quinta-feira, janeiro 19, 2006

Winnie
Winnie tinha seis anos e cabelos angelicais. Era um doce de criança, um narizinho de batata misturado com ricos cachinhos louros. Morava com a mãe, a tia e a avó - todas muito insanas e muito bacanas - em um sobrado de classe média em um bairro de classe alta de Niterói. Era prima da minha então namorada Rebeca, com a família de quem passávamos uns dias no litoral carioca.
Foi me ver e Winnie se apaixonou por mim. Acho que com ela aprendi a gostar de crianças. Por causa dela, me dei conta que eu então já era um tio para a piazada. Pela primeira vez, estava mais para pai do que para irmão.
Não lembro bem como ela gostava de mim, as coisas que dizia. Sei que estava sempre às voltas, me convidava para brincar de boneca, pulava no colo, conversava, conversava, conversava e fazia bagunça na praia. Eu a levava para tomar banho de mar, ameaçava deixá-la sozinha no fundão. Ela andava na minha garupa na areia. Eu perguntava sobre bonecas e sobre brinquedos e fazia esforço para educá-la.
De repente, aquela menina, cujo súbito amor por mim impressionou a todos, passou a me odiar. Ódio mortal. Por nada. A família não entendeu. Eu tampouco. Fiquei muito constrangido, porque parecia que eu tinha maltratado o anjinho às escondidas. E não havia jeito de reconquistar a guriazinha. Quando fomos embora e ela tinha de voltar para o seu quarto - de onde temporariamente foi desalojada para dar lugar aos hóspedes - se negou.
- Só volto se alguém passar um aspirador pra tirar vermes deste quarto - disse no seu adorável sotaque carioca, externando todo o nojo que passou a nutrir por mim.
Nunca mais via a Winnie. Final do ano passado, me mostraram uma foto dela na formatura da Rebeca. Uma linda mulher de 16 anos, com um chapéu de caubói, e fazendo pose de sem-vergonha. Adorável e perigosa Winnie.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Tem algumas pessoas que marcaram bastante minha vida e, coisas da vida, de repente desapareceram. Gente que por alguns dias ou anos gostei demais. Amigos que hoje eu tenho tanta vontade quanto medo de rever: sei que será impossível encontrar neles traços das pessoas que amei. Porque as coisas são assim: passam.
Sexta-feira, dirigindo na free-way, em direção a Tramandaí, elenquei umas cinco figuras para citar aqui. Agora, me lembro apenas de três, melhor anotar logo antes que eu esqueça: João Pedro, Ana Gabriela e Winie. Não sei se já ou daqui a pouco ou amanhã, escreverei algo sobre cada um desses amigos que andam perdido pelo mundo, distantes, bem distantes da minha agenda telefônica.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Estou sem Internet. Problemas na conexão. Ou no modem? Ou no computador? Tá difícil postar.
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Diálogo:
- E aí, Pink? - faço um afago na cadelinha cujo nome é uma homenagem à estrela do último BBB.
- Sabe que esta bichinha, eu achei que ela ia se aquietar com a idade, mas continua danada, GIOVANI.
O grifo não é meu. É da dona do estacionamento mesmo. Como ela gosta de enfatizar meu nome, assim como quem se gaba de tê-lo decorado! Impressionante.
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Parece que ela já está recuperada do episódio do cheque. Depois de umas semaninhas nas quais o Giovani saía meio envergonhado, engasgado, da boca, minha amiga voltou à velha forma.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

(ainda sobre Suzy)

