quarta-feira, novembro 09, 2005

Acabo de voltar de um jantar na casa de meus pais. Discussão braba – aliás, como só ocorrer - com o véio. Ele tentando convencer-nos, a mim e à minha irmã, de que futebol não era o esporte mais adequado para a constituição física feminina; nós tentando convencê-lo de que ele não passa de um conservador preconceituoso. Bronca vai, bronca vem, e eu me irrito. Penso em uma coisa que prove minha tese, mas, principalmente, que o agrida:
- Pois eu já beijei homens. Duas vezes – minto.
Silêncio.
- E foi bom? – pergunta, condoído, mas fingindo não ter se importado, o pai.
- Nem sei, tava chapado, deve ter sido – respondo.
- Mas foi só selinho? – pergunta nervoso, o pai.
- Não, de língua – provoco.
Não, não estou escrevendo este post para tanqüilizá-lo. Por mim, ele que pensasse a vida toda que eu fosse gay, para se lembrar, a vida toda, de que é um grande conservador. Só fiquei preocupado com a Alba, cozinheira lá de casa, que escutou o papo da cozinha e deve ter ficado apavorada, afinal, ela me criou, tem certa responsabilidade sobre minhas escolhas. Mãe e Maria, por favor, digam pra Alba que era mentira, tá, que eu não beijei homens, muito menos de língua, e portanto nem posso saber se foi bom. Também botem uma carta preventiva nas caixas de correio do prédio, dizendo que minha confissão foi apenas retórica e não tem correspondência na vida real, caso algum vizinho tenha escutado o bate-boca.
Mas voltando ao objetivo real do post, o ocorrido me deu uma luz incrível para entender a opção homossexual. Acho que nada é mais frustrante para um pai médio do que descobrir que um filho é bicha. E é simplesmente impossível que por trás de um gay não tenha uma pontinha de desejo de magoar o pai. Uma pontinha, que seja.
Bom, ao menos essa é uma verdade em se tratando dos gays que assumem publicamente sua condição, ou para os que, embora não o façam, fazem questão de dar pistas. Seguindo esse raciocínio, me parece que há uma grande diferença, um abismo causal, entre o gay assumido e o enrustido. Um precisa agredir os pais e a sociedade; o outro, não. Donde se pode concluir que viado, mas viado mesmo, é o enrustido. Aquele que dá, sem nem precisar agredir o pai. Dá porque gosta e porque quer. A bicha discreta é muito mais bicha do que a bicha louca.
O que não quer dizer que eu admire mais o gay discreto. Aliás, pelo contrário.

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