Retrato da Cultura Gaúcha, parte II
Saímos, portanto, Marco e eu, do cinema. Vamos dar uma olhada na casa, ver se tem uma exposição legal, cara (nenhum amigo em volta para fazer piada de homossexual).
Procuramos um painel com a programação. Nada. Dirigimo-nos à recepção. Três funcionárias conversavam. Públicas, as funcionárias, uma delas bem atirada em frente ao ventilador, uma folha de ofício como leque e eu ia dizer que, as pernas bem abertas, sacudia a saia para arejar a bem-quista, mas vai que não passa de imaginação minha...
- Oi, tu tens aí a programação?
- Que programação?
- Da casa, uai! - (Uma prima, a Bruna, usa “uai”. A Priscila Montandon deve usar “uai”. Adoro “uai”, mas só tenho coragem de usar no MSN – e no blógui, agora).
- Não, não tem programação. Tem que olhar aqui (abre uma pasta daquelas que as gurias têm no colégio, cheias de plástico, com os nomes das exposições e dos artistas).
- Não tem fôlder?
- Que que é folder? – tá, isso é mentira.
Começamos pela mostra de fotos alusiva aos 50 anos da Arfoc, que é a Associação dos Repórteres Cinematográficos e Fotográficos, mas devia ser só dos Fotógrafos e Cinegrafistas, porque pá puta quiu pariu com o politicamente correto. Os papéis fotográficos eram colados direto em um painel, nem uma moldurinha nem nada, como em exposição trabalhos de segunda série do primeiro grau – em colégio público. Umas fotos eram antigas e puídas, outras novas e lustrosas, umas eram lindas, outras horríveis, umas históricas, outras sobre a Expointer do Rigotto... e assim ia, não sendo.
Decidimos subir aos andares acima. Uma mostra do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Estado – o MAC, vocês sabem. Não, vocês não sabem. Nem eu sei. Ele não existe. Dizem que é no Cais do Porto. Aliás, maior que todos os poucos quadros expostos, tem na parede da Casa um mapa do museu. “MAC: um museu bidimensional”, devia ser o nome da obra.
À saída, demos de cara com uns poemas em folhas de ofício pendurados em um varal. Acho que era trabalho do pré-primário, mas o calor me impediu de checar. Tentamos ir adiante. Um dos elevadores do Mário (o Quintana, que nem te comeu atrás do armário) não funciona. O outro vai só até o penúltimo andar. Para o café e as exposições do topo, só de escada.
Mas se passa que, ao chegarmos lá, Marco e eu nos olhamos. Os corpos suados. Quarenta e cinco graus Celsius no Majestic. Descemos as escadas correndo, entramos no carro e enfim o paraíso, o ar-condicionado.