E o pior é que uma semana antes eu tinha ficado indignado com uma crônica da Martha Medeiros. A historinha era que ela parou na sinaleira e tinha uma moça chorando no carro ao lado e ela abriu o vidro e estabeleceu-se um papo emocionante. Algo como:
- Tu estás bem, posso te ajudar? - pergunta a colunista
- Não, precisa, vai passar - responde a "personagem", enxugando os olhos com as costas da mão e já esboçando um sorriso.
Enfim, uma historinha assim, comovente. E eu, que tenho um blógui pra abastecer, fiquei puto da vida porque essas coisas nunca aconteciam comigo. E com a desgraçada da Martha Medeiros, que tem uma coluna por semana, elas aconteciam bem na véspera de Natal. Com sorte assim, qualquer um poderia ser colunista.
Juro que foi isso que pensei...
É impossível achar cachorros em noites de Ano Novo

Esta coisa de Ano Novo ainda me deixa tenso. Seis da tarde e os caras, nervosos, sem saber o que fazer, pipocando foguetes a esmo – fico desnorteado. Para aliviar, dia 31, pouco antes das onze da noite, resolvi dar uma volta a pé pelas ruas de Tramandaí, pensar no sentido da vida.
O calcanhar para fora do chinelo encostando no paralelepípedo, só isso já me descarregaria. Mas ainda dava pra bisbilhotar cada uma das casas - de noite as ruas ficam escuras, e os lares, bem iluminados. As famílias, todas meio tristes, meio felizes, com seus dramas típicos e profundos, do tipo: será que esperamos a meia-noite para servir a ceia? Adoro isso!
Flanei livre pela praia, até ser interrompido por um casal. Portavam uma lanterna e estavam desesperados, o cara e a mocinha. Procuravam algo como se procura nos desenhos animados, de forma teatral, exagerada, absurda até. Perguntaram se eu não vira um cachorro, assim, tipo bege, uma foxezinha meio vira-lata, Suzy (por que diabos eu acho que é com “Y”?), bem velhinha. Respondi que os foguetes assustam os bichos e eu apostava que ela estava dentro do armário, como meu cachorro Platão costumava fazer. Mas eles não deram bola.
Continuei caminhando e a cada quadra vinha mais gente perguntar do cachorro - era mesmo um batalhão à caça de Suzy. Em frente à casa da fujona, uma menininha, uns 8 anos, chorava copiosamente junto a outras crianças. Tentei consolá-la, dizendo que enfim eu mesmo já tinha perdido dois cachorros, que eles normalmente são achados dias depois, que ela tivesse paciência. Nessa hora eu já havia me incorporado às buscas e também já tinha desistido delas, vocês sabem, é totalmente impossível achar um cão em noite de Ano Novo.
Triste com a fuga de Suzy, voltei para casa sem paciência para bisbilhotar lares. Caminhei, meio perdido (eu sempre me perco em Tramandaí), desolado. Foi então que, lá longe na esquina do armazém abandonado, distingui um bichinho. Corri, corri, corri, dobrei a quadra, e cheguei perto. Chamei: tstststststs, vem cá, tstststs, e o cãozinho veio. Com medo de ser mordido, peguei-o no colo. A cada foguete o pobrezinho tremia, e eu passava a mão no focinho, calma, calma, pronto, pronto. Suando de nervoso, voltei à casa da menininha chorona.
- Gente, se não for esta aqui, eu mato vocês – disse, inoportuno.
E a família veio abaixo, e as crianças se atiraram aos prantos em cima da cachorrinha, e as velhas vertiam lágrimas, e ninguém acreditava. Ficaram tão emocionados, que esqueceram até de me agradecer. Fiquei meio chateado, mas não tinha problema. Era quase meia-noite e eu voltei para casa feliz, me achando o anjo que saiu para fazer uma família feliz.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Teste. Ufa... achei que meu blógui tinha morrido. Sério.
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P.S.: "Ufa" é o tipo de palavra que só se fala em desenho animado e historinha em quadrinhos, né? Mais ou menos como "ei", de "ei, amigo, venha cá".
Tenho uma boa história pra contar. Mas, como não ganho pra isso e nem tenho prazos e cumprir, vou deixar pra depois. Quando tiver a fim, ou um pouquinho mais inspirado.