrujada, mas era feita do mais resistente aço alemão, dotada de um mecanismo preciso para rodar no ritmo do samba, do Fernet-Cola e do Xeque-Mate.

Então, eu olho em volta e, do neida, beijo triplo, quádruplo, os caras, as minas, elus todes... E era como se eu tivesse dado 20 voltas ao mundo e chegado no mesmíssimo 15 de novembro de 2003, logo depois do primeiro beijo que definiu duas décadas de vida. Assim, descrevi, no post sobre essa conquista, o momento que a sucedeu, na buate, com as amigas:

_Beija, beija, tá calor, tá calor! Baba, baba, sem amor, sem amor! Lambe, lambe, sem pudor, sem pudor!_

Agora na Praça Garibaldi, era como se nada tivesse mudado, senão eu. Como se eu tivesse saído da festa na Plataforma 15 de Novembro, embarcado no metrô, vagado vinte anos pela cidade com ela, depois com nossos pequenos, e sido expelido na mesmíssima plataforma. E ali estavam todos os brincantes, ainda me esperando.

Quando desembarquei, quem me deu a mão foi bem a amiga que deu tchau e desejou tudo de bom e de melhor em 2003.

-Foi bom o rolê? Também dei uma voltinha, mas eles ainda estavam aqui, nos esperando...

Obrigado, amiga.

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(Para o post original, voltar a dezembro de 2003)