sexta-feira, março 13, 2015

Então, naqueles 6 dias que Deus tava lá, criando o mundo, que no sétimo ele arreou na rede, teve duas epifanias. Tu sabe, epifania, aquele momento em que tudo se ilumina e faz sentido e blablabla. Tipo assim: dois momentos em que Deus encontrou Deus. No primeiro, ele criou o figo. Já tava demais, os seres já tinham algo que lhes daria um gostinho da perfeição, da plenitude, do absoluto. Uma pista de que Ele mesmo existiu e não tava ali pra brincadeira. Tava bom, mas daí o Cara teve outra epifania e dela surgiu a mulher. Porra, Deus já tinha feito o figo. Daí, pá, fez mais umas coisinhas sem importância, e quando já tava quase vazando, o Cara fez a Mulher. Velho, não é que o Cara fez tudo; é que Ele fez o figo e a mulher! Daí, correu pro abraço, deslizou pra rede pra tirar uma torinha no Domingo e se consagrou. O Pinta era fodido na lança mesmo!


Pais e filhos


Hoje foi meu dia de levar o piá ao colégio. Ele recém entrou na primeira série do primeiro grau - agora diz ensino fundamental. Ainda está deslumbrado com o 'colegião'.
Cruzamos a catraca de entrada, e eu pensando... até quando?
- Meu filho, mais uns dias e já dá pra te deixar aqui na roleta, né?
- Acho que sim.
- Sabe como chegar na sala?
- Sei. Se tá sol é pra ir pro pátio de areia e se tá chovendo é na área de convivência - sim, ele disse 'área de convivência'.
Atravessamos o patiozão de mãos dadas. E eu pensando... até quando?
Assim que chegamos à entrada do pátio de areia, o João sussurra.
- Pai, olha ali a Ana...
Aqui um parênteses. Em três semanas de escola, o guri já se apaixonou por três colegas. Primeiro a Rafa, depois a Lavínia, e agora a Ana. Quando penso nisso, me dá um orgulho. Garanhão! Mas daí me reprimo. Pensamento sexista! E se ele for gay? Só fala nas gurias, nunca nos guris. Se ele for gay, tudo bem, se ele for gay, tudo bem... fico me repetindo.
Olho pra Ana, magrinha, pequenina, duas caxuxas laterais. Está com medo de ir sozinha pro pátio de areia, enrabichada nas pernas dos pais. Olho para eles, esperando uma cumplicidade que não vem. 
- Então, esta é a famosa Ana?
- A-han. E esse é o João gremista?
- É!
O guri me dá um abraço apertado, de 20 segundos. Diz que me ama. Dá beijo. Às vezes ele faz isso. Fico pensando: será que vou morrer hoje? Ele previu algo? Por que esse abraço tão caloroso, assim, do nada? Até quando?..., eu penso.
Fico tonto com o abraço, com o beijo. Quando ergo a cabeça, ele já está dois metros longe. Deu a mão pra Ana. Eles se afastam no pátio de areia. De costas. Cada vez menores. Mãos dadas. Não olham pra trás. E é tão lindo! 
Viro de costas e me vou. Sim, ele previu. Eu morri um pouco hoje. E também morri de amor!

Te amo, meu filho!!!