Imagina esta dança
Imagina... Todos nossos beijos apaixonados no meio das ruas, atravessados pelo ventinho da madrugada, sexos suarentos nas coxias da vida, vergonhas tuas por valsas (mal) dançadas por mim nos bailes, todos meus aplausos orgulhosos ao fim de todas as tuas apresentações, e sempre aquela vontade de gritar pra plateia: esta é a minha dançarina, minha! Imagina... todos os reveillons passados na praia, nossos filhos misturados, todas nossas brigas, todas as caipiras em mesas de plástico na calçada, todas as manhãs de domingo no cachorródromo, todos os mates jamais cevados, nossa paixão que nunca houve nem haverá bailando pelos ares, embalada pelo ventinho, dançando no vácuo do universo com todos os amores não vividos deste mundo! Imagina, Karine, que lindo, Karine...
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Lado A
Ela, numa tarde qualquer de pandemia, dançando sozinha no beco, tão alegre, tão solta, tão linda.
Ela, um boné, um headphone, uma rua. Ela, na parede do Ocidente, na parede do Babilônia, na parede. Ela, Meu Erro, palha mascada na tela, botoneira sem manual de instruções. Ela, preservando a intimidade da casa revirada (o que teria na gaveta da mesa de cabeceira?). Ela, "eu gosto de sexo", "eu fui fofa, mas", "eu quero me vulnerabilizar". Ela, toda palestrinha, toda sabida, toda sapiosexual, toda tdah, toda ah, andando e se equilibrando. Ela, um schnitzel, um stubb, um strudel, uma casinha bem longe desta rede. Ela, pensada, imaginada, amada e odiada no vácuo da minha mente.
Mas - fundamentalmente e sempre - ela, numa tarde qualquer de pandemia, dançando sozinha no beco, tão alegre, tão solta, tão linda, tão toa